A força da 'Gravidade'

Este ano, o peso da Gravidade vale ouro: sete estatuetas (das dez indicações) foram para o filme do mexicano Alfonso Cuarón na festa da 86ª edição do Oscar, em Los Angeles, nos EUA, incluindo Melhor Diretor, o primeiro latino-americano a ganhar na categoria.

A proeza se deve notoriamente pelo virtuosismo técnico do longa estrelado por Sandra Bullock, levando os prêmios de Montagem, Fotografia, Edição de Som, Mixagem de Som, Efeitos Visuais e Trilha Sonora.

No geral, a premiação foi tão previsível quanto o peso de uma estatueta dourada cair devido à força da gravidade: mais a ‘cara de Oscar’, o drama histórico 12 Anos de Escravidão ganhou como Melhor Filme, fazendo do britânico Steve McQueen o primeiro cineasta negro a dirigir uma produção que venceu o principal prêmio da Academia de Hollywood.

“Agradeço a todos que merecem não só sobreviver, mas viver. Dedico a todos que sofreram com a escravidão e ainda sofrem hoje”, disse o realizador no seu discurso na cerimônia realizada na noite do último domingo.

Baseado na história verídica de um negro letrado e liberto que é sequestrado em 1841 e forçado a trabalhar em uma plantação no sul dos EUA, 12 Anos de Escravidão ainda arrematou o Oscar de Roteiro Adaptado e de Atriz Coadjuvante para Lupita Nyong'o.

Dentre as produções que saíram de ‘mãos vazias’ está a comédia de David O. Russell Trapaça, que tinha todos os seus atores nas categorias de atuação. Matthew McConaughey e Jared Leto ganharam como Melhor Ator e Melhor Coadjuvante, respectivamente, por Clube de Compras Dallas. O filme que fala sobre preconceito e alternativas de tratamento de soropositivos nos anos 1980 ainda ganhou como Melhor Maquiagem e Cabelo.

Confirmando também seu favoritismo, Cate Blanchett foi premiada como Melhor Atriz pelo seu papel em um longa de Woody Allen, Blue Jasmine, e ainda provocou quem não acredita na força de filmes com mulheres como protagonistas: “As pessoas gostam de ver esses filmes e, acreditem, eles dão dinheiro”, alfinetou.

Depois de um jejum de 15 anos, a Itália ganhou sua 11ª estatueta com A Grande Beleza na categoria de Filme Estrangeiro. O diretor Paolo Sorrentino agradeceu às suas fontes de inspiração: Fellini, Scorsese e o futebolista Maradona.

EDUARDO COUTINHO

A apresentadora e comediante Ellen DeGeneres, anfitriã da cerimônia, pintou e bordou no palco.

Na plateia, ela organizou uma ‘selfie’ com seu celular reunindo Jared Leto, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Badley Cooper, Julia Roberts, Kevin Spacey, Brad Pitt, Lupita Nyong’o, Angelina Jolie e outros. O post no Twitter superou 2 milhões de retweets, batendo o recorde do presidente estadunidense Barack Obama.
Distribuiu pizzas para os convidados da cerimônia e depois “passou o chapéu” cobrando pela entrega nas fileiras.

Já no tradicional in memoriam, foram relembrados vários profissionais que morreram após a última edição até agora, incluindo Philip Seymour Hoffman (vencedor de um Oscar por Capote) e o documentarista brasileiro Eduardo Coutinho, ambos mortos no mês passado. No ano passado, junto com José Padilha, Coutinho foi convidado a fazer parte da Academia de Hollywood.

A ‘gafe’ maior da cerimônia foi esquecer o cineasta francês Alain Resnais, diretor do clássico Hiroshima, Meu Amor (1959), morto no último sábado, aos 91 anos de idade e em plena atividade: ele apresentou seu último filme – Amar, Beber e Cantar – na edição deste ano do Festival de Berlim, no mês passado, tendo obtido o Prêmio Alfred Bauer e um prêmio da crítica internacional.