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VIDA URBANA

Museu do Semi-Árido aponta grave degradação na Caatinga

Paraíba tem atualmente cerca de 50% do bioma Caatinga em estado de degradação e pede “socorro”.

Publicado em 16/11/2008 às 8:31

Rodrigo Apolinário
Do Jornal da Paraíba


A Paraíba tem atualmente cerca de 50% do bioma Caatinga em estado de degradação e pede “socorro”. Os dados são do último levantamento feito pelo curador do Museu Interativo do Semi-Árido (Misa), situado em Campina Grande, o doutor em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) Daniel Duarte Pereira. Conforme ele, dos 44.972,99 km² que o bioma tem no Estado, o equivalente a aproximadamente 22 mil km², que correspondem às regiões do Cariri, Curimataú e Seridó do Estado, aparecem em processo de desertificação.

A média nacional é de 60% do bioma, segundo dados do Conselho Nacional de Reserva da Biosfera da Caatinga (CNRBC). As causas desse resultado seriam a “pecuarização” (desflorestamento para a criação de animais), a “agriculturização” (retirada da mata para o plantio de culturas específicas, como milho, feijão, entre outros), e a urbanização, promovendo, em especial, a abertura de estradas.


Segundo o pesquisador, um dos mais graves causadores da degradação da caatinga é a “pecuarização”. “O que nós percebemos é uma quantidade muito grande de animais por unidade de área. Para tanto, os pecuaristas desflorestam essas áreas, colocam os seus animais e não promovem a reposição das plantas, não cuidam do espaço como um antigo local de grande riqueza. E o pior, mesmo que façam essas ações, o bioma Caatinga é uma construção ambiental que iniciou há cerca de dez mil anos atrás, por isso é importante ter muito cuidado. Já são cerca de 50% das terras em processo de desertificação na Paraíba”, ressaltou.

Mas a ‘agriculturização’ e a ‘urbanização’ também contribuem gravemente para esse resultado. “Tanto o desmatamento para o plantio de culturas específicas como milho, feijão, palma, entre outros, chamada de ‘agriculturização’, quanto a urbanização que promove a abertura de estradas, o loteamento de terras, muitas vezes sem o cuidado ambiental necessário, também promovem a degradação da caatinga. É necessário estimular o melhor contato do homem com esse bioma”, apontou Daniel Duarte.

Outro grande problema é a má distribuição das chuvas nas áreas em que está situada a caatinga. “Apesar das pessoas dizerem que a caatinga está localizada num ambiente extremamente frágil, ela tem um poder de recuperação muito grande. Porém, existe a fragilidade, porque apesar da chuva ser suficiente para a vegetação que existe, ela é mal distribuída. Esse é o grande problema do clima semi-árido, que acontece em boa parte do ambiente de caatinga. Nesse contexto, uma chuva de cerca de 500 milímetros é suficiente para a vegetação, bem como a formação de pasto, o cultivo de milho, feijão, mas não cai de forma regular entre as áreas, o que faz com que algumas regiões tenham água com freqüência e outras sofram com a seca”, apontou.

Para o pesquisador, essa realidade gera problemas econômicos e sociais. “Com o processo de desertificação nós percebemos a ampliação do êxodo rural e o declínio do desenvolvimento econômico dessas regiões, cujos moradores ao perceberem o desgaste da terra, a abandonam perdendo posses, bem como não estimulando a área para uma utilização sustentável, no âmbito econômico e ambiental”, destacou.

Segundo o Conselho Nacional de Reserva da Biosfera da Caatinga (CNRBC), o bioma Caatinga está distribuído em áreas de dez Estados brasileiros, sendo nove do Nordeste e um do Sudeste. São eles: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais. Ele é dividido em oito ecorregiões. São elas: Depressão Sertaneja Setentrional (que correspondem a áreas de RN, CE, PI e PE); Depressão Sertaneja Meridional (PB, PE, AL, SE, BA, MG); Planalto da Borborema (RN, PB, PE, AL); Complexo da Chapada Diamantina (BA); Complexo de Campo Maior (PI); Complexo Ibiapaba-Araripe (PI, CE, PE); Dunas do São Francisco (BA, PI); Raso da Catarina (BA, PE). Na Paraíba, as regiões do Seridó, Curimataú, Agreste e Cariri, possuem áreas no Planalto da Borborema; o Sertão e o Cariri estão também em parte da Depressão Sertaneja Setentrional; e outro pedaço do Cariri está na Depressão Sertaneja Meridional.

No Brasil, como as pesquisas sobre o bioma Caatinga são recentes, ainda não se tem definida, de forma exata, a sua extensão. Segundo dados do Conselho Nacional de Reserva da Biosfera da Caatinga (CNRBC), ele corresponde ao espaço que varia entre 955.755,79 km² e 1.037.517,80 km² do território nacional que é de 8.514.876 km², o equivalente a cerca de 12%. Já o Ministério do Meio Ambiente aponta que o tamanho do bioma é de 844.453 km², o equivalente a cerca de 11% do país.

Leia mais na edição deste domingo do Jornal da Paraíba

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