COTIDIANO
Vigia do caso Mércia diz à polícia de SP ter sido torturado em Sergipe
Evandro alega ter sido agredido para acusar Mizael. Delegado Oliveira Filho, de Sergipe, nega 'peteleco' em suspeito.
Publicado em 19/07/2010 às 17:00
Do G1
O vigia Evandro Bezerra Silva, de 38 anos, disse à Polícia Civil de São Paulo na tarde desta segunda-feira (19) que foi torturado por policiais em Aracaju, Sergipe, para acusar o advogado e policial militar aposentado Mizael Bispo de Souza pelo assassinato da advogada Mércia Nakashima. Em carta enviada ao G1 e publicada nesta segunda, o vigilante respondeu que foi obrigado a mentir para a polícia porque não aguentava mais ser sufocado com saco plástico na cabeça.
Ao sair da sede do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), no Centro da capital paulista, Evandro afirmou a jornalistas: “Os policiais de Aracaju me agrediram”. Indagado, o delegado que investiga o caso, Antonio de Olim, confirmou a que o vigia afirmou em depoimento ter apanhado na capital sergipana. O policial, porém, não quis dar mais detalhes do que o segurança falou. "Ele [Evandro] disse que vai falar em juízo agora", afirmou Olim.
Olim também afirmou que não fará uma acareação entre Evandro e Mizael, que estava programada para esta terça-feira (20). O depoimento do ex, no entanto, foi confirmado para terça.
'Peteleco'
Procurado, o delegado Antonio Francisco de Oliveira Filho, da Polícia Civil de Sergipe, porém, negou as acusações. “Aqui, ele não tomou peteleco”, afirmou nesta segunda-feira (19) por telefone ao G1, reiterando que Evandro não sofreu nenhuma agressão para mudar a versão dada no primeiro depoimento.
Considerado cúmplice de Mizael e indiciado juntamente com o ex-namorado da advogada por envolvimento no crime, o segurança havia sido preso em 9 de julho, no interior de Sergipe. Lá, inicialmente ele negou saber da morte de Mércia aos policiais sergipanos. Depois, na presença da polícia paulista, passou a dizer que Mizael matou a ex por ciúmes numa represa em Nazaré Paulista, interior de São Paulo, em 23 de maio. O vigilante também contou em depoimento ter ajudado o criminoso na fuga, ao dar carona para ele.
Para confirmar as informações prestadas acima por Evandro, o DHPP filmou e gravou as declarações do segurança, que não aparentava sinais de agressão e falava tranquilamente com o delegado Antonio de Olim. Outras testemunhas também estavam presentes.
“Como uma pessoa foi torturada dando uma entrevista tranquila daquela? Sinceramente, não acredito que doutor Olim tenha torturado ele. Eu também não torturei. Ele, como viu que Mizael foi solto, deve ter pensado: ‘vou inventar que apanhei e mudar minha versão para poder tentar a soltura’. O argumento da soltura é razoável. Se Mizael foi solto, por quê Evandro tem que estar preso?”, afirmou o delegado Oliveira Filho.
Exame de corpo de delito
De acordo com o delegado de Sergipe, todos os procedimentos foram tomados para garantir a integridade física de Evandro. “Exame de corpo de delito foi feito. Não houve nenhum toque nele. A prisão dele foi a mais tranquila do mundo. Não acredito que ele tenha sido torturado. Doutor Olim conduziu o depoimento da melhor maneira possível. Ele [Evandro] negou tudo na primeira versão. Mas depois, ele foi confrontado com o que foi colhido no depoimento. E ele cedeu. Acredito que ele está é mentindo vendo que o outro foi solto”, disse Oliveira Filho.
“À noite me levarão [SIC] pros [SIC] fundos, meteram um saco plástico na minha cabeça, enrolaram com fita crepe e me disseram que eu tinha que acusa [SIC] o Mizael, que não pegava nada para mim. Eu ainda resisti um pouco, cheguei a dismaia [SIC], jogarão [SIC] água na minha cara, me puzero [SIC] de novo o saco plástico e disserrão [SIC] que quando eu quizesse [SIC] falar, era para eu bater o pé, não aguentei!”, escreveu Evandro ao responder a pergunta feita pela reportagem sobre o motivo que o levou a declarar que não tinha participado do homicídio e depois mudar a versão. Apesar disso, ele não informa quem seriam os seus supostos torturadores.
Além da Polícia de Sergipe, a de São Paulo também negou qualquer agressão ao vigilante.
Em um questionário enviado na sexta-feira (16) ao segurança pelo G1, por meio de seu advogado José Carlos da Silva, ele escreveu que mentiu ao dizer que foi seu “ex-patrão” que matou a advogada. “É mentira. O meu depoimento certo foi o primeiro, que dei em Canindé [de São Francisco, a 200 km da capital Aracaju],e na frente da imprensa. Depois, eu fui pressionado de um jeito que confessaria qualquer coisa”, alegou o vigia, que respondeu de próprio punho a 17 perguntas feitas pela reportagem em duas folhas de papel.
Para comprovar a veracidade das informações serem mesmo de Evandro, policiais disseram à reportagem que a letra nas folhas é parecida com a do vigilante. O G1 também comparou a assinatura na carta com a que o vigilante deixou nos depoimentos oficiais e verificou que há semelhança entre elas.
Evandro respondeu ao questionário de dentro da carceragem do 1º Distrito Policial, em Guarulhos, na Grande São Paulo. Lá, ele escreveu que aceitou “responder essas perguntas com minha própria letra porque não aguento mais ficar esperando o juiz me chamar para eu falar a verdade e esplica [SIC] que fui forçado a falar mentira”.
De acordo com o advogado de Evandro, as autoridades têm de apurar as denúncias feitas pelo segurança. “Também devo entrar com um pedido de habeas corpus contra a prisão de meu cliente”, afirmou o defensor José Carlos da Silva.
O crime
Mércia foi vista pela última vez na casa dos seus avós, em Guarulhos, na Grande São Paulo, em 23 de maio. O carro da advogada foi localizado submerso no dia 10 de junho em uma represa em Nazaré Paulista, após denúncia feita por um pescador que viu o carro entrar na água. No dia seguinte, o corpo da mulher foi encontrado no mesmo local.
Mizael chegou a ter a prisão temporária decretada, mas ela foi revogada pela Justiça, que também negou pedido de prisão preventiva para o ex. O advogado também nega o crime.
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