VIDA URBANA
Portadores de HIV usam seringa para 'carimbar' vítimas em João Pessoa
Mulheres estão em tratamento de profilaxia no Clementino Fraga e dizem que foram furadas por um homem com uma seringa, dentro de um ônibus coletivo.
Publicado em 24/03/2015 às 15:00 | Atualizado em 16/02/2024 às 11:10
Duas mulheres dizem ter sido contaminadas com o vírus HIV dentro de ônibus do transporte coletivo de João Pessoa. Os casos suspeitos teriam ocorrido há cerca de 3 meses. Em um deles, após furar a vítima, o homem que estava com a seringa teria dito ao telefone: “Pronto, acabei de furar mais uma”. Desesperadas e pedindo ajuda, as mulheres foram encaminhadas ao Hospital Clementino Fraga, onde receberam o tratamento de profilaxia, que combate o vírus. O caso em questão, de acordo com o Código Penal, se configura lesão corporal grave, com pena que varia de dois a oito anos de reclusão. As mulheres não procuraram a polícia para registrar queixa.
As revelações sobre o contágio da AIDS em ônibus da capital foram feitas pela diretora Adriana Teixeira, que responde pelo Clementino. Segundo ela, as mulheres não se conhecem e procuraram ajuda individualmente, em semanas distintas. “Muitas pessoas pensam que isso é brincadeira, mas cabe o alerta. As duas mulheres sustentam a tese de que foram furadas dentro do ônibus, sem que tivessem chance de defesa”, afirmou. Através da direção do Clementino, a reportagem pediu para conversar com as mulheres, mas, segundo Adriana, elas se recusaram a dar entrevista, mesmo com a garantia de que teriam suas identidades preservadas.
De acordo com o médico infectologista Fernando Chagas, o primeiro caso foi de uma mulher de aproximadamente 40 anos. “Ela disse que estava no ônibus lotado e de repente sentiu uma furada nas costas. Ao olhar para trás, viu um rapaz, de pele morena, falando ao telefone que tinha acabado de furar mais uma”, explicou o médico. Segundo ele, a paciente disse que no momento que recebeu a furada deu um grito, chamando a atenção dos demais passageiros, mas ninguém interviu. Em seguida ela desceu do ônibus, chorando e muito nervosa. “A história foi muito bem contada, chega a ter sentido, mas é importante deixar claro que há pacientes que contam algo que não existiu para camuflar a real situação. Mas não estou dizendo que foi isso que aconteceu”, declarou Chagas.
Uma semana depois, o médico atendeu a segunda mulher, esta com cerca de 30 anos. “Ela disse que estava no ônibus quando sentiu a furada. Tomou um susto e gritou. Assustada, desceu e foi para o Clementino Fraga, com medo de ter sido contaminada”, explicou o médico. Segundo ele, a mulher ficou desesperada, mas não deu detalhes sobre o caso, disse apenas que na rua, ao contar a situação, foi orientada a procurar o Clementino. As duas pacientes receberam o tratamento com medicamentos antirretrovirais, na chamada profilaxia, que combate o vírus quando iniciada em até 48 horas após o contágio. Os remédios devem ser tomados por 28 dias seguidos. Depois disso, é preciso refazer o teste. Nesse ponto, há informações divergentes. A diretora disse que as mulheres entram na lista de pessoas em tratamento da AIDS no Clementino; o médico, por sua vez, afirmou que elas não têm o vírus.
A diretora do Clementino Fraga disse que é perigoso descartar essas possibilidades. Segundo ela, há pessoas que têm o vírus HIV e não têm pudores de contaminar terceiros. “Infelizmente alguns não estão nem aí. Acham que porque pegaram o vírus, podem passar para outras pessoas. Esses casos das supostas contaminações em ônibus servem de alerta para a população. Do jeito que as coisas estão, não dá para simplesmente achar que isso não aconteceu”, declarou Adriana.
O infectologista, por sua vez, disse que diante de uma situação de risco a primeira providência é procurar o Clementino Fraga para receber as devidas orientações e, se for o caso, iniciar o tratamento de imediato. “Em seguida, a recomendação que fazemos é procurar a polícia para comunicar o fato. Como médico, prefiro acreditar no paciente, mas não podemos esquecer que há pessoas que inventam uma mentira para despistar a verdade”, explicou. O 'carimbo da Aids' foi assunto abordado recentemente pelo 'Fantástico', da Rede Globo. A reportagem denunciou grupos que estavam compartilhando o vírus propositalmente – por isso a associação ao carimbo.
A diretora do Clementino Fraga afirmou que os dois casos que possivelmente ocorreram em João Pessoa são semelhantes aos denunciados pelo programa global.
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