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VIDA URBANA

O que há por trás do assassinato do menino Everton em Sumé

Pobreza, sofrimento e maus-tratos fizeram parte da vida do garoto de 5 anos morto, dia 11, em um ritual de magia negra na presença da mãe e do padrasto.

Publicado em 25/10/2015 às 13:00

A morte de Everton Siqueira Silva, 5 anos, deixou a população paraibana chocada pela forma cruel e macabra como aconteceu. A cada passo da investigação policial, surge um novo fato surpreendente, e entre estes, o mais revoltante foi a confirmação de que a própria mãe da criança teria participado do plano e execução da morte. Crimes assim não são comuns na Paraíba, já a vida do pequeno Everton era bem parecida com a de milhares de pessoas que estão em nosso cotidiano. Everton era um menino de família pobre, que ainda cedo viu seus pais se separarem e, por necessidade, acostumou-se a viver na miséria, perambulando pelas ruas de Sumé, no Cariri paraibano. Everton era apenas um exemplo da parcela de 48,02% das crianças de Sumé, que vivem em situação de pobreza, segundo os dados mais recentes do Atlas Brasil (2010).

Para saber o reflexo de suas péssimas condições de vida, basta ir até a rua 2 do cemitério público da cidade Sumé. Everton foi sepultado fora do túmulo, no chão, perto de um canto de parede, sem nome estampado em plaquetas ou cruz. Devido o estado em que o corpo de Everton foi encontrado, ele não pode ser velado por muito tempo, ficou com caixão fechado e foi enterrado poucas horas depois de chegar em Sumé, ainda durante a noite. O caixão foi doado por uma funerária. Em cima do pequeno morro de areia no cemitério restou apenas pequenas lembranças feitas pelos colegas da escola, algumas flores secas e arcos com anjinhos feitos de rolos de papel higiênico. Na central de velórios, em frente ao cemitério, ainda estão os cartazes com frases de apoio e uma faixa pedindo “que as nossas crianças tenham direito à proteção e não à violência”.

Ainda vivo, a rotina de Everton era bem simples. Pela manhã ele acordava e ia para a escola. Depois voltava para casa e passava o resto do dia brincando pelas ruas, ao mesmo tempo em que pedia dinheiro e comida nas casas. “Ele brincava comigo às vezes. Ele tinha poucos carrinhos velhos, mas eu emprestava os meus a ele. Às vezes ele ia comer comigo lá em casa, porque a mãe dele não fazia o almoço de lá”, disse José Gustavo, de 9 anos, vizinho de Everton.

Em casa, além de enfrentar a pobreza, Everton e seus dois irmãos – uma menina de 8 anos e um menino de 3 anos– também enfrentavam uma rotina de violência doméstica. Vizinhos relatam que tanto a mãe, Laudenice dos Santos Siqueira, quanto o padrasto, Joaquim do Santos, agrediam ele e a irmã mais velha.

Conselho Tutelar

O Conselho Tutelar disse que acompanhava a família, mas que não teve conhecimento do histórico de violência, tendo registrado apenas um caso no início do mês de outubro onde a mãe teria batido com uma sandália no rosto de Everton. “Só tivemos esse caso. As outras visitas que fizemos era apenas para ver as condições de vida e orientar. Sabíamos que era uma família humilde e por vezes encontramos as crianças sujas, a casa desajeitada. Então a gente orientava que ela tivesse mais cuidado com filhos, não deixassem eles sujos nas ruas”, disse o conselheiro João Carlos.

Relembre o caso

Everton Siqueira da Silva, 5 anos, foi encontrado morto em uma vala no bairro Frei Damião, na cidade de Sumé, no Cariri paraibano, no último dia 13 de outubro. A Polícia Civil prendeu cinco pessoas acusados do crime: a mãe da vítima, Laudenice dos Santos Siqueira; o padrasto, Joaquim dos Santos; o amigo do padrasto Denivaldo Santos Silva; um amigo da família Wellington Soares Nogueira e João Batista. Este último possuía problemas psiquiátricos e foi assassinado por Joaquim dos Santos dentro da cela do presídio de segurança máxima, PB1, em João Pessoa, um dia após chegar ao local, só que depois foi constatado que ele não teve participação no crime.

