Unidades de Saúde da Família atendem 12,5 mil casos de diarreia em JP

Somente no ano passado, 12.500 pessoas deram entrada nas Unidades de Saúde da Família (USFs) de João Pessoa com quadro de diarreia aguda. O número elevado de casos, conforme o gerente de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Daniel de Araújo, pode ter relação com a qualidade da água armazenada e utilizada pelos pacientes ou, ainda, com algum alimento ingerido.

Com cinco netos entre dois e oito anos de idade, a empregada doméstica Eunice de Castro, de 48 anos, declarou que sabe bem o que é ficar doente ou ter um dos seus pequenos acometidos por crises de diarreia. Recentemente, seu neto mais novo apresentou os sintomas, o que, para ela, foi preocupante. “A gente aqui na comunidade Silva Ramos de vez em quando fica com diarreia. Seja por causa da água, que nem sempre é de boa qualidade, ou por conta de alguma coisa que eles pegam na rua. A gente faz o possível para se prevenir, mas nem sempre dá. É horrível, mas, quando a gente fica mal, corre para o postinho e busca se tratar”, comentou.

Os netos de Eunice não são os únicos a sofrerem com o problema nessa comunidade. Além das crianças, muitos adultos também relataram terem sido acometidos recentemente por casos de diarreia. “Eu mesmo de vez em quando fico doente e é daquele jeito, da cama para o banheiro. Eu nem vou para o posto de saúde porque nem sempre a gente é bem tratado. Me cuidei em casa. Mas não é difícil a gente ficar doente”, revelou o desempregado João Batista do Nascimento, de 50 anos.

Do total de casos de diarreia aguda diagnosticados na capital, três mil foram atendidos pela Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Oceania. Apesar do conhecimento do local em que as pessoas foram tratadas, Daniel de Araújo explicou que não é possível delinear de onde esses pacientes provêm ou que regiões da capital apresentam má condição de água para consumo. “Esses episódios, de vômito ou diarreia, trazem um alerta. Em João Pessoa, todas as unidades de saúde recebem pacientes com quadro clínico de doença diarreica aguda. Lá eles fazem o tratamento. A partir daí, nós fazemos a vigilância epidemiológica e damos o start para os demais setores, que avaliarão, também, a qualidade da água que está sendo ofertada”, explicou.

Segundo o gerente de Vigilância Ambiental e Zoonoses (Gvaz) da SMS, Nilton Guedes, a água ofertada pela Cagepa atualmente é boa, no entanto há outros vilões quando o assunto é a qualidade. Ele explicou que duas das maiores preocupações da Gvaz hoje são o armazenamento da água nas casas, por meio de cacimbas ou caixas d'água, e a perfuração indevida de poços. Além de grande transmissora de doenças por meio do consumo, essa água não monitorada pode ser um vetor para a proliferação de mosquitos. “Nossa preocupação mesmo é com a falta de higienização dos reservatórios instalados pelos moradores, levando ao criatório de mosquitos, além da perfuração de poços artesianos, que muitas vezes não têm água potável, mas que é consumida mesmo assim”, comentou Guedes.

Ele reforçou que quando alguém quiser perfurar um poço, precisa ir à Aesa (Agência Executiva de Gestão de Águas da Paraíba), solicitar a autorização para perfurar, fazer a outorga e nós monitoraremos esse poço." A população precisa se conscientizar quanto à sua corresponsabilidade na qualidade da água que consumimos”, complementou.