VIDA URBANA
Número de casos de sífilis aumenta mais de 350% em um ano
Registros saíram de 66 para 298 em um ano, em João Pessoa. Sexo sem prevenção e maior oferta de testes foi o motivo, diz SES.
Publicado em 05/03/2016 às 7:00
Os casos positivos de sífilis aumentaram 351,5%, em João Pessoa, saindo de 66 registros, em 2014, para 298, em 2015. Os dados são do Centro de Testagem e Aconselhamento em DST/Aids (CTA) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Outras Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) também registraram aumento no diagnóstico, a exemplo do HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) e Hepatite C. A causa apontada pelo CTA para o crescimento dos casos é resultado da combinação entre sexo sem prevenção e maior oferta de testes.
Entre 2014 e 2015, o CTA realizou 8.309 testes rápidos apenas para detectar os casos de sífilis, também registrando aumento de exames de um ano para outro, já que passou de 3.418, no primeiro ano, para 4.891 no ano passado. Um crescimento de 43,1%.
Na mesma tendência, o número de testes e resultados positivos para outras DSTs também tiveram elevação, como o do HIV que em 2014 teve 7.315 exames, dos quais 77 resultaram em positivo. Já no ano passado, dos 8.062 testes realizados, 123 foram reagentes à doença. No período, o crescimento de casos diagnosticados foi de 59,7%, ocupando o segundo lugar no ranking de resultados positivos entre as DSTs.
Em seguida aparece a Hepatite C, com 50% registros a mais, já que em 2014 foram 12 diagnósticos, dos 3.123 testes realizados, enquanto que em 2015, dos 5.619 exames, 18 tiveram o resultado positivo. Apenas os casos de Hepatite B tiveram queda, saindo de 14 diagnósticos, em 2014, quando foram realizados 4.675 testes, para 11 diagnósticos, no ano passado, quando houve 1.262 exames para a comprovação da doença.
Para a chefe da seção de DST, Aids e Hepatites Virais de João Pessoa, Clarisse Rocha, o aumento dos números se deve ao comportamento das pessoas durante as relações sexuais, já que muitas estão deixando de se prevenir com o uso da camisinha, e também devido à uma maior oferta de testes para diagnosticar as doenças. Os testes rápidos são realizados por meio de uma pulsão no dedo e feitos sem a necessidade de encaminhamentos (demanda espontânea). O resultado é obtido em, no máximo, 30 minutos.
“Hoje, os exames de HIV, sífilis e Hepatites B e C estão com uma maior oferta, podendo ser realizados nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), Unidades Especializadas e nos Centros de Atenção Integral à Saúde (Cais) do Cristo Redentor e Jaguaribe. Além disso, o número de reagentes também aumentou porque as pessoas estão relaxando mais em relação ao uso da camisinha, baixando a guarda por confiarem no tratamento das DSTs, contribuindo assim para maior incidência dessas doenças. A Sífilis vem crescendo em todo país devido ao sexo de múltiplos parceiros e sem prevenção. As pessoas também são mais testadas. Antes não faziam os exames”, avaliou
Doença passa da mãe para o filho
O não tratamento em tempo hábil da sífilis pode resultar na forma congênita da doença, transmitida de mãe para filho durante a gestação ou parto, causando sérios danos à criança, inclusive a ocorrência de microcefalia, conforme a chefe do setor de DST, Aids e Hepatites Virais. “Nossa preocupação é a sífilis congênita, que entre os sérios danos que pode causar no bebê, é um dos fatores de risco para a criança ter microcefalia, devido ao comprometimento neurológico causado pela sífilis, independentemente do zika vírus transmitido pelo Aedes aegypti, além de cegueira, surdez e deformidades físicas”, alertou.
Desabastecimento
Outro agravante é o desabastecimento da penicilina, único antibiótico destinado ao tratamento da doença. “A falta da penicilina é uma realidade nacional, e na Paraíba não é diferente. Nesse momento, João Pessoa sofre o desabastecimento do remédio, pois já abrimos vários editais para licitação, mas por falta de quórum não foi realizada. Estamos aguardando uma remessa, a ser enviada pelo Ministério da Saúde e que deve chegar no próximo mês de abril. Enquanto isso estamos tentando novas licitações”, afirmou.
Em algumas farmácias convencionais da capital, a penicilina pode ser encontrada na forma de Benzetacil, ampola, pelo custo médio de R$ 10.
Ministério da Saúde
Por meio de nota, o Ministério da Saúde (MS) informou que fechou a compra de 2,7 milhões de frascos de penicilina, neste mês, para abastecer emergencialmente os Estados, e os primeiros lotes devem chegar ao país ainda este mês. A pasta reforçou que o problema de desabastecimento é global e deve-se à falta da matéria-prima, produzida apenas na China e na Índia.
Sobre o aumento no número de casos, a nota destacou que a melhoria da vigilância resultou em mais confirmações das doenças, assim como a melhoria de diagnóstico, após o início da utilização dos testes rápidos. Em 2015, segundo o MS, foram distribuídos 6,1 milhões de testes rápidos para sífilis, contra 2,9 milhões em 2013 e 31,5 mil em 2011. “Uma mudança no comportamento sexual da população também ajuda a explicar o aumento de casos. De acordo com a Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População Brasileira, divulgada em janeiro do ano passado, 45% da população sexualmente ativa do país não havia usado preservativo nas relações sexuais casuais nos últimos 12 meses. Esse percentual era 52% em 2004”.
ENTENDA A SÍFILIS
O que é?
Sífilis é uma doença causada por uma bactéria chamada Treponema pallidum, transmitida durante a relação sexual (vaginal, anal e oral) ou por via sanguínea, e é um mal silencioso que requer cuidados, pois após a infecção inicial, a bactéria pode permanecer no corpo da pessoa por décadas para só depois manifestar-se novamente.
Consequências
Quando não tratada nas fases iniciais, pode trazer grandes comprometimentos, principalmente quando chega a fase terciária e final, como o comprometimento neurológico, cardíaco e outras complicações.
Saiba quais são os estágios da doença
Primeiro estágio
A sífilis primária apresenta feridas indolores no local da infecção, que desaparecem em cerca de quatro a seis semanas depois, mesmo sem tratamento. A bactéria torna-se dormente (inativa) no organismo nesse estágio.
Segundo estágio
Já a sífilis secundária acontece cerca de duas a oito semanas após as primeiras feridas se formarem, mas aproximadamente 33% daqueles que não trataram a sífilis primária desenvolvem o segundo estágio, quando o paciente pode apresentar dores musculares, febre, dor de garganta e dificuldade para deglutir. Esses sintomas geralmente somem sem tratamento e, mais uma vez, a bactéria fica inativa no organismo.
Estágio latente
É o período correspondente ao estágio inativo da sífilis, em que não há sintomas. Esse momento pode perdurar por anos sem que a pessoa sinta nada. A doença pode nunca mais se manifestar no organismo, mas pode ser que ela se desenvolva para o próximo estágio, o terciário, final e mais grave de todos.
Terceiro estágio (final)
Este é o estágio final da sífilis. A infecção se espalha para áreas como cérebro, sistema nervoso, pele, ossos, articulações, olhos, artérias, fígado e até para o coração. Aproximadamente 15% a 30% das pessoas infectadas não tratadas desenvolvem o estágio terciário da doença.
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