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VIDA URBANA

Negras sofrem mais violência

Dados são do Centro de Referência da Mulher apontam para alto índice de violência entre mulheres negras na Grande João Pessoa.

Publicado em 25/07/2014 às 6:00 | Atualizado em 07/02/2024 às 11:05

Em todo o ano passado, 355 mulheres foram vítimas de violência na Região Metropolitana de João Pessoa, das quais 70,7% - o equivalente a 251 – eram negras. Os dados são do Centro de Referência da Mulher da capital, que reiterou a preocupação com relação à vulnerabilidade da mulher negra. Segundo a psicóloga Francinete Fernandes, apesar da cor da pele nem sempre estar ligada aos casos que chegam ao Centro, essa é uma questão ainda delicada e presente.

Para a psicóloga, o crescente número de mulheres negras que chegam até o Centro relatando casos de violência doméstica reflete, também, uma parcela consciente dos seus direitos. Para ela, a cor da pele não traz distinção, visto que a vulnerabilidade delas está presente primeiramente no fato de elas serem mulheres. “É uma incidência realmente grande de casos de mulheres negras, mas nós não fazemos essa associação. A violência que a gente assiste aqui não reflete a real. Sabemos que muitas mulheres ainda não procuram os serviços e se as negras procuram mais, isso transparece uma categoria que parece ser mais esclarecida, isso sim”, ressaltou.

Apesar de não possuir um levantamento específico do ano de 2014, o Centro de Referência da Mulher tem recebido cada vez mais vítimas na Grande João Pessoa. Para Francinete Fernandes, isso é reflexo de campanhas de conscientização, que tornaram os serviços de assistência mais visíveis.

Diferentemente de Fernandes, a coordenadora-executiva da Bamidelê - Organização de Mulheres Negras na Paraíba, Terlúcia Silva, acredita que no país haja uma “perpetuação do racismo – que define a pauperização da mulher negra, que limita o acesso a bens e serviços, que interferem na autoestima, que empurra para atividades ilícitas, uso de substâncias proibidas, entre outras”. Esse conjunto de fatores, para Terlúcia Silva, é muito mais incidente com relação às mulheres negras.

A falta de políticas públicas não somente para mulheres, mas para toda a população com o recorte racial negro, ainda é incipiente, havendo uma real carência com relação ao planejamento, criação e implementação de maiores direitos, segundo Terlúcia Silva. “Há grande invisibilidade desse segmento da sociedade nos processos de criação e implementação das políticas públicas. Inclusive os números são específicos, tendo em vista que não há esse recorte de mulheres negras nos dados oficiais”, disse.

“Apesar de haver gerências que tratem das questões raciais na Secretaria da Mulher e da Diversidade Humana e uma Coordenadoria de Promoção da Cidadania LGBT e da Igualdade Racial, isso não responde às demandas específicas das mulheres negras, porque esse recorte deveria ser dado nas políticas desenvolvidas em todas as áreas”, asseverou.

Segundo a coordenadora do Bamidelê, a população negra já ganhou espaço ao longo dos anos, algo que se deve admitir, porém algumas reivindicações continuam na pauta de lutas. São elas o racismo, machismo, a pobreza e desigualdade social e econômica, salários abaixo das demais pessoas, a posição de inferioridade, uma desconstrução da imagem negativa da pessoa negra, especialmente da mulher negra, entre outros.

Dia de luta pelos direitos. Hoje é comemorado o Dia da Mulher Negra no Caribe e na América Latina, um dia considerado como marco internacional escolhido pelas mulheres negras no ano de 1992. “Nós do Bamidelê vamos às ruas hoje, realizando pela 15ª vez o evento do 25 de julho", afirmou Terlúcia Silva.

O evento marca a data a partir da qual o dia começou a ser comemorado no país, no dia 25 de julho de 1999. E, para lembrar o dia e chamar as mulheres negras da capital a lutar pelos seus direitos, será realizado, no Parque Solon de Lucena, localizado no Centro da capital, o lançamento da 'Marcha das mulheres negras contra o racismo, a violência e pelo bem viver'. Essa marcha será realizada em 2015, em Brasília. O lançamento da marcha começará às 16h.

Conforme a secretária da Mulher e da Diversidade Humana da Paraíba, Gilberta Soares, a política de identidade negra tem sido uma prioridade na gestão atual. “A preocupação da valorização e do respeito à imagem da mulher negra é uma grande preocupação nossa, que com publicidades e materiais do governo tentamos opor as imagens dos estereótipos que reproduzem a lógica racista e machista”, disse, reconhecendo que as negras são uma parcela vulnerável da sociedade, sendo ainda parcela considerável que não tem acesso a direitos básicos como educação.

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Jornal da Paraíba

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