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VIDA URBANA

Prova de amor: mãe se infiltra no tráfico e tira filho das drogas

Mãe afirma que não se arrepende de ter lutado e colocado o filho em primeiro lugar. 

Publicado em 08/05/2016 às 14:05

"Comecei a fazer amizade com alguns traficantes para ver se cortavam o fornecimento de drogas para o meu filho". É com serenidade que Luíza (nome fictício), de 53 anos, conta que precisou tomar uma atitude extrema para livrar o filho mais novo, Lucas (nome fictício), de até então 20 anos, do vício das drogas.

Matriarca de uma família de classe média-alta, moradora do Altiplano, bairro nobre de João Pessoa, Luíza é psicóloga, casou-se jovem, com apenas 17 anos, e teve três filhos. Tudo parecia bem, até que uma relação extraconjugal do marido fez com que o casamento de mais de 30 anos acabasse. A separação parece ter abalado o filho mais novo.

Para a psicóloga, a separação foi um dos momentos mais conturbados de sua vida, já que a guarda dos filhos ficou com ela e, por causa da distância do pai, os conflitos em casa com os filhos se tornaram mais frequentes. Lucas foi o que mais sentiu a mudança do pai não conviver mais na família. "Tenho certeza que isso foi o ponto inicial para o vício dele", afirma Luíza.

Com 16 anos e um quadro de depressão diagnosticado, Lucas teve o primeiro contato com as drogas no colégio. Quem 'traficava' para o jovem, conforme a mãe, era um funcionário da instituição de ensino. "Era um inspetor que fazia o intermédio da droga de fora para dentro do colégio. Se não me engano, ele ainda está por lá", diz.

Para o jovem, o que satisfazia no início passou a não ser mais suficiente. E foi nesse estágio que ele começou a usar drogas mais pesadas, entre elas a principal era cocaína. Sozinha, sem o apoio do ex-marido e desesperada, Luíza percebeu que precisaria ir além dos conselhos maternais.

Ela começou a investigar a vida do filho, controlava as pessoas com quem ele se relecionava e chegou a proibir um dos amigos do rapaz de frequentar o prédio onde a família morava - por descobrir que ele fornecia drogas a Lucas.

"Quando o proibi, ele se escondia no salão de festas do prédio, esperando eu sair para poder entrar e vender cocaína para meu filho e fazer uso também", revela. O traficante, conhecido de uma comunidade do Altiplano, morreu assassinado no ano passado.

Embora não tivesse mais alternativas, Luíza decidiu que não iria desistir de lutar pelo filho. Conhecendo alguns dos fornecedores de drogas da região - através das investigações que fez sobre a rotina do filho - ela deu início a uma de suas maiores aventuras: se infiltrou entre os criminosos, adicionando-os em redes sociais, trocando telefones e fazendo diversos favores. "[Tentava] ser o mais legal possível", conta.

Luíza chegou a liberar traficantes de apreensões e até de prisões, imaginando que, com a ajuda, os bandidos iriam atender a seu pedido de cortar o fornecimento de drogas para Lucas. "Resolvi correr o risco. Muitas mães, senão todas, fariam o mesmo", afirma.

O auge
"Cheirava pó, usava maconha, fumava cigarro, e bebia o dia inteiro", resume Luíza sobre a vida do filho no ápice do vício. Ainda conforme a mãe, a situação chegou a ser mais aterrorizante. "Ele ficava trancado no quarto dele, ouvindo música eletrônica. Tinha 'carreirinha' de pó [cocaína] na mesa de vidro, maconha, cigarro e muita cerveja. Fazia isso todos os dias. Ele não saía para nada, ficava fora do mundo, a noite inteira nisso, e dormia de manhã", detalha.

Nessa fase, a mãe tentava, "em vão", manter contato com o ex-marido. Telefonava diversas vezes ao dia, mandava e-mails, mensagens e recados, mas não tinha retorno. Sem saída, Luíza optou por procurar um tratamento especializado para o filho. "Tentei até a internação em uma clínica de São Paulo. Falei com a diretora da clínica, para virem buscá-lo e ‘jogarem’ uma camisa de força", relembra de forma emocionada.

Ao ver a medida extrema, o ex-marido entrou em contato com Luíza. A assistência, no entanto, veio de maneira errada, de acordo com ela. "O pai levou ele para o Chile, ficaram mais de 15 dias viajando. Quando voltou para cá, o pai abriu empresa no nome dele, deu um carro importado, enfim, fez tudo errado. E acho que o meu filho pensou ‘eu faço tudo errado e ele me presenteia’. Isso só piorou as coisas. Ele se sentiu poderoso, não sei explicar, mas não ajudou em nada", analisa.

"Não abandone seus filhos"
Com o passar do tempo, Lucas notou que a fuga da realidade difícil que vivia em casa já não era pretexto para seu vício, além de perceber que estava se afundando cada vez mais no vício e desperdiçando diversos momentos bons que a vida poderia lhe proporcionar. A partir disso ele se dispôs a pedir ajuda a mãe.

Finalmente, Luíza se via vencendo a batalha: o filho abrira os olhos para seu real estado e queria iniciar uma mudança drástica na vida. Lucas então resolveu que iria estudar, e optou por ser fora do Brasil. "Quando ele resolveu fazer intercâmbio, falei com o pai para ele dar um jeito", conta a mãe, observando que seguiu alguns critérios para liberar a viagem de Lucas. "Resolvemos achar um lugar que não aceitasse drogas ou que tivesse penas severas para tráfico, e esse tipo de coisa", diz.

O destino escolhido foi a Austrália. Lá desde 2012, o jovem, que já passou por tratamento e se livrou do vício, encontrou o caminho da mudança que buscou depois de viver momentos complicados com o vício nas drogas. Começou a estagiar em uma empresa na área de administração e, em 2013, foi aprovado no vestibular. Agora ele estuda Gastronomia em Sydney, cidade australiana mais populosa.

"Adorei que ele encontrou a vocação e faz o que ama. Vai terminar agora em 2017 o curso", comenta orgulhosa Luíza, sem se arrepender em nenhum momento do que fez pelo rapaz. "Foi perigoso, eu sei disso. Mas eu não poderia abandonar meu filho. Se eu pudesse falar uma coisa para todas as mães é: ‘Não abandonem seus filhos. Como você vai abandonar algo que foi gerado dentro de você? Seja forte, guerreira, afinal, mãe é isso", afirma.

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Jornal da Paraíba

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