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VIDA URBANA

Paraíba não faz reúso da água em residências, agricultura ou indústria

Estado não dispõe de serviço público de tratamento da água para reutilização. Especialistas avaliam que problema acontece pela falta de políticas públicas para o setor e não por carência de conhecimento 

Publicado em 04/04/2015 às 8:00

Mesmo depois de três anos seguidos de estiagem, 74 reservatórios em observação ou situação crítica, a Paraíba não dispõe de serviço público que ofereça água para reúso na agricultura, indústria ou mesmo para a população. Especialistas em recursos hídricos garantem que 90% da água de consumo doméstico pode ser tratada e reutilizada e avaliam que o problema acontece pela falta de políticas públicas para o setor e não por carência de conhecimento e tecnologia na área.


O presidente da Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba – Cagepa, Marcos Vinícius, explica que a inexistência de serviços públicos que ofereçam água para reúso em grandes quantidades é resultado de uma cultura existente há décadas que a água era um bem infinito. Ele argumenta que mesmo com vontade política para implantar o reúso da água é necessário cautela porque os tratamentos dos esgotos devem ser adequados para sua finalidades. “São estudos que temos que desenvolver de forma responsável. A água para reúso humano tem de considerar a possibilidade da fonte ter metais pesados e hormônios, por exemplo, que pode resultar em prejuízos para o consumo humano”.


Para professora e pesquisadora na área de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) Soahd Arruda Rached, a gestão de recursos hídricos na Paraíba e no país tem de mudar de forma urgente, já que a população cresceu consideravelmente nas últimas décadas e os gestores ainda utilizam métodos superados para atender a grande demanda. “As pessoas só se preocupam com a água de beber e esquecem as outras finalidades. Se por um acaso enfrentarmos uma epidemia de uma doença de veiculação hídrica, como a cólera nos anos 80, a sociedade perceberá a importância de uma gestão da água”, explica.

A justificativa de carência de tecnologias adequadas para a implantação de serviço que ofereçam o reúso de água no Nordeste e na Paraíba não se sustenta, para o professor e pesquisador da área de recursos naturais da UFCG Geraldo Barachuy. “Temos experiências e pesquisas sobre o tema com mais de 20 anos na UFCG. O que existe é a falta de uma política mais agressiva para o setor. A burocracia do setor público é muito grande”.


O pesquisador na área de recursos hídricos e diretor substituto do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), Salomão de Sousa Medeiros, participou na última segunda-feira de uma sessão conjunta da Câmara de Vereadores de Campina Grande e da Assembleia Legislativa e alertou aos parlamentares que integram a Frente das Águas que o órgão está concluindo uma pesquisa comprovando que o reúso é uma prática fundamental para o Semiárido, porque na maioria dos municípios os esgotos estão se transformando em “rios perenes” que são lançados nos mananciais sem tratamento, contaminando a água consumida pela população.


PESQUISAS

Mesmo sem ainda implantar as tecnologias que já desenvolveu para o reúso de água, a Paraíba poderá em breve ser considerada um polo regional nessa área de pesquisa. Atualmente, a Cagepa, a UFCG, a Agência Nacional de Águas (ANA), a Agência Brasileira de Inovação (Finep) e a Universidade Alemã de Goettingem implantam desde 2014 projeto de pesquisa para aprimorar as estratégias de planejamento e gestão de recursos hídricos, para combater a escassez de água e garantir o desenvolvimento sustentável, em estações de tratamento de esgotos de Mangabeira, na capital, da Catingueira, em Campina, e no Açude de Sumé, onde serão implantados diferentes tipos de tratamento.

Segundo o pesquisador da UFCG Geraldo Barachuy, até o final desse ano será concluída em Campina Grande uma parceria entre a UFCG, Cagepa, ANA e prefeitura que deverá concluir a implantação de uma estação de tratamento de esgotos na Catingueira, com o objetivo de realizar pesquisas para o desenvolvimento de tecnologias para o reúso de água direcionadas para a área industrial e agricultura. A obra e a aquisição dos equipamentos estão orçadas em R$ 5 milhões e a expectativa é que a unidade reutilize 700 m³ de água por dia.

A professora da UFCG Soahd Rached coordena uma pesquisa desenvolvida para gerar tecnologia de reúso de água na zona rural. Ela explica que uma casa modelo foi implantada na comunidade da Ribeira, em Boqueirão, onde toda água consumida pelos moradores será acumulada numa fossa séptica, que depois de um tratamento natural será utilizada em uma plantação de frutas.

BOA INICIATIVA

Um exemplo de reúso de água acessível a qualquer pessoa está possibilitando a professora de Biologia Karla Dantas Duarte, em Campina, reduzir em até R$ 20 sua conta. Ela coleta e reutiliza água usada na máquina de lavar roupas e no banho, nos sanitários. Karla também levou a proposta a um projeto interdisciplinar que coordena no Premem, com a participação de 275 alunos.

TIPOS DE REÚSO

1 - A reutilização de água pode ser direta ou indireta, decorrentes de ações planejadas ou não:
Reúso indireto não planejado da água: ocorre quando a água, utilizada em alguma atividade humana, é descarregada no meio ambiente e novamente utilizada a jusante, em sua forma diluída, de maneira não intencional e não controlada.

2 - Reúso indireto planejado da água: ocorre quando os efluentes, depois de tratados, são descarregados de forma planejada nos corpos de águas superficiais ou subterrâneas, para serem utilizadas a jusante, de maneira controlada, no atendimento de algum uso benéfico.

3 - O reúso indireto planejado da água pressupõe que exista também um controle sobre as eventuais novas descargas de efluentes no caminho, garantindo assim que o efluente tratado estará sujeito apenas a misturas com outros efluentes que também atendam ao requisito de qualidade do reúso objetivado.

4 - Já o reúso direto planejado das águas ocorre quando os efluentes, após tratados, são encaminhados diretamente de seu ponto de descarga até o local do reúso, não sendo descarregados no meio ambiente. É o caso com maior ocorrência, destinando-se a uso em indústria ou irrigação.

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Jornal da Paraíba

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