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VIDA URBANA

Ruartes, luz para gente sem teto

Programa usa a arte para mudar a vida de pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Publicado em 21/03/2015 às 6:00 | Atualizado em 16/02/2024 às 13:06

“Tem gente que chega pra ficar, tem gente que vai pra nunca mais, tem gente que vem e quer voltar... tem gente que vai e quer ficar”. A letra da música ‘Encontros e Despedidas’, de Milton Nascimento, descreve parte da rotina dos abrigados nas Casas de Acolhida da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP). Recolhidos das ruas e convidados a mudar o destino pelos educadores do Ruartes, eles encontram uma luz para um novo caminho e esperança para tentar um novo recomeço.

Há mais de seis anos morando nas ruas, Francisco Ferreira de Oliveira, 58 anos, já havia perdido as esperanças. “Eu vivia bêbado pelas ruas, já passei por quase tudo nessa vida e por várias vezes cheguei a ver a morte de perto. Uma vez um homem ia colocando fogo em mim. Eu dormia na calçada dele. Nesse dia, senti um cheiro forte de gasolina e desconfiei. Na verdade, foi Deus que me protegeu e me deu esse livramento. Então, quando o Ruartes me encontrou eu vi uma luz. Foi um milagre”, contou Francisco que foi resgatado das ruas em 2014.

Há dois meses, ele vive em uma casa de acolhida no Bairro dos Estados, na capital. No local, ele tem moradia de qualidade, alimentação, direito ao lazer, acompanhamento médico e psicológico. Nesse período, ele se livrou do vício do álcool. “Quando eu sair do abrigo, vou reconstruir minha vida e voltar para a igreja. Minha família ficou muito feliz em ter me reencontrado, eles achavam que eu já tinha até morrido. Agora estamos voltando a ter vínculo familiar e minha mãe está construindo um quartinho pra me tirar daqui. Eu só agradeço isso tudo ao Ruartes”, declarou.

O cadeirante Diego Nascimento Silveira, 26 anos, também viu no programa a oportunidade de reconstruir sua vida. “Eu era usuário de crack e morava nas ruas desde 2011. Quando o Ruartes me achou, eu havia saído do hospital há poucos dias e não sabia pra onde ir, pois procurei minha família, mas meu pai não me aceitou de volta em casa. Agora vejo uma oportunidade de reestruturar minha vida. Juntar um dinheiro e sair daqui para um lugar meu. Pra rua eu não volto”, afirmou.

O programa é especializado em abordagem social às pessoas em situação de rua, de vulnerabilidade e risco social em João Pessoa e encaminhá-las para programas assistenciais e abrigos municipais e, em alguns casos, é possível a reintegração familiar. O Ruartes acredita que é mais fácil sensibilizar as pessoas na abordagem através das artes, principalmente crianças e adolescentes.

Atualmente, existe uma média de 100 pessoas dormindo nas ruas em locais como Lagoa, praças do Centro da cidade, marquises de lojas, mercado público e praia. No período diurno, mais de 40 delas são atendidas diariamente no Centro Pop Municipal. No local, esses moradores de rua podem se alimentar, tomar banho e praticar oficinas e atividades lúdicas.

'TRABALHO DIFÍCIL, MAS GRATIFICANTE'
De acordo com a coordenadora do Ruartes e pedagoga, Maria Amparo dos Santos, o programa é responsável por proporcionar atendimento emocional, social, comunitário e educativo. “É um trabalho difícil, mas gratificante. Nem sempre conseguimos convencê-los a sair dessa situação. Estar na rua para muitos deles é fascinante, mas quando eles nos escutam, sabemos que ali está nascendo uma nova vida. Então, não os enxergamos como ‘coitadinhos’ e, sim, como sujeitos que têm direito e que tentamos garantir”, declarou.

Segundo a pedagoga, a desestruturação familiar, a falta de investimento estatal em políticas socioeducativas, o abandono, o falecimento dos pais, o abuso e a fome são alguns dos motivos que levam diariamente milhões de crianças e adolescentes a se exporem ao risco de viver nas ruas.

“É importante entender a complexidade do assunto e não culpar a criança de rua por sua situação. Os jovens não têm a adequada formação e maturidade que permitem escolher o que é melhor para si, todavia, isso não anula o fato de que temos que escutá-los e respeitá-los. No entanto, não se pode abrigar uma criança de rua contra a vontade dela”, explicou Amparo.

LEGISLAÇÃO
É dever do Poder Público assegurar com absoluta prioridade a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, o lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade e o respeito. A Constituição Federal brasileira e o Estatuto da Criança e do Adolescente deixam claro que as crianças e adolescentes são, antes de tudo, sujeitos de direitos que devem contar com a prioridade absoluta das políticas e planejamentos socioeconômicos.

META
O Ruartes tem como meta garantir os direitos de crianças e adolescentes levando-os a se reconhecerem como sujeitos de direitos e prioridade absoluta, resgatar a cidadania de jovens, adultos e idosos com os vínculos familiares e comunitários rompidos e buscar na rede de assistência mecanismos que venham coibir o impacto do abandono na vida dos que vivem em situação de rua. O programa é composto por uma equipe de 17 educadores, cinco técnicos e dois motoristas, dividida em duas turmas, diurna e noturna.

DENUNCIE
Ao ver uma criança ou adolescente em situação de rua (pedindo esmola, dormindo nas calçadas, fazendo uso de drogas, sendo obrigada a trabalhar) é essencial notificar o Conselho Tutelar da região e exigir que a Vara da Infância e da Juventude apure o caso. A população também pode ligar para o Ruartes, através do telefone 0800 282 7969.

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Jornal da Paraíba

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