VIDA URBANA
Morre 11ª mulher vítima de violência
Érica Vanessa Lira foi a 11ª mulher assassinada neste ano, na Paraíba segundo dados do Centro da Mulher 8 Março.
Publicado em 06/05/2014 às 6:00 | Atualizado em 29/01/2024 às 12:39
O corpo da bacharela em Direito Érica Vanessa Lira começou a ser velado no início da noite de ontem em João Pessoa. Por quatro horas, amigos e familiares se despediram da jovem durante uma cerimônia que ocorreu em uma funerária da capital.
Por volta da meia-noite, o corpo foi encaminhado para Cajazeiras, cidade natal da vítima, onde será sepultado às 16h de hoje. Ela foi a 11ª mulher assassinada neste ano, na Paraíba, segundo dados do Centro da Mulher 8 Março. Neste período, ainda foram registrados 12 estupros, 26 agressões físicas e 16 tentativas de homicídios.
A jovem, de 31 anos, morreu por volta das 11h20 da manhã de ontem, após permanecer internada durante 11 dias no Hospital de Emergência e Trauma na capital. Érica foi atingida por um tiro no rosto, e o acusado do disparo é o namorado, no dia 26 de abril deste ano.
Segundo a polícia, o acusado do crime é o também bacharel em Direito José Itamar de Lima Montenegro Filho. Ele está preso no 5º Batalhão de Polícia Militar, em João Pessoa. Com a morte da vítima, o inquérito será alterado e Itamar responderá por homicídio doloso (em que há intenção de matar).
O médico e diretor técnico do Hospital de Emergência e Trauma, Edvan Benevides, disse que a causa da morte só será revelada pelo Instituto de Polícia Científica (IPC), após o corpo ser necropsiado. No entanto, ele antecipou que o óbito foi causado pelos ferimentos feitos pelo tiro no cérebro. “O projétil entrou pela região nasal (nariz) e se alojou na coluna, atingiu os dois hemisférios do cérebro. Com isso, ela teve edemas no cérebro e aumento na pressão intracraniana. Érica teve hemorragia e começou a perder massa encefálica pelos orifícios auriculares”, explicou.
O especialista também destacou que, devido à gravidade do ferimento, a jovem possuía 80% de chance de morrer logo nas primeiras 12 horas após o disparo. “A nossa equipe fez tudo que era possível para evitar a morte. A paciente fez hemodiálise, reposição sanguínea, passou por alguns procedimentos neocirúrgicos para diminuir a pressão intracraniana e chegou até a apresentar melhoras em seu quadro clínico. Mas o estado era muito grave”, lamentou Benevides.
O médico ainda observou que, mesmo que conseguisse sobreviver, Érica apresentava sério risco de ficar com sequelas permanentes. É que o disparo atingiu áreas consideradas essenciais do corpo. “A gente não tinha ideia do tamanho da sequela que poderia ficar. O projétil atingiu o cérebro e se alojou na coluna. A paciente poderia ficar sem falar e até sem ter movimentos do pescoço para baixo. Existia uma probabilidade muito grande de ocorrer grandes sequelas neste caso”, disse.
O ACUSADO
Em depoimento prestado à polícia, José Itamar de Lima Montenegro Filho alegou que o tiro foi acidental e teria ocorrido durante uma discussão com a namorada. A delegada que investiga o caso, Roberta Neiva, disse que vai fazer uma alteração no inquérito. “Com a morte da vítima, ele deixará de responder por tentativa de homicídio para responder por homicídio consumado. Mas isso não altera em nada a questão da prisão. Ele está cumprindo prisão preventiva e continuará preso até a Justiça conceder a liberdade”, disse.
Na semana passada, peritos do IPC realizaram uma perícia no apartamento de Érica, com o objetivo de traçar a trajetória do disparo e analisar as circunstâncias em que ocorreram o tiro. A previsão é que o resultado dos trabalhos seja divulgado nos próximos 10 dias. “Os laudos serão encaminhados diretamente para o poder judiciário, porque eu vou concluir o inquérito e apresentar ao Ministério Público até a próxima quarta-feira.
Estou convencida de que ele atirou porque quis. Ele é muito frio.
No depoimento, ele não esboçou qualquer sentimento pela vítima”, disse Roberta.
Já parentes e amigos de Érica desconfiam que o disparo ocorreu por motivos financeiros. Segundo a tia da jovem, Ana Dantas, Itamar já havia colocado à venda um carro que pertencia a Érica. Com a voz embargada, o irmão da vítima disse que o sentimento da família é de revolta. “Minha irmã era cheia de vida, queria fazer concurso, ter uma carreira. Não merecia morrer assim”, disse.
CENTRO 8 DE MARÇO
A coordenadora do Centro da Mulher 8 de Março, Irene Marinheiro, destaca que as mulheres precisam conhecer o passado do homem antes de iniciar um relacionamento amoroso.
“É preciso que as mulheres procurem saber se o homem, com o qual desejam iniciar uma relação, possui um passado de agressões. Esse cuidado deve ser adotado porque os homens que já agrediram mulher uma vez costumam repetir e podem até chegar ao extremo de matar”, afirmou.
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