VIDA URBANA
Os altos e baixos do bipolar
Transtorno é capaz de levar à aposentadoria por invalidez, mas se tratado paciente poderá ter uma vida ativa.
Publicado em 05/02/2012 às 8:00
Euforia, às vezes seguida por depressão e surtos psicóticos.
Esses são alguns dos sintomas apresentados pelos pacientes com Transtorno Afetivo Bipolar, doença sem causa ainda conhecida, mas que pode levar o paciente até a inatividade (no trabalho), se não tratada adequadamente.
Prova disso é a história do aposentado por invalidez Roberto Nóbrega (nome fictício), que teve um diagnóstico tardio da doença, quando ela já estava bem evoluída. Roberto, que já trabalhou como gerente de um posto de gasolina e também 12 anos como taxista, teve que parar as atividades em virtude da doença.
Para sustentar a família (esposa e três filhos), hoje ele tem apenas um salário mínimo de renda – fruto da aposentadoria por invalidez. Mesmo em tratamento, as crises ainda acontecem e há mais de 10 anos, convivendo com os diversos sintomas da doença, Roberto sabe bem o que é estar muito feliz, e outras vezes muito triste – “no fundo do poço”.
Segundo o presidente da Associação Paraibana de Psiquiatria e professor universitário, Rivando Rodrigues, o Transtorno Afetivo Bipolar muitas vezes é confundido com oscilação de humor ou esquizofrenia. Na verdade, o paciente pode apresentar os sintomas tanto da primeira como da segunda doença, mas seu diagnóstico só é dado quando se tem um quadro de mania.
“A mania é uma exaltação do humor, em que o paciente fica eufórico, muitas vezes irritado, agressivo. Ele fica contagiante, conversa muito e de uma maneira tão acelerada que você nem consegue entender”, explicou o médico, ao acrescentar que, posteriormente, o paciente pode apresentar um quadro de depressão associado ao transtorno.
Entretanto, só a depressão em si não significa o transtorno e é possível que o paciente tenha mania, sem apresentar depressão. Cada caso é bem específico. Mas o médico revelou que a depressão pode aparecer dois, três, seis meses depois do surto de mania.
No caso do aposentado Roberto Nóbrega, tudo começou com a depressão que depois evoluiu para um quadro de bipolaridade.
Ele contou que a primeira doença apareceu quando trabalhava como gerente de um posto de gasolina, “dia e noite”, até receber recomendação de um neurologista para mudar de emprego.
Roberto resolveu comprar um carro e ser taxista, até que sofreu um primeiro assalto, o que agravou a depressão. O ladrão levou o veículo, Roberto comprou outro, mas os problemas não cessaram. Um novo assalto aconteceu, no qual Roberto teve uma arma apontada para sua cabeça e foi levado como refém.
Teve até troca de tiros durante o resgate do taxista. Depois de tudo isso, ele apresentou o quadro de mania.
“Eu entrei em uma crise de euforia, mas foi uma euforia tão grande que eu peguei o táxi e rodei João Pessoa de ponta a ponta com a minha filha mais velha. Ao chegar em casa, peguei a pata mais bonita da minha criação, botei dentro de uma caixa de papelão e embalei para dar ao meu médico”, relatou Roberto, que hoje está com a doença estabilizada.
Ele disse, ainda, que mesmo após o episódio, teve um diagnóstico errado de distúrbio emocional. “Chegava no INSS e o povo negava minha aposentadoria. E eu já sem aguentar mais, trabalhando doente. Até que os próprios funcionários do INSS me disseram que eu deveria procurar um psiquiatra e que eu estava me tratando com o profissional errado”, relatou Roberto, ao comentar que só então teve o diagnóstico correto do Distúrbio Bipolar.
Segundo Rodrigues, o diagnóstico da doença é clínico. “Geralmente só pelo aspecto da pessoa você percebe o surto”, disse.
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