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VIDA URBANA

O milagre da segunda chance

Relatos de experiências pessoais de 'quase morte' reacendem debate sobre, fé, religiosidade e ciência.

Publicado em 27/04/2014 às 6:00 | Atualizado em 29/01/2024 às 12:20

Há quem acredite em milagres pela simples crença de que uma força maior atua na vida de tudo e de todos. Outros tiveram a experiência de um verdadeiro milagre acontecendo em suas vidas, quando conseguiram vencer uma situação dramática, como a própria morte. Quem teve a experiência do coma, um estado de inconsciência que dura mais de seis horas, acredita hoje que os acontecimentos que nos cercam não são por acaso, mas que de uma maneira ou de outra, algo nos leva a viver aquelas situações, quer sejam elas surpresas agradáveis ou muito tristes.

Será que é possível explicar a negação de todos os sinais vitais de uma pessoa, quando essa pessoa ainda continua em um estado de consciência? É possível explicar como uma pessoa considerada morta, pode retornar à vida?
Para os médicos que atenderam o cineasta e produtor Carlos Alberto Alves Souza, conhecido em Campina Grande, onde mora, pelo apelido de “Xapeu”, hoje com 63 anos, a Medicina não conseguiu explicar o que aconteceu com ele há 24 anos.

“Quando acordei, pedi água e o médico, que estava tirando as luvas porque acreditava que não tinha mais o que fazer para me salvar, deu um pulo de susto”, recorda o cineasta, de forma divertida.

Em janeiro de 1990, ele e mais três colegas de trabalho retornavam do município de Boqueirão durante a madrugada, quando um motorista alcoolizado colidiu com o carro que dirigia e quase tirou sua vida. Todo o lado esquerdo do corpo de Xapeu foi atingido, causando ferimentos sérios e em órgãos vitais. Ele contou que apenas no fêmur, o osso mais longo e pesado do corpo humano, localizado na perna, foram cerca de 300 fraturas.

“Eu gritei que o carro iria bater em nós e me lembro do barulho da pancada, e depois de estar deitado no chão, ouvindo o que as pessoas diziam, mas não conseguia me mexer. Estava sem entender nada, mas ouvi alguém dizer: não mexam nesse aí, ele já está morto. Então forcei e consegui soltar um ruído e me levaram para o hospital”, contou.

O pequeno barulho foi a primeira reação que o salvou de ser desacreditado, mas o cineasta ainda enfrentaria outros obstáculos durante os 6 dias que esteve em coma induzido. No hospital, depois de três paradas cardíacas, o cineasta teve embolia pulmonar, quando as artérias ou veias do pulmão ficam obstruídas por coágulos, e foi considerado, mais uma vez, morto.

“A médica não teve coragem de dizer a minha mulher que eu tinha morrido, porque ela estava sozinha e convocou a família, dizendo apenas que meu estado era grave, mas daí viram que saíam lágrimas dos meus olhos e chamaram a equipe médica novamente para tentar me salvar. Em mais uma tentativa, os aparelhos pararam de mostrar meus sinais vitais”, continuou.

Pela última vez, a equipe tentou e quando acreditava que já não tinha mais jeito, o paciente pediu água. A partir de então, Xapeu ficou 6 dias em coma induzido e foi durante esse tempo que ele teve experiências que considera espirituais. “Eu me lembro que acordei como num sonho e vi que as minhas duas mãos estavam amarradas por causa do sangue e do soro e pedi para me soltarem. Eu vi uma enfermeira dos olhos verdes, brilhantes como nunca vi, e ela me desamarrou, mas o interessante é que ninguém sabia quem era essa mulher no hospital. Nesse processo do despertar eu também vi um menino, de seus 12 anos, que sempre quando eu abria os olhos estava em pé, olhando para mim e sorrindo, como quem dizia: escapou dessa, se cuida agora. Mas nenhuma criança era permitida entrar na UTI”, disse, pensativo.

Depois de 3 meses internado e 2 anos de recuperação, o cineasta e produtor voltou às atividades normais do dia a dia, com algumas sequelas, como a diferença de seis centímetros entre uma perna e outra, que para ele não são absolutamente nada, a não ser o que ficou como prova de um verdadeiro milagre.

“Os médicos disseram que eu estava morto, que aquilo não tinha explicação, mas eu acredito que tudo nessa vida está escrito e que a gente não passa por uma situação difícil sem que haja um propósito mais importante”, disse ele, que ainda sonha em montar um abrigo para crianças órfãs. “Quem sabe esse sonho não esteja mais próximo do que eu imagino. Acho que só vou poder partir quando isso acontecer”, frisou.

