Sete unidades de saúde interditadas

Salas mofadas, cômodos apertados, cozinha funcionando junto com sala de vacina, ausência de rampas para cadeirantes e pias sem sabão ou toalha para fazer a higienização das mãos. Estes foram alguns dos problemas que motivaram a interdição de sete Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSFs), ontem, em João Pessoa, por equipes do Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB) e do Conselho Regional de Enfermagem da Paraíba (Coren-PB). A partir de hoje, as sete UBSFs ficarão sem médicos para atendimento à população.

No período da manhã, foram interditadas cinco Unidades de Saúde da Família e à tarde foram outras duas. Segundo o diretor de Fiscalização do CRM-PB, Eurípedes Mendonça, a decisão de paralisar o funcionamento das unidades foi tomada após a constatação de que várias irregularidades encontradas já tinham sido comunicadas à Secretaria de Saúde de João Pessoa, após inspeções anteriores, sem, no entanto, ter sido tomada nenhuma providência para solucionar os problemas.

De acordo com Eurípedes Mendonça, a situação encontrada nesses locais é precária e colocava em risco a saúde dos pacientes. As irregularidades encontradas são basicamente as mesmas em todas as unidades: falta de infraestrutura mínima e de conservação. “A sala da médica da UBSF do Róger, por exemplo, estava tomada por mofo. Eu não consegui ficar no local nem dois minutos. Um asmático que entrasse ali certamente teria uma crise em poucos instantes, tamanha era a quantidade de mofo existente”, lamentou.

Em outra unidade, o conselheiro encontrou situação ainda mais constrangedora: uma sala que era usada para consultas médicas não possuía janelas e nem aparelhos de ar condicionado. A única ventilação do lugar era natural e ocorria por meio de uma janela que ficava aberta durante o atendimento. O problema é que essa janela permitia que outras pessoas, que estivessem transitando na unidade de saúde, escutassem a conversa entre o médico e o paciente.

“Isso é um sério flagrante de desrespeito à privacidade do paciente. Consulta médica é algo privativo, que deve ser de conhecimento apenas do profissional e do paciente. A janela permitia não apenas o vazamento desse diálogo, como também constrangia o paciente quando precisasse retirar alguma peça da roupa para se submeter a algum exame”, disse o conselheiro.

Para o CRM-PB, o maior problema das unidades de saúde que foram interditadas é o fato delas funcionarem em casas alugadas por particulares à Prefeitura. Por serem residenciais, esses imóveis não têm infraestrutura adequada para oferecer serviços médicos. “Os cômodos são apertados; os banheiros, inadequados; e há conflito com relação à manutenção dos imóveis: nem locatários e nem os locadores fazem a manutenção dos prédios, por acharem que a responsabilidade pertence ao outro”, disse.

Segundo o presidente do Coren-PB, Ronaldo Miguel Bezerra, que acompanhou as inspeções, a sala de curativos do PSF Róger II já estava sem funcionar por falta de infraestrutura adequada. “Em todos os ambientes da unidade, havia um sério risco à segurança do paciente: sala de vacina e locais de realização de exames citológicos inadequados. Os profissionais de enfermagem não tinham condições mínimas de trabalho”, salientou.

Ainda de acordo com Ronaldo, em outras unidades de saúde, a situação ainda é mais precária. “Há unidades que funcionam há dois anos sem médicos. Apenas com o trabalho dos profissionais da enfermagem”, lamenta.

Através da assessoria de imprensa, a Secretaria de Saúde de João Pessoa informou que todas as UBSFs que foram interditadas ontem já estavam em processo de mudança de endereço.

Enquanto isso, os Centros Integrados de Assistência à Saúde (Cais) deverão dar assistência aos pacientes das unidades interditadas. O setor de comunicação ainda destacou que uma das unidades interditadas (Geisel III) será transferida para um prédio novo previsto para ser inaugurado na próxima sexta-feira, no bairro do Geisel.