VIDA URBANA
Opinião: Para que serve jornalismo que apenas informa?
Jornalismo que só informa não ajuda a ver o assunto de forma diferente.
Publicado em 21/04/2019 às 7:00 | Atualizado em 22/04/2019 às 11:40
No dia 15 de novembro de 1889, sabemos todos, houve a Proclamação da República. Um fato histórico! Algo que mudou o viés político nacional e colocou o Brasil em outros rumos sócio-políticos e econômicos. Também sabemos todos disso. Mas, à época, não era lá muito fácil ficar por dentro dos acontecimentos (mesmo os grandes acontecimentos). A imprensa brasileira ainda não era centenária e – definitivamente – estava bem afastada dos rincões desse país continental.
Diversas partes do Brasil somente tomaram conhecimento da Proclamação no ano seguinte. Os mais sortudos receberam a informação no mês seguinte. Foi o caso do Mato Grosso. Distante dos grandes centros urbanos do país, a população de Mato Grosso chegou a passar 24 dias – após o início da República - ainda como fiel súdita de Dom Pedro II. É que a notícia da Proclamação da República somente chegou por lá no dia 9 de dezembro de 1889. E só foi virar capa de jornal no dia 12!!!
Quando os mato-grossenses ficaram a par de tudo a família real já estava na Europa... De lá para cá, ainda bem, muita coisa mudou. A velocidade de propagação da informação foi bastante acelerada. Atualmente, a apreensão informacional ocorre de maneira simultânea e, algumas vezes, antes mesmo do fato ocorrido... Vivemos na sociedade da informação...
Leandro Beguoci, da Fundação Lemann, acredita que é importante fomentar na sociedade a importância de termos cada vez mais informação de qualidade e não apenas abundância de informação. Ele afirma que ainda é pequena, mas crescente, a parcela da população que agora já consegue perceber que não basta quantidade, mas é preciso confiabilidade no que está sendo disponibilizado pela imprensa.
Beguoci também defende que, hoje, algumas áreas do jornalismo – como moda, gastronomia, games, por exemplo – conseguem gerar um grande fluxo informacional junto aos seus públicos, sendo possível - ainda de acordo com ele - encontrar produção qualificada a respeito. O mesmo não estaria acontecendo, diz Beguoci, em áreas extremamente importantes para a sociedade, como política, economia e educação, onde haveria pouca oferta de informação qualificada.
Pior que a falta de informação é a ausência de habilidade para gerar debate e reflexão a respeito das notícias que são reflexo de nossa sociedade contemporânea. Nem todos têm acesso a todo tipo de informação, mas mesmo aqueles que têm acesso, estão afastados do processo de contínuo pensar a respeito do conteúdo apreendido. Na prática, tornam-se apenas replicadores do conteúdo recebido. Daí a importância do jornalismo opinativo, que é capaz de oferecer conteúdo e embasamento ao leitor, fomentando também o exercício reflexivo.
Sabemos todos que informação não é saber. O saber é construído em uma outra etapa: a reflexão. Esse sim é o verdadeiro valor advindo da informação. Como criar valor para as pessoas num momento que elas têm muito acesso à informação? O que mais eu posso oferecer além de informação? O jornalismo (principalmente o impresso) precisa saber que já passou do momento de se reinventar. As páginas do jornal precisam estar a serviço dessa reflexão. Porque, definitivamente, ninguém lê jornal para ficar melhor informado...
Em tempos de Internet e - mais ainda - redes sociais e aplicativos de relacionamento, a velocidade de informação é imbatível. Não há jornal que consiga acompanhar! Precisamos, pois, no jornalismo, de coberturas que ajudem a entender os fatos de nosso tempo. Precisamos oferecer textos que possam oferecer percepções múltiplas sobre o mesmo assunto. Jornalismo que só informa não ajuda a ver o assunto de forma diferente. Não tem aplicação na vida do leitor. Isso sim merece reflexão. O resto é só leitura...
* Jamarrí Nogueira escreve sobre arte, cultura e comportamento no Jornal da Paraíba aos domingos
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