VIDA URBANA
Número de doadores ainda é pequeno
Recusa das famílias de potenciais doadores é um dos grandes problemas enfrentados pela captação de órgãos na Paraíba.
Publicado em 10/12/2013 às 6:00 | Atualizado em 04/05/2023 às 16:19
O número de doadores de órgãos na Paraíba está distante de acompanhar o ritmo da fila de espera de quem precisa de um transplante. Dados da Central de Transplantes do Estado, serviço mantido pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), revelam que das 129 pessoas aptas à doação, apenas 16 delas tiveram o procedimento efetivado, o que representa 12% do total.
Apesar de ainda ser pequeno, o total de doadores aumentou nos últimos 2 meses em relação aos cadastrados até setembro deste ano. Um relatório da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) que coletou dados desse período, revelou que havia 111 potenciais doadores na Paraíba.
Destas pessoas, também 16 candidatos cederam um ou mais órgãos.
Segundo informações da chefe de Ações Estratégicas da Central de Transplantes, Mryriam Carneiro, as pessoas classificadas como potenciais doadores são os pacientes que se encontram em estado clínico em que pode ser aberto o protocolo com diagnóstico de morte encefálica.
“Desses pacientes, 55 foram elegíveis (realizaram os três exames obrigatórios, foram clinicamente e legalmente declarados como morte encefálica). O restante (74), não fecharam o protocolo por vários motivos, como contraindicação médica ou parada cardíaca antes da conclusão do processo”, esclareceu.
Ainda segundo Myriam Carneiro, das pessoas elegíveis, apenas 16 puderam doar um ou mais órgãos para pacientes da Paraíba e também de outros estados. Já os 39 doadores restantes não tiveram o transplante efetivado, sendo a maioria por motivo de recusa familiar. “Como não é mais preciso declarar que é doador no documento de identidade, só a família pode autorizar a doação de órgãos”, explicou.
De acordo com os dados da Central de Transplantes, dos doadores que não efetivaram o transplante, 24 não foram autorizados pela família, seis não estavam em condições clínicas, quatro sofreram parada cardíaca antes da remoção dos órgãos e três apresentaram sorologia positiva.
Para Myriam Carneiro, o desconhecimento da legislação pode ser considerado um fator para que as famílias desautorizem a doação de órgãos.
“Como causas de recusa das famílias, ressaltamos o desconhecimento do desejo do falecido de ser doador, medo do corpo ficar deformado, questões religiosas (ressuscitar com todos os órgãos), não acreditar em morte encefálica e não ter tido um bom acolhimento médico-hospitalar".
FILA DE ESPERA TEM 480 PESSOAS
Aos 36 anos, Cristiano Araújo faz hemodiálise três dias por semana. Ele conta que teve o funcionamento dos rins prejudicados após exagerar na ingestão de creatinina (um tipo de proteína) e há 3 anos sofre de complicações renais. O aposentado integra o total de 480 pessoas na Paraíba que esperam por um transplante de órgãos, conforme dados da SES.
“Tenho dois irmãos que podem doar, mas ainda estou na fila porque somente um hospital realiza o transplante de rim. Tenho esperança de conseguir minha cirurgia ano que vem”, disse.
Além de Cristiano Araújo, mais 325 pessoas esperam por um rim no Estado. A relação de pacientes continua com os que precisam de transplante de córnea (150), fígado (3) e pâncreas (1).
De acordo com informações da Central de Transplantes, de janeiro até novembro deste ano foram realizados 204 transplantes na Paraíba, sendo 154 de córnea e 50 de rins.
Segundo Myriam Carneiro, o transplante de rim é realizado apenas no Hospital Antônio Targino, em Campina Grande. “Pelo número da população da gente não há essa necessidade urgente, ainda, de aumentar a equipe. Por isso que só tem nesse hospital. Mas, as diálises são realizadas em todo o Estado em hospitais do SUS e clínicas conveniadas”, explicou.
Já o transplante de córnea é realizado em clínicas e hospitais particulares e, em João Pessoa, o procedimento também é realizado no Hospital Édson Ramalho, no bairro Treze de Maio.
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