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VIDA URBANA

Vício em 'tarja preta' é tão ruim quanto crack

Especialista adverte que o vício em medicamentos psicotrópicos pode ser mais difícil de abandonar que o uso de droga.

Publicado em 16/12/2012 às 10:31

“Hoje eu sou totalmente dependente do medicamento e não consigo me imaginar sem ele”. Foi uma decepção amorosa ocorrida há cinco anos que levou Juliana Mota (fictício), de 30 anos, a se tornar dependente do medicamento Rivotril (Clonazepam). O vício em medicamentos tarja preta pode ser mais difícil de abandonar que o uso do crack. A afirmativa é da diretora do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps-AD) de João Pessoa, Marileide Martins.

Das 200 pessoas atendidas mensalmente no local, pelo menos 20% apresentam algum tipo de dependência em medicamentos psicotrópicos. O consumo pode começar aos poucos, para se livrar de uma dor, conseguir dormir ou esquecer os problemas, mas a dependência química vem logo em seguida.

“Eu tinha um noivo, nós íamos nos casar e eu acabei descobrindo que ele mantinha um outro relacionamento. Então isso me desestabilizou emocionalmente, acabou tudo e 'virou a minha cabeça'. Foi quando eu comecei um tratamento psiquiátrico onde foi receitado o Rivotril. Hoje, eu tomo um antes de dormir e não consigo viver sem ele”, contou Juliana Mota.

O tratamento foi iniciado com 0,5 miligramas (mg) da substância e hoje já chega a 2mg. Quando tentou interromper o tratamento por conta própria, ela foi surpreendida por uma forte irritação. “Eu não consigo dormir de forma alguma e me sinto muito irritada. Nunca procurei tratamento para deixa o vício porque não tenho condições psicológicas para isso, por enquanto o uso não me incomoda”, afirmou Juliana.

No Caps-AD, a morfina, substância extraída do ópio e um dos analgésicos mais ativos que existem, é o medicamento que apresenta o maior número de usuários dependentes. Apenas três dias de uso são suficientes para causar dependência química.

“Nós atendemos muitos viciados em morfina. O paciente sofreu um acidente, passou dois meses na urgência recebendo esse medicamento e já se torna dependente. Apenas três dias de morfina são suficientes para causar o vício. Você quer sempre aquilo e acha que não consegue mais sobreviver sem o medicamentos”, revelou Marileide Martins.

Uma das pessoas atendidas no Caps é Anderson Andrade (fictício), que após experimentar a maconha partiu para as drogas lícitas e permaneceu viciado em medicação de uso controlado por oito anos, o que o tornou catatônico. O rapaz segue em tratamento há dois anos, mas ainda não conseguiu se livrar do vício.

“Todo mundo quer remédio, quer acabar com a sua dor. E nossa cultura infelizmente é assim, qualquer dor que sentimos recorremos a um remédio. É assim que essas pessoas se sentem”, afirmou Marileide Martins.

Os abusos relacionados ao uso indiscriminado de medicamentos tarja preta são expressos através de pesquisa realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que apontou o Clonazepam, tranquilizante de tarja preta, como sendo o segundo medicamento mais vendido do Brasil durante o ano passado. Foram comercializadas cerca de 15 milhões de caixas do medicamento, que é indicado para casos de síndrome do pânico, ansiedade, distúrbio bipolar, agorafobia e depressão.

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Jornal da Paraíba

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