CULTURA
A força do Furacão Elis
Após três décadas sem a cantora, turnê gratuita com participação de Maria Rita passará por cinco capitais e irá homenagear Elis Regina.
Publicado em 05/01/2012 às 6:30
Quando se tem uma memória sonora de músicas que viraram clássicos da MPB, como 'Madalena', 'O bêbado e a equilibrista', 'Querelas do Brasil' e 'Como nossos pais', é praticamente impossível não temperá-la com a voz da 'Pimentinha', alcunha dada pelo poeta Vinícius de Moraes (1913-1980) à Elis Regina (1945-1982).
“Minha música sai natural e espontânea. Eu faço cara feia, sou exagerada nos gestos? E eu com isso? É um problema de quem o acha. Eu sinto as coisas assim e eu simplesmente recorro a isso tudo porque às vezes a palavra não é suficiente para demonstrar às pessoas tudo que se quer dizer, não tem força para isso”, foi o que a cantora gaúcha desabafou em uma entrevista para a revista Fatos & Fotos, em 1966, um ano depois de estourar com a interpretação de 'Arrastão', defendida com sinergia na 1ª edição do Festival de Música Popular Brasileira.
A artista será relembrada no ano em que a sua controversa e prematura morte faz 30 anos (no próximo dia 19) com lançamento de coletâneas, livro, exposição e shows.
Entre os projetos, o mais esperado é a turnê gratuita Viva Elis, onde a sua filha, Maria Rita, visita pela primeira vez o repertório que ecoa nas reminiscências da memória coletiva na voz da 'Pimentinha'. “Eu estou morrendo de medo porque a Elis é de todo mundo, mas a mãe é minha”, chegou a desabafar a cantora na coletiva de lançamento oficial do projeto, em novembro do ano passado.
Idealizada pelo músico e produtor João Marcello Bôscoli, filho mais velho da cantora, Viva Elis vai passar por cinco capitais brasileiras, a partir de março. No roteiro se encontram no mapa as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Porto Alegre, a terra natal da homenageada.
“Desde o começo, a gente tinha essa vontade de fazer um projeto gratuito. Eu e meus irmãos nunca tivemos a intenção de ganhar dinheiro em cima da imagem da nossa mãe", frisou Bôscoli na mesma coletiva de lançamento.
As canções do repertório serão escolhidas pela própria Maria Rita. “Nunca foi segredo o meu desejo de cantar canções já interpretadas por minha mãe, mas sempre comentei que isso aconteceria em um momento de real homenagem a ela“, afirma.
Além das apresentações inéditas, haverá uma exposião itinerante, que deve reunir material raro e pouco conhecido das fases da artista, desde sua infância em Porto Alegre até os seus últimos dias, em São Paulo.
Na mostra que acompanhará os shows serão incluídas fotografias, documentos, todo o acervo fonográfico e vídeos com seus espetáculos como o 'Falso Brilhante', que estreou em 1975 e ficou mais de um ano em cartaz, somando mais de 300 apresentações.
Depoimentos de personagens importantes na história da cantora, como o produtor Nelson Motta, estarão presentes em um documentário, que também integra a exposição gratuita.
“Boa parte desse material a gente já tinha, mas o interessante é que pessoas de todo o Brasil entraram em contato conosco oferecendo acervos sobre ela", relembrou Bôscolli. "Ainda estamos definindo os espaços em cada cidade que vai abrigar a exposição. Ela deve ficar em cartaz pelo menos um mês em cada lugar. O mesmo caso dos shows."
Com patrocínio da Nivea, a verba de incentivo à cultura do projeto, autorizada através da Lei Rouanet, está orçada em R$ 5,8 milhões. "A gente quer manter a memória dela viva, deixar uma contribuição e mostrar o legado da Elis. Por isso buscamos alternativas que possibilitassem bancar isso, que é uma iniciativa cara", colocou o filho produtor.
Ainda não foram divulgados as datas precisas e locais da turnê. "Cada praça está nos oferecendo duas opções e será em locais abertos, porque certamente vai atrair um grande público. Mas ainda estamos definindo", afirmou João Marcello Bôscoli.
MÚSICA INÉDITA
Ao longo do ano, a Universal Music pretende lançar pelo menos dois boxes e dois discos com raridades interpretadas por Elis Regina.
O primeiro box a chegar às lojas ainda neste mês é Elis nos Anos 60, que reúne os 12 álbuns que a cantora gravou nesse período. A caixa inclui um disco com gravações inéditas, como a música 'Comigo é assim', criada por João Bittencourt e José Menezes e que não entrou no álbum Elis Como & Porque (1969).
Um registro ao vivo integral do show Transversal do Tempo, estreado por Elis em 17 de novembro de 1977, no Teatro Leopoldina, em Porto Alegre, também será lançado pela gravadora.
Roteirizado por Maurício Tapajós e Aldir Blanc com a direção musical de César Camargo Mariano, a turnê já teve uma gravação editada no álbum Transversal do Tempo (1978).
Captado ao vivo, diretamente da mesa de som do show realizado no Teatro Ginástico do Rio de Janeiro, o disco apresenta 12 músicas, mas excluiu números como o polêmico 'Gente', composta por Caetano Veloso.
No repertório da época, músicas como a famosa versão de Armando Louzada para 'Fascination', 'Boto', de Tom Jobim e Jararaca, 'Saudosa maloca', de Adoniran Barbosa, e composições de Chico Buarque como 'Deus lhe pague' e 'Construção'.
No âmbito literário, a editora Leya já anunciou que vai relançar uma versão revisada e atualizada da biografia Furacão Elis, antes publicada pela Ediouro. Escrita pela jornalista Regina Echeverria, a obra ganhou as prateleiras das livrarias em 1985 e já teve um relançamento em 2006.
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