VIDA URBANA
Policiais militares fazem 'bicos' para complementar renda
O presidente da Associação dos Militares do Estado da Paraíba (Amep), cabo Sérgio Rafael, confirmou que policiais fazem trabalhos extras.
Publicado em 14/06/2015 às 8:00 | Atualizado em 08/02/2024 às 11:57
A jornada do cabo Ubirajara Moreira Dias enquanto integrante do 3º Batalhão da Polícia Militar (3º BPM), em Patos, Sertão paraibano, terminaria em 2019, quando ele faria 30 anos na função e poderia se aposentar. Mas, em um confronto com bandidos no último sábado, no momento em que trabalhava como mototaxista, o policial foi morto a tiros. Assim como ele, muitos policiais fazem trabalhos extras, os populares 'bicos' para ganhar uma renda extra. A situação é proibida pela Polícia Militar (PM), além de representar um risco para esses profissionais.
De acordo com um amigo do cabo Ubirajara, que preferiu não se identificar, o policial trabalhava há muitos anos, sempre aos finais de semana, como mototaxista para complementar a renda. Ele disse ainda que é comum em Patos (Sertão) policiais militares trabalhando como seguranças e vigilantes nos dias de folga. “Aqui têm muitos que fazem isso, devido ao salário que é pouco. Trabalhar como segurança ou mesmo de mototaxista também é arriscado, porque a gente nunca sabe o que pode acontecer”, disse.
A prática de policiais que fazem 'bicos' para aumentar a renda não é diferente em João Pessoa. Um cabo da PM que preferiu não se identificar disse que até o ano passado trabalhava como vigilante no bairro onde mora e afirmou que vários colegas fazem o mesmo serviço e outros ainda trabalham como seguranças em festas e casas noturnas. “Era muito arriscado. Eu trabalhava das 9h da noite até as 6h da manhã do outro dia, quando eu estava de folga. Já passei por várias situações de perigo e também evitei muito roubo às residências. Mas o dinheiro não compensa o risco”, revelou o policial.
O presidente da Associação dos Militares do Estado da Paraíba (Amep), cabo Sérgio Rafael, confirmou a situação e diz que, na capital, os policiais que fazem esses trabalhos extras atuam mais frequentemente como seguranças de estabelecimentos comerciais. “Nesse tipo de trabalho, o policial também está exposto ao risco de vida e a família dele igualmente. Mas é o que muitos fazem por necessidade”, alegou.
Por sua vez, o representante do Sindicato dos Vigilantes da Paraíba, Rubens de Sousa, disse que existe preferência para contratar policiais para os trabalhos temporários porque o custo é mais baixo e não há obrigações legais, devido à clandestinidade.
“As empresas preferem os policiais, muitas vezes, porque pagam mais barato. Já o trabalho do vigilante tem um valor fixo e tem de ser formalizado. Acontece também de empresas que não são regularizadas terem mais essa prática e os policiais aceitam”, lamentou o tesoureiro do Sindicato dos Vigilantes da Paraíba. Ele acredita ainda que com a prática irregular os vigilantes perdem postos de trabalho.
Comentários