CULTURA
80 anos de Quinoterapia
Cartunista 'Quino' criador da garotinha contestadora 'Mafalda' completa 80 anos nesta terça-feira (17).
Publicado em 17/07/2012 às 6:00
"Não gosto de matérias jornalísticas. E me sinto um idiota posando para fotos", declarava, há 2 anos, o cartunista argentino Quino à Folha de S. Paulo, direto de Buenos Aires. O recluso senhor sopra 80 velhinhas nesta terça-feira, embora nos registros oficiais conste que nasceu no dia 17 de agosto, segundo a biografia no seu site oficial.
Filho de imigrantes espanhóis, Joaquín Salvador Lavado nasceu em Mendoza, província argentina nas bordas dos Andes, e logo foi apelidado de Quino para distinguir do seu tio desenhista, Joaquín Tejón, a mesma vocação que guiou o sobrinho até hoje.
A criação mais popular do cartunista octogenário figura como exemplos em inúmeras gramáticas portuguesas, provas de vestibulares, tiras de jornais e álbuns de coletâneas: a eterna garotinha contestadora que adora os Beatles e detesta sopa chamada Mafalda.
“Acredito que muito do impacto de Mafalda se deva a dois fatores”, analisa o jornalista e pesquisador Paulo Ramos, autor de Bienvenido - Um Passeio Pelos Quadrinhos Argentinos (2010). “O primeiro é o fato de a tira dialogar com temas reais e adultos, algo pouco comum em histórias envolvendo crianças na década de 1960 – quando a série começou a ser produzida na Argentina. O segundo fator foi as tiras ganharem sistemáticas coletâneas, tanto dentro quanto fora da Argentina. Numa delas, publicada na Europa, um elogioso prefácio de Umberto Eco (presente na edição brasileira Toda Mafalda) ajudou a coroar a popularidade da criação de Quino”.
Considerado “o melhor cartunista do mundo”, segundo o jornalista paulistano Álvaro de Moya, um dos mais importantes pesquisadores de quadrinhos do Brasil, o argentino costuma dizer que a sua personagem é "apenas uma mínima parte" de sua carreira.
Faz quase 40 anos que Quino não produz as tiras da Mafalda (com exceção de ilustrações para campanha da Declaração Universal dos Direitos da Criança da Unicef, em 1976), mas não parou de rabiscar na sua prancheta até 2009, ano que declarou sua aposentadoria por tempo indeterminado. “Fora das tiras, a produção dele se resume aos cartuns, campo em que, se não estiver superior em qualidade, no mínimo se equipara ao que ele fez com Mafalda”, compara Paulo Ramos.
Para o autor de Bienvenido, são várias as qualidades presentes na sua obra. “Acredito que a principal delas seja trabalhar gêneros corriqueiros, caso das tiras cômicas e dos cartuns, de forma singular e inusitada, mantendo e superando a criatividade.”
CINQUENTONA EM 2014
Mesmo com uma trajetória de quase 60 anos como cartunista (veja os álbuns publicados pela editora Martins Fontes/WMF), Mafalda sempre será a obra mais famosa de Quino, sendo traduzida em diferente línguas europeias, bem como em chinês tradicional.
No final de agosto de 2009, uma estátua da personagem, que se encontra sentada em um banco público, foi inaugurada no bairro de San Telmo, em Buenos Aires. A escultura, desenvolvida pelo escultor Pablo Irrgang, foi instalada em frente ao prédio onde o cartunista morou durante muitos anos.
No dia 15 de março foi marcado por várias homenagens – em jornais, sites e redes sociais – aos 50 anos da pequena ‘contestadora’. O próprio criador, no seu site oficial, desmentiu a data: "O dia da primeira publicação de Mafalda foi em 29 de setembro de 1964, na revista Primera Plana. Esse é o dia do nascimento da Mafalda como personagem de quadrinhos.
Qualquer outro cálculo está incorreto", declarou.
O mal-entendido se deve a uma campanha publicitária feita por Quino, que deveria ter sido publicada no jornal platino Clarín, em 1962, mas nunca chegou a ser divulgada devido ao cancelamento do contrato na época.
Mesmo longe da prancheta, o cartunista tem muito trabalho pela frente. No começo deste mês foi inaugurado o Museu do Humor, em Buenos Aires, depois de 12 anos de negociação. Quino se encontra entre os diretores do local, entre grandes artistas como Garaycochea, García Ferré, Sábat e Mordillo.
O acervo do museu tem tiras publicadas nos extintos jornais El Mosquito e Don Quijote, além de ilustrações de artistas contemporâneos famosos na Argentina e no exterior.
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