VIDA URBANA
PB tem mais de 88 mil motoristas 'veteranos'
Segundo o Detran, maioria dos condutores com mais de 60 anos é do sexo masculino.
Publicado em 05/01/2014 às 8:00 | Atualizado em 22/05/2023 às 12:41
Já faz alguns dias, mas o funcionário público Roberto Caldas ainda não esqueceu o susto. Ele estava transitando na Epitácio Pessoa, uma das principais avenidas de João Pessoa, quando foi surpreendido com a “fechada” de um caminhão. “O cara estava na faixa esquerda e eu, na direita. De repente, sem sinalizar nem nada, veio para minha frente. Tive certeza que iria bater no meu carro. Por sorte, consegui desviar”, lembra.
O que Roberto chama de sorte, na verdade, tem outro nome. Com 67 anos de vida, sendo 40 com a posse da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), ele acumulou experiência com o trânsito. “Nunca bati, nem me envolvi em acidente sério. Sempre ando devagar e tomo cuidado com a sinalização”, justifica.
Com o passar dos anos, a cautela nas ruas também aumentou ainda mais. Após quatro décadas de vivência com a direção do carro, o servidor público já sente algumas mudanças físicas e evita pisar fundo no acelerador. “Com a idade, a gente sente que os reflexos vão diminuindo. Meu filho, por exemplo, estaciona mais rápido que eu e faz baliza sem problemas. Já eu também faço baliza, mas prefiro procurar um espaço maior para deixar meu carro”, explica.
Roberto está entre os 88.036 condutores do Estado que possuem mais de 60 anos de idade, segundo informações do setor de Estatísticas do Departamento de Trânsito da Paraíba (Detran/PB). Eles representam 11,82% do total de 744.532 pessoas habilitadas nas 223 cidades paraibanas. A maioria dos “veteranos” no volante pertence ao sexo masculino. São 71.725 homens contra 16.311 mulheres com mais de 6 décadas de vida e que possuem CNH.
Em comum, eles sentem o peso da idade quando sentam no banco do motorista, como explica o médico geriatra Arnaldo Viegas. Ele é presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, seção Paraíba, e membro titular da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Com experiência de quem atua há 30 anos na área, ele explica que a idade interfere nas reações das pessoas em frente ao volante. “Com o passar dos anos, os reflexos vão ficando mais lentos. A força muscular diminui e ocorrem perdas também na visão, mas que podem ser corrigidas com uso de lentes”, comenta.
Os olhos estão entre as áreas do corpo humano que sentem o impacto causado pelo passar dos anos. Pelo menos, três tipos de problemas oftalmológicos são bastantes comuns em pessoas que já ultrapassaram as seis décadas de vida, como explica o médico oftalmologista e membro da Sociedade Paraibana de Oftalmologia, Daniel Medeiros Stropp.
Com 15 anos de experiência na área, ele conta que a principal doença da terceira idade é a catarata. Ela é uma espécie de membrana que causa opacidade aos olhos. Começa de forma sutil, mas pode levar à cegueira total, caso não ocorra tratamento. A cura só ocorre após realização de uma cirurgia, que já está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“A gente vê em consultórios muitos pacientes com mais idade e que foram reprovados nos testes do Detran. Quando os examinamos, percebemos que estão com catarata. São encaminhados para a operação. Isso é muito comum”, observa.
Outro problema que afeta a visão do motorista idoso é a diabetes tipo 2. O especialista observa, porém, que essa doença não está diretamente ligada à idade, mas é muito comum em pessoas com mais de 60 anos. “O diabetes tipo 2, sem controle, causa alterações nos olhos. Diminui a visão e o tratamento é feito a laser, porque o problema atinge parte da retina”, afirma.
O terceiro inimigo da visão dos condutores com mais de 60 anos é o glaucoma. Na maioria dos casos, ela aparece a partir das 40 anos de vida. “A partir dos 40 anos, a pessoa começa a ficar com a vista ruim. Quando vai ver, é glaucoma. É um problema que merece muita atenção. Em casos avançados, pode causar a cegueira e não há como recuperar a capacidade de visão perdida”, lamenta o especialista.
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