VIDA URBANA
Pesquisador é contra projeto
Pesquisador classifica projeto da transposição como principal representação da indústria da seca no Nordeste.
Publicado em 26/05/2013 às 15:00 | Atualizado em 13/04/2023 às 18:07
Na opinião do pesquisador João Suassuna, da Fundação Joaquim Nabuco, a transposição do São Francisco não resolve o problema da população do semiárido. “O projeto vai contemplar apenas os grandes empresários, que vão utilizar a água para a irrigação pesada e usos industriais”, afirmou. “O povo, que realmente precisa, e hoje é abastecido por carro-pipa, vai continuar sendo abastecido por carro-pipa”, declara o pesquisador.
O projeto da transposição é, segundo Suassuna, a principal representação da indústria da seca no Nordeste. Ele disse não acreditar que a obra será concluída em 2015, como garantiu o ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho, em entrevista recente. “Eu até acho que a obra vai ser concluída, mas só será em 2018, quando deverá ter mudança do presidente. É tudo politicagem”, critica.
Há 18 anos estudando o tema transposição de águas no Nordeste, o pesquisador disse que há outras águas na região que deveriam ser priorizadas. “O Rio São Francisco já está muito comprometido. A transposição vai pôr em riscos todos os investimentos que foram feitos nos últimos anos na bacia do rio”, afirma Suassuna, destacando o investimento de R$13 bilhões de dólares feito pela Chesf.
Suassuna também explicou que a obra da transposição representa danos ao meio ambiente. “Do jeito que querem fazer é complicado”, reforçou. Para ele, o povo nordestino está sendo iludido pelos governantes que prometem acabar com os problemas da seca por meio da transposição. “A população não tem a mínima ideia do que esse projeto representa”, comentou. “O problema do abastecimento não será resolvido”, frisa.
De acordo com o pesquisador, o projeto não deixa claro como as águas da transposição vão sair das represas para abastecer 391 municípios do Agreste e do Sertão dos estados da Paraíba, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. “Não vai chegar uma gota para quem realmente precisa”, afirma Suassuna.
Ele participou de um estudo, realizado em 2004, que apontou que o Rio São Francisco não tem condições de atender uma obra ambiciosa como a transposição. “O rio já é de múltiplos usos e suas águas estão comprometidas para outros fins, como energia e irrigação”, explica.
“Mais uma vez reforço que o mais viável seria buscar a água represada no Nordeste, que tem 70 mil represas, as quais acumulam o potencial de 37 bilhões de metros cúbicos de água, a maior quantidade em regiões semiáridas do mundo”, declara. A transposição seria, portanto, um complemento, e não a prioridade.
AGRICULTORES AINDA ESPERAM QUE OBRAS RESOLVAM A SECA
O ano de seca tem um saldo parcial preocupante: lavoura perdida, rebanho morto e paraibanos que migram para outras regiões do país para sustentar a família. Sem água no semiárido, não existe esperança, não existe trabalho. Só há mesmo tristeza e preocupação. A transposição das águas do São Francisco é aguardada ansiosamente por quem vive nessa situação. Mas a demora, só aumenta a descrença de que dias melhores estão por vir.
O agricultor Paulo Nunes da Silva, 74, já se desesperou por conta da seca. Para escapar da fome e da sede, viajou no início deste ano para a casa dos filhos, em São Paulo. Mas acabou voltando para o município de Sousa, no Sertão. Preferiu enfrentar a seca no lugar onde nasceu. Quando ouve falar da transposição, seu Paulo se emociona: “Isso é um presente para nós. Deus ajude que não seja só promessa de político”.
O deputado Francisco Quintans (DEM), presidente da Frente Parlamentar da Seca da Assembleia Legislativa, diz que o setor rural está abandonado e que o nível de improdutividade é alarmante. “A Assembleia tem feito um trabalho exemplar, incluindo o relatório que mostrava as obras da transposição em passos lentos. Logo depois disso o ministro fez a publicação das obras da licitação”, afirma. Segundo ele, enquanto a transposição não se torna realidade, a ALPB tem se incomodado com os efeitos da seca. “Foram disponibilizados R$190 milhões para desenvolver ações estruturantes de ações de convivência com a seca. A ALPB tem cumprido o papel de alertar as autoridades para que haja uma atenção maior para a Paraíba”, frisa.
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