'Touca Inglesa' é estratégia para tratamento de câncer com menos danos psicológicos

“Quando você recebe o diagnóstico [de câncer] já é horrível e a mulher pensa em duas coisas: primeiro em morrer e segundo em cair os cabelos”, disse a psicóloga Maria Carla de Carvalho, de 47 anos. Depois de presenciar o tratamento de câncer de mama da irmã, Carla ficou receosa quando recebeu o mesmo diagnóstico. Como uma mulher vaidosa, ela queria se curar da doença, mas queria evitar os transtornos que viu a irmã passar. Ela decidiu utilizar a Touca Inglesa, uma tecnologia criada no Reino Unido, que está disponível em João Pessoa há 3 anos.

Na época, a psicóloga morava na cidade de Campina Grande e vinha pelo menos uma vez por semana para realizar o tratamento em João Pessoa por ser o único lugar que disponibiliza a Touca. Segundo ela, o sacrifício tinha um custo benefício bom. “Minha irmã teve que raspar o cabelo e decidiu comprar uma peruca de fio de cabelo natural para não ficar aparente. Usando a touca, eu mantive meu cabelo”, disse. O tratamento com a touca é particular e o plano de saúde não cobre.

O sistema da Touca Inglesa, uma máquina ligada a uma touca especial, resfria o couro cabeludo do paciente a uma temperatura entre 18ºC e 22ºC, o que permite a menor absorção dos medicamentos da quimioterapia nessa região e, por isso, diminui a queda do cabelo.  “Antes de aderir a Touca, eu pesquisei sobre e vi que muita gente reclama por ser muito frio”, contou Carla sobre o único ponto negativo, segundo ela. “Realmente é uma coisa gelada e incômoda. Mas, depois que passam os 10 primeiros minutos, parece que você não está com mais nada na cabeça”, completou.

As sessões de quimioterapia demoram, em média 4 horas. No caso de Carla, as sessões chegaram a durar 8 horas ou mais devido à um processo alérgico. “Eu chegava de manhã na clínica e saía de noite”, contou. O aumento do tempo era devido a medicação estar diluída. O paciente coloca a touca 30 minutos antes da sessão de quimioterapia e fica com ela até 1 hora depois. Só depois de terminar a sessão de quimioterapia e do tempo necessário para a touca que Carla voltava para sua casa em Campina Grande. “Eu perdi cabelo, mas não fiquei com buracos na cabeça, nem com falhas”, disse Carla feliz com o resultado.

Recomendações

Carla contou que quando solicitou o tratamento com a Touca Inglesa ela recebeu algumas recomendações sobre os cuidados que devem ser feitos em casa. “Me recomendaram usar shampoo neutro, não pentear muito o cabelo, não passar muito a mão no cabelo”. O cabelo se mantém sensível, o que acontece é uma diminuição da penetração dos remédios na região capilar. Essas não são os únicos cuidados. Também é importante que a pessoa não realize nenhum outro tratamento químico em salões de beleza, como escovas progressivas ou pintura.

Explicação técnica

O médico oncologista Jean Pereira explica que o objetivo da touca é diminuir o efeito da medicação onde ela não é necessária. “Como a maior parte das quimioterapias vão pela corrente sanguínea e vão para todo o organismo, no couro cabeludo ela é, teoricamente, desnecessária”, informou o médico. Segundo ele, essa tecnologia possibilita reduzir em até 80% a queda de cabelo dos pacientes, no caso de medicações mais brandas, e em 50%, no caso de medicações mais pesadas.

A utilização dessa técnica depende da indicação do médico e de adequações do paciente. “As doenças hematológicas, que são doenças que localizadas no sangue, não tem como utilizar a touca”, explicou o médico dizendo que isso diminuiria a eficácia do tratamento. Também é contra indicado para pacientes que possuem câncer de cabeça e pescoço. “Normalmente pacientes que tem câncer de mama ou de ovário, sem metástase no couro cabeludo, pode usar a touca sem se preocupar”.

O médico garantiu a segurança da utilização do aparelho. “A incidência de metástase no couro cabeludo independe da utilização ou não da touca”, disse, garantindo a segurança para o paciente. Evitando a queda do cabelo, o médico afirmou que melhora consideravelmente a aceitação do tratamento pelo paciente.