COMA NÃO É UM SONO PROFUNDO

De acordo com o neurocirurgião do Hospital Regional de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, em Campina Grande, Amauri Pereira, quando o paciente em coma tem consciência do que acontece em sua volta ou consegue ter sonhos, mesmo sem conseguir se manifestar de forma física, ele geralmente não se encontra em um coma profundo e, dessa maneira, são muitas as chances dele conseguir se recuperar, mesmo restando as sequelas. Ele também informou que, diferente do que acontecem em filmes fictícios, é muito raro uma pessoa se manter em coma durante anos.

“Não existem estudos científicos que comprovem o que acontece durante o coma, mas o que a gente sabe é que o coma não é tão profundo quando o paciente tem uma percepção do ambiente.

Se o estado será reversível ou não, vai depender da causa que provocou o coma, se foi por um acidente, por exemplo, isso é o mais importante e vai nos dizer quais são as perspectivas de recuperação”, explicou.

Conforme disse, o coma é um rebaixamento do nível de consciência. Em muitos casos, é um tempo que o cérebro dá a si mesmo para se recuperar, e ao contrário do que muitos pensam, não se trata de um sono profundo.

POR UMA VIDA MAIS ESPIRITUAL

Acostumada a ser independente e autossuficiente, especialmente no trabalho, a delegada da Polícia Civil Josefa Alves, de 57 anos, se viu limitada e completamente fragilizada fisicamente quando o resultado negativo de uma histerectomia (cirurgia que retira parcial ou totalmente o útero) a deixou em coma por 50 dias, em outubro de 2005. Hoje, recuperada do maior susto da sua vida, ela contou que entende que as pessoas precisam ter uma vida mais espiritualizada, com um ritmo de vida mais calmo, sempre olhando para tudo e todos de uma forma mais amorosa.

“Depois do coma foi difícil me recuperar e como eu não podia ficar de pé por muito tempo, houve um dia em que eu estava sentada no batente de um banco, aqui do Centro de Campina Grande, e olhei para o céu, observei as pessoas que passavam, o movimento de tudo e percebi como é bom viver, e como, às vezes, a gente não dá importância às coisas que realmente importam. Eu já tinha uma pequena compreensão disso quando eu procurei uma reposta espiritual depois da morte dos meus pais, mas eu precisei passar por essa experiência para entender melhor”, disse.

A delegada explicou que durante a histerectomia, que foi feita através de uma videolaparoscopia, uma técnica cirúrgica realizada por auxílio de uma endocâmera no abdômen, o médico acabou perfurando uma artéria que irriga o intestino, chamada de mesentérica.

“Eu acredito que pode ter havido imperícia do médico, talvez ele não estivesse preparado e, em todo caso, ele fez a histerectomia e me fechou, eu tive alta pela manhã e, no final da tarde, voltei para o hospital. Eu havia tomado apenas um pouco de refrigerante, que acabou inchando a minha barriga e eu tive um mal-estar muito grande. Só deu tempo de sentar na cadeira de rodas do hospital e não vi mais nada”, acrescentou.

No retorno ao hospital, ela passou por mais cinco cirurgias, teve que fazer traqueostomia (um corte feito na garganta para facilitar a chegada de ar aos pulmões), sofreu com uma infecção generalizada, além de um derrame pleural (acúmulo de água no pulmão), passando 50 dias em coma. Durante todo esse tempo, ela contou que teve sonhos, que na verdade era o limite entre o real, imaginário e espiritual, que talvez tenham a ajudado na recuperação.

“Em um desses sonhos, eu estava prestes a subir num palco - era como se fosse um circo - e eu estava muito esbelta, com uma roupa brilhosa, mas o que mais me espantou foi um cavalo que tinha um pelo extremamente macio e que me acompanhava a cada degrau que eu subia. Acho que pode ter sido um ser espiritual que me ajudou a retornar”, descreveu.

Em outro sonho, ela contou que estava se dirigindo a um túnel de pedras escuro e que encontrava um franciscano, a quem perguntou como faria para ajudar com doações. “Foram muitos sonhos, alguns com muita água, porque eu sentia muita sede”, continuou.

Quando ela despertou, chamou pela filha, que na época tinha 11 anos, e contou se sentir aliviada porque havia retornado para sua família.

Durante os próximos três anos, a recuperação foi lenta, com a ajuda de muita fisioterapia. Com as sequelas físicas que ficaram, como um dos braços que já não faz os mesmos movimentos de antes, ela se sente 100% recuperada espiritualmente. “Não tem como não tentar mudar para uma vida melhor”, frisou.

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Jornal da Paraíba

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