VIDA URBANA
Paraíba sofre grande desfalque no seu elenco de homens de bem
Seu Assis, assim chamado carinhosamente por muitos amigos, foi sepultado na tarde desta quinta-feira (19) em Campina Grande.
Publicado em 19/05/2016 às 20:05
Não era político, embora gostasse muito de conversar e discutir sobre política. Nos cafezinhos, nos senadinhos, nos calçadões... Onde houvesse um bom papo, enfim, sobre poder, os poderosos e asteroides provincianos. Muito menos era uma celebridade, rico ou novo rico com alguma projeção, do tipo que quando morre costuma receber espaço, homenagem ou incenso dos bajuladores de plantão.
Francisco de Assis Almeida era ‘tão somente’ um cidadão exemplar, um homem de bem, uma pessoa do bem. Que ‘subiu’ nessa quarta-feira (18) à noite, aos 78 anos, logo após internamento de emergência em um hospital da Capital, onde os parentes mais próximos esperavam deter ou reverter o agravamento de problemas sérios de saúde que acometiam o paciente há mais de quatro ou cinco anos.
Seu Assis, assim chamado carinhosamente por muitos amigos, foi sepultado na tarde desta quinta-feira (19) em Campina Grande, terra que lhe deu régua e compasso para completar o traçado do seu destino e criar os filhos e filhas, todos bons cidadãos como ele e oriundos, como ele, do interior mais árido da nossa Paraíba.
Assis era filho de Pombal, belíssima cidade do Alto Sertão paraibano que também nos deu, entre outros filhos ilustres, um gênio chamado Celso Furtado. Já os filhos de Assis nasceram, em sua maioria, na cidade de Gurjão, no Cariri.
Começou a trabalhar desde adolescente, estreando na função de contínuo em empresas de Teotônio Neto, fundador do jornal Correio da Paraíba. Depois ingressaria no serviço público estadual. Ainda muito jovem tornou-se Agente Fiscal, cargo que o levou a chefiar coletorias estaduais em algumas cidades. Uma delas Alagoa Grande, onde protagonizou episódio que gosto de contar pelo que expõe tanto da presença de espírito como da coragem pessoal de Assis.
Foi assim... Coisa dos setenta ou sessenta do século passado, quando o pagamento dos servidores estaduais lotados no interior era feito nas coletorias. Quase sempre em espécie. Além do coletor, juiz, promotor, delegado de polícia, oficial ou soldado da Polícia Militar, todo funcionário do Estado trabalhando fora de João Pessoa recebia o salário na coletoria local.
No caso da coletoria comandada por Assis, ele mesmo viajava sozinho até a Capital e no finado Paraiban sacava o numerário suficiente para cobrir a folha de pessoal em Alagoa Grande. Mas um dia mudou o juiz, o promotor de Justiça ou o delegado de Polícia da cidade e a nova autoridade, sabendo que todo mês Assis fazia a temerária viagem, propôs ao coletor uma escolta de pelo menos dois soldados.
- Seu Assis, para sua segurança pessoal e tranquilidade de todos nós, de agora em diante todo final de mês vou designar dois ou mais soldados da PM para acompanhá-lo nessa viagem a João Pessoa, para que o senhor vá e volte em paz.
- Agradeço sua preocupação, Doutor, mas vou ter que recusar a oferta.
- Oxente, Seu Assis, e por que?
- Porque, Doutor, sou eu quem faço o pagamento do pessoal daqui e sei o quanto ganha um soldado de Polícia.
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