CULTURA
80 anos muito bem vividos
João Donato faz aniversário hoje e comemora com shows, programa de TV, exposição, gravação de discos e lançamento de CDs.
Publicado em 17/08/2014 às 6:00 | Atualizado em 07/03/2024 às 16:00
A lembrança de João Donato, que completa, neste domingo, bem vividos 80 anos de vida, ainda é nítida: instalado em um hotel na praia de Tambaú, em João Pessoa, quando acompanhava Gal Costa na turnê ‘Cantar’, em abril de 1975, recebia uma ligação no quarto. Era alguém da universidade querendo entrevistá-lo.
“Eu respondi assim: -Não, a Gal Costa não está neste quarto. Está em outro. E o rapaz do outro lado da linha me disse: -A gente quer falar é com você!”, recorda João, em entrevista por telefone. “Eu fiquei muito feliz por ter encontrado, aí na Paraíba, quem se interessasse por mim. Eu tinha acabado de chegar dos Estados Unidos, ainda não tinha saído o Songbook do Almir Chediak (lançado em 1999), não tinha feito ‘A Paz’, nem ‘Simples carinho’, não tinha a projeção que tenho hoje e os paraibanos já estavam atrás de mim”.
Donato já era um gigante naquela época. Recém-chegado de uma temporada de dez anos nos Estados Unidos, onde trabalhou com mestres do quilate de Nelson Riddle, Herbie Mann e Bud Shank e, egresso da bossa nova carioca, o acreano já tinha um nome estelar em meados dos anos 1970 no elenco dos brasileiros que ajudaram a promover, como brilhantismo, a nossa música no exterior.
Embora não tenha feito shows na Paraíba desde essa participação, a relação de João Donato com paraibanos é antiga e profunda. Ainda nos EUA, reencontrara Sivuca (1930-2006), que havia conhecido na adolescência. “Quando eu conheci o Sivuca eu fiquei impressionado. Eu era adolescente, tocava acordeom e ele já tocava tudo”, comenta o músico, que lamenta nunca ter dividido o palco com ele.
Ao voltar ao Brasil dessa temporada americana, deu de cara com a música Jackson do Pandeiro (1919-1982). Alheio ao que acontecia na música brasileira (além do seu círculo de amigos) ao desembarcar no Rio de Janeiro, no finalzinho de 1972, João Donato foi situado pelo jornalista e radialista Adelsão Alves, que além do rádio, trabalhava na extinta gravadora Odeon e gravou algumas fitas para o pianista escutar.
“Eu fui apresentado à música do Jackson do Pandeiro pelo Adelsão Alves, que formou diversos artistas e tinha o Jackson como um dos exemplos da música brasileira”, confidencia. “Ele me disse que havia dois exemplos do que existia de melhor na musica brasileira de então: Jackson do Pandeiro e Zé Bezerra... o Zé Bezerra da Silva!”, recorda. “Esses caras são os bons’, dizia ele”.
“Jackson do Pandeiro, Sivuca e Luiz Gonzaga são grandes influências na minha música”, admite João Donato, que ao voltar para o Brasil gravou álbuns celebrados, como Quem é Quem (1973) – que traria, pela primeira vez, a voz do instrumentista em algumas canções - e Lugar Comum (1975).
Nos EUA, Donato ainda gravou um dos seus discos mais festejados pelos fãs, A Bad Donato (1970), calcado no fusion, na psicodelia e na sonoridade funky. “Ali foi um acontecimento único. Eu não pretendo seguir aquele estilo de gravação não, embora goste de diversificar minhas gravações”, avisa.
A carreira de Donato ganhou popularidade a partir dos anos 1990. O songbook de Chediak e algumas canções de sucesso fizeram a agenda do músico cada vez mais concorrida. Tão concorrida que a celebração pelos seus 80 anos irá entrar por 2015, quando será lançada, em abril, a biografia do músico pelo jornalista Antônio Carlos Miguel.
Além de uma série de apresentações, dentro e fora do Brasil (segundo ele, nenhuma programada para o Nordeste, ainda), a vida e a obra de João Donato serão comemorados com exposição sensorial assinada pela artista plástica Ana Durães e pelo designer Claudio Fernandes, por uma série em quatro capítulos que o Canal Brasil vai exibir em dezembro, sob a direção de Tetê Moraes, e dois novos CDs.
Um deles, duplo, programado para ser gravado em dezembro, no Rio, será destinado ao mercado japonês com músicas de Donato mais standards americanos. O outro foi gravado em junho, também no Rio, e se chamará Bluchanga, título de uma das musicas do disco.
Programado para sair até o final do ano pelo selo dele, o Acre Musical, Bluchanga reúne composições inéditas, parte delas extraídas de um caderninho datado de 1966 que ele trouxe dos EUA e andou folheando recentemente. Nele, João Donato é acompanhado por Robertinho Silva (bateria), Luiz Alves (contrabaixo), Ricardo Pontes (sax), José de Arimatéia (trompete) e Cidinho (percussão).
Além disso, Donato ganhou de aniversário as matrizes de três discos que ele gravou para o mercado internacional e que nunca foram lançados no Brasil: Amazonas (2000), Brazilian Times (2001) e The Frog (gravado com a Sinfônica de São Paulo e lançado em 2001). “Quero lançar esses discos no Brasil, já que eles nunca tiveram edição nacional. Só não sei quando”, responde, dizendo se sentir um menino do alto de seus 80 anos.
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