Investigação

A Polícia Civil acredita ter identificado e prendido todas as pessoas que participaram do assassinato de Everton Siqueira Silva, mas ainda suspeita que existam outros envolvidos com o crime. A polícia ainda não descobriu para onde o sangue foi levado e o que foi feito. A investigação aponta que a morte fez parte de um ritual de magia negra, onde a intenção dos acusados era retirar o sangue da criança para fazer uma oferenda espiritual.

Pai quer recomeçar a vida com os três filhos

“Eu não sabia que meus filhos apanhavam tanto dela e daquele monstro. Eles não me diziam. Eu sabia que ela não cuidava bem deles. Meus amigos diziam quem viam ele pela rua. Eu quis muito que eles ficassem comigo e cheguei a ir lá pedir para cuidar deles, mas ela não deixava. Eu vou terminar enlouquecendo pelo que eu estou vendo. Eu nunca esperei que eles fossem assim. Eu nunca imaginei que eles seriam capazes disso. É difícil de acreditar, mas a polícia já mostrou muitas provas e eles mesmos disseram algumas coisas”. As palavras são do pai de Everton, o auxiliar de marchante Cícero Gonçalves da Silva, 25 anos.

Com Laudenice - mãe de Everton – Cícero ainda teve mais dois filhos. Uma menina de 8 anos e um menino de 3 anos. Há cerca de três anos eles se separaram. Atualmente ele é casado com outra mulher com quem teve outro filho, que está com 2 anos. É difícil para o pai se conformar com o que aconteceu com Everton, mas ele acredita que recomeçar a vida com os dois filhos sobreviventes será o consolo. Suas olheiras marcantes, o olhar desiludido são provas do sofrimento do pai.

Desde que o crime aconteceu os outros dois filhos ficaram sob os cuidados do Conselho Tutelar, ficando na casa de famílias acolhedoras. Ele estava morando na casa da sogra e a residência tinha condições precárias. Na última sexta-feira ele conseguiu encontrar uma casa com a ajuda de conselheiros tutelares. Cícero não tem boas condições financeiras. Ele trabalha como auxiliar de marchante em um matadouro e recebe menos de R$ 500 por mês.

Ritual desperta preconceito

Poderia ser um dia comum, mas o último 11 de outubro ficou assinalado na história paraibana por um crime macabro, atroz e revoltante que chocou a população em cada canto do Estado. Foi nesse exato dia que o pequeno Everton Siqueira, de apenas 5 anos de idade, foi morto. A Polícia Civil elucidou o crime e, dentre os envolvidos, estava própria mãe, o padrasto e mais dois homens, dos quais, um se intitula “pai de santo”. Segundo a polícia, com base nas provas periciais e na confissão dos próprios envolvidos, todo o sangue da criança foi retirado por encomenda para um ritual de “magia negra”. O corpo foi encontrado no dia 13.

E essa expressão, carregada de um sentimento de maldade, de repente passou a fazer parte das conversas e discussões da população, autoridades e meios de comunicação diariamente, à medida que novos detalhes do crime iam sendo desvendados. A prática, que foi até tomada por novidade, segundo o professor de Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Afonso Soares, é conhecida há milênios e pode ser encontrada em qualquer época, cultura ou regime.

“A magia negra existe. É difícil precisar uma origem comum no passado, mas é fato que em qualquer religião ou mesmo fora de religiões pode-se encontrar pessoas ou grupos que acreditam ter habilidades para lidar com forças invisíveis a fim de tirarem proveito próprio e prejudicar terceiros. O sujeito que se oferece para doar esse tipo de elementos em troca de favores pessoais faz um pacto com entidades desencarnadas. Ele oferece a elas algum ritual e elas dão a ele o que ele cobiça. Em geral, praticantes que fazem esse tipo de ritual querem prejudicar alguém. Ninguém faz pacto com entidades perversas em prol da paz mundial", ressaltou.

Pai de santo requer formação


O presidente da Federação Cultural Paraibana de Umbanda, Candomblé e Jurema, Pai Beto de Xangô, afirmou que o suposto “pai de santo” Welligton Soares Nogueira, conhecido como Pai Etinho, não faz parte da Federação Paraibana de Cultos Afro. “Para alguém ser pai de santo leva um longo processo de iniciação, um tipo de formação que também envolve cerimônia e diplomação. Somente após disso ele pode abrir um terreiro, e se o terreiro não tem vínculo com a federação, ele é ilegal e clandestino”, frisou.

O presidente da federação também destacou que não existe sacrifício humano nas religiões de matriz africana. “Isso está totalmente fora de cogitação", afirmou.

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Jornal da Paraíba

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