VIDA URBANA
População sofre com ruas precárias em CG
Mais de 960 ruas de Campina Grande não têm pavimentação, drenagem ou rede de esgoto.
Publicado em 27/04/2014 às 6:00 | Atualizado em 29/01/2024 às 12:19
Mais de 960 ruas não têm pavimentação nem drenagem em Campina Grande. Alguns trechos também estão sem rede de coleta de esgoto. O problema afeta diretamente a população, que sofre com a proliferação de insetos – incluindo o mosquito da dengue – e animais peçonhentos, como ratos. Campina tem atualmente 3.169 ruas.
Moradores de locais mais comprometidos dizem que crianças e idosos são os mais atingidos e estão adoecendo em decorrência da situação. Conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), este ano, já foram registrados 2.035 casos de doenças diarreicas na cidade, e os bairros com trechos sem pavimentação estão entre os mais afetados.
A rua Eduardo Ferreira Ramos, no bairro Bodocongó, é reflexo dessa realidade. Não há calçamento na rua, que está tomada pela lama por conta de um esgoto a céu aberto que incomoda os residentes diariamente. A dona de casa Maria de Fátima Souza, 57, conta que o cheiro é insuportável e dura praticamente o dia todo. “Não tem quem consiga ficar na porta de casa por muito tempo por conta dessa catinga. Tem horas que fica tão forte que nem dentro de casa dá pra aguentar. É preciso sair, visitar algum parente, qualquer coisa. A situação é muito difícil”, desabafa.
Para tentar amenizar os danos causados pelo esgoto a céu aberto, a dona de casa comprou canos e tapou com areia a parte do canal que passava na frente da sua casa. “Gastamos do próprio bolso. Pelo menos a água não ta passando mais na frente de casa, mas não resolveu a situação”, completou. Aos 93 anos, o pai de Maria, o aposentado João Pedro de Souza, sente na pele as consequências da falta de pavimentação. “Pra mim é mais difícil, eu tenho problema nas articulações dos dois joelhos e não posso sair muito de casa. Já adoeci várias vezes por conta dessa situação, principalmente diarreia. Acho que tudo se contamina. Quase sempre a gente vê fezes saindo aí por esse esgoto, ratos imensos e muita, muita barata”, diz.
As crianças são a maior preocupação. Maria de Fátima diz que os pequenos costumam brincar no meio da rua, em contato direto com a lama. “Criança não tem nojo de nada. Eles gostam muito de brincar fora de casa, se jogam na areia, caem no esgoto, continuam brincando horas e horas sem lavar as mãos. É um perigo, já vi muito caso de menino com diarreia e outras doenças, viroses, verminoses”, revela.
Outro problema é o acúmulo de poeira. Por falta de calçamento ela se espalha e acaba invadindo as residências. Quem confirma é a professora Maria do Carmo Veloso, 37, que sofre de rinite alérgica. “Espirro o dia inteiro, e o pior é que tenho que varrer a casa pelo menos duas vezes por dia. Aí espirro a noite inteira e sinto muita dificuldade de respirar”, conta.
PROBLEMA AJUDA A DISSEMINAR A DENGUE
De acordo com a gerente de Vigilância Ambiental e Zoonoses de Campina Grande, Rossandra Oliveira, esgotos a céu aberto também são focos de dengue. “Com o passar do tempo o mosquito Aedes aegipty se adaptou. Antes ele só conseguia se desenvolver em água parada limpa. Hoje, ele se reproduz também na água suja. Uma rua que não tem esgotamento sanitário além de ser um risco à saúde, porque facilita a proliferação de doenças de veiculação hídrica, como hepatite A e verminoses, pode ser um criadouro a céu aberto do mosquito da dengue”, explicou.
Segundo Rossandra, o índice de infestação do mosquito em Campina é de 2,2%, o que deixa a cidade em situação de médio risco para a transmissão da doença. O bairro Malvinas II teve o maior índice de infestação, com 5,1%, que representa alto risco de transmissão da doença, seguido de Malvinas I, com 2,6% - dados coletados no último Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti (Lira). “Por ser um bairro com 18 mil imóveis e mais de 70 mil habitantes, com muitas ruas com problemas de pavimentação, Malvinas apresentou este índice alarmante”, explicou. O distrito de Galante também teve alto risco de transmissão, com índice de infestação de 3,5%.
Com relação às doenças diarreicas, já são mais 2 mil casos confirmados este ano. Em todo o ano passado, foram 8.166 casos. Na Paraíba, de janeiro a março, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES), foram registrados 19.352 casos de Doenças Diarreicas Agudas (DDA), 499 a mais do que o registrado no mesmo período do ano passado, quando foram notificados 18.853 casos.
A gerente operacional de Vigilância Epidemiológica da SES, Bernadete Moreira, reforça que a má qualidade da água, que pode ser contaminada por esgotos a céu aberto, repercute no agravamento destas doenças. “Isso repercute no aumento do número de casos e no agravamento das doenças diarreicas. A secretaria vem desenvolvendo várias ações junto aos municípios para sanar este quadro”, disse.
PREVISÃO É RECUPERAR 100 RUAS POR ANO
De acordo com o secretário de Obras de Campina Grande, André Agra, o Plano Plurianual (PPA) do município prevê a execução de melhorias e pavimentação de 100 ruas por ano. Ele ressalta que algumas ações já foram executadas e outras estão em andamento. “Estamos executando 21 ruas. No ano passado, com toda dificuldade financeira, fizemos 70. Estamos aguardando liberação de R$ 39 milhões do PAC Pavimentação e temos o nosso projeto do II Anel Viário, com estimativa de investimento de R$ 135 milhões. No entanto, dependemos das verbas federais”, diz André.
O secretário enfatizou outras obras em execução. “Estamos com três canais de macro-drenagem em execução, que somam mais de R$ 20 milhões: o do bairro Santa Rosa, o do Ramadinha II, que está paralisado para podermos concluir as desapropriações devidas, mas que será retomado no final do mês, e o canal do Distrito dos Mecânicos. São obras fundamentais para a pavimentação de muitas ruas”, completa.
CAGEPA
Ao falar sobre a coleta de esgoto, a gerente regional da Cagepa, Alexandrina Formiga, disse que atualmente há várias obras relacionadas à rede de esgotamento sanitário em execução na cidade, a exemplo dos bairros Cruzeiro e Jardim Tavares, serviços estes que vão ampliar a rede de esgoto atualmente com 82 mil ligações.
“As obras vão sendo realizadas de acordo com a demanda e a disponibilidade de recursos. Nessa área, há obras realizadas pelos governos federal, estadual e municipal. Então, temos nosso planejamento próprio e também vamos executando os serviços de acordo com essas outras obras”, explicou.
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