CULTURA
A 'Granta' para inglês ler
Há três décadas, a revista Granta organiza, na Inglaterra, uma lista com 'Os 20 melhores jovens escritores britânicos'.
Publicado em 24/10/2013 às 6:00
Há três décadas, a revista Granta organiza, na Inglaterra, uma lista com 'Os 20 melhores jovens escritores britânicos', a semelhança do que fez por aqui, ano passado, tirando o sono de muito autor brasileiro.
Da lista feita nos anos 1980, por exemplo, a Granta ajudou a revelar para o mundo nomes como Ian McEwan, Will Self e Salman Rushdie, o que conferiu a seus editores (como o americano John Freeman, que há pouco deixou o cargo e veio ao Brasil, para a Bienal do Rio) um status de 'antena' de uma geração.
De acordo com Freeman, que assina uma introdução mais interessante que metade dos fragmentos literários publicados na atual coletânea, Granta 11 - Os Melhores Jovens Escritores Britânicos (Alfaguara, 440 páginas, R$ 49,90) procura responder perguntas como: "O que vamos ler no futuro?" ou "O que esses escritores têm a dizer sobre o atual estado ou futuro do Reino Unido?"
A preocupação com o futuro é nítida ao se analisar os critérios adotados pela comissão julgadora, que se diferenciam ligeiramente daqueles importados para cá: dos 150 candidatos (por aqui foram quase uma centena a mais), foram selecionados 20 autores com passaportes britânicos e idades até 40 anos.
Além dos contos ou trechos de romances inéditos, os escritores teriam que ter pelo menos uma obra de ficção publicada ou contratada por uma editora (aqui, bastava ter um conto editado).
Ao contrário do que ocorreu no Brasil, os candidatos não tiveram apenas seus textos lidos e avaliados, mas também os seus livros de ficção. De modo que há textos que parecem fora de compasso com o currículo de publicações e prêmios de quem os assina (há vários deles inclusive traduzidos no Brasil), bem como outros que só confirmam a reputação literária de seus autores.
RESPOSTAS
"O que vamos ler no futuro?" No que depender da literatura feita na Terra da Rainha, finalmente, mais escritoras do que escritores. A maioria esmagadora do índice é de mulheres: apenas oito dos 20 escolhidos são homens.
"O que essas escritoras (convém, por que não, mudar o gênero ao perguntar) têm a dizer sobre o atual estado ou futuro do Reino Unido?" A grande afluência migratória e a construção de uma cultura ainda mais sincrética e cosmopolita: três autoras são de ascendência africana; uma outra é chinesa e outra de Bangladesh. Há ainda um escritor de ascendência indiana e quatro judeus: um deles do Canadá, de origem húngara, e outro de origem americana.
Quase todos os textos são excertos de narrativas mais longas: há poucos contos realmente 'fechados' (como o belíssimo 'Submersão', de Ross Raisin, que fecha o volume). Para o leitor, a Granta britânica (como também a brasileira) há de servir muito mais como um guia de apostas do que como fonte de uma leitura prazerosa.
Se o conto tem agora o seu Nobel para garantir a vitalidade do gênero, o romance tem a Granta. Se ela há de identificar novos McEwans, Selfs e Rushdies, só o futuro realmente poderá dizer.
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