A lira da delicadeza

Após 1 ano de consolidação, em que se firmou como melhor cantora regional no 23º Prêmio da Música Brasileira com um disco em homenagem a Zé do Norte (1908-2008), a paraibana Socorro Lira retoma seu projeto autoral com Singelo Tratado Sobre a Delicadeza (Independente, R$ 34,90).

O novo CD, que será apresentado na próxima semana em show no Sesc Pinheiros, em São Paulo, tem direção artística e produção executiva de Socorro Lira, que divide com o cantor carioca João Pinheiro as interpretações de 13 composições inéditas, todas escritas por ela.

"Eu imaginava dividir esse CD com alguém, um homem, queria uma voz masculina que timbrasse bem com a minha. Conheci João Pinheiro em São Paulo, convidei-o para cantar e ele topou", conta Socorro Lira, que se inspirou em um texto da psicanalista Maria Rita Kehl para chegar ao tema da 'delicadeza', que costura todo o conceito do álbum.

"Esses assuntos me interessam, gosto de olhar as coisas aparentemente sem importância e pouco em voga", diz ela.

"Imaginei como seria falar disso (da delicadeza) do ponto de vista da canção, assim foi que pensei em compor um Singelo Tratato Sobre a Delizadeza. Como compositora, tenho a liberdade de arriscar, errar e até acertar... às vezes. Vai aí um pouco de meu olhar sobre a vida".

DE SAMPA A JAMPA
Gravado entre idas e vindas de São Paulo (onde mora desde 2004) à Paraíba, entre os estúdios do amigo Ricardo Vignini e de Sérgio Galo, o CD tem arranjos e direção musical de Jorge Ribbas, que acompanhou Socorro Lira em sua última turnê pelo Nordeste, no ano passado.

Segundo a cantora e compositora, em março, ela e João Pinheiro farão uma temporada de 3 dias na Sala Funarte Sidney Miller, no Rio de Janeiro. Por enquanto, ainda não há previsão de retorno à Paraíba, que continua a povoar a sua mente com saudades e projetos.

"Gostaria de publicar um CD com música tradicional do Sertão da Paraíba, coisas que considero importantes e que vão mesmo desaparecer, como a Dança de São Gonçalo, de Brejo do Cruz, por falta de uma política cultural eficiente voltada para isso", afirma Socorro Lira.

Lira pretende se incursionar também pelo cinema: "Tenho muita coisa gravada. Quero terminar, este ano, o documentário de Caiana dos Crioulos, em fase de finalização. Enfim, há muito para ser feito e um projeto como esses poderia abrigar várias ações. A ver o que o futuro nos reserva".

Sobre as mudanças que o Prêmio da Música Brasileira proporcionou para sua carreira, Socorro Lira assume um tom brincalhão: "O prêmio me abriu perspectiva, tem mais gente sabendo que eu existo. Sou grata por isso".

Para ela, o reconhecimento por Lua Bonita - Zé do Norte: 100 Anos, quarto volume da série 'Memória Musical da Paraíba', imprimiu um novo ritmo ao seu trabalho: "Estou ‘correndo’ mais, participando de projetos interessantes como interpretar Luiz Gonzaga no seu badalado centenário, no CD O Samba do Rei do Baião, junto com Oswaldinho do Acordeon; esse é um projeto do Instituto Memória Brasil e da gravadora Arlequim e que chega ainda este mês às lojas", avisa.

E finaliza, sempre ciosa do patrimônio cultural nordestino: "Estou cada vez mais preocupada com a criançada e a juventude que nunca assistiu a um filme de arte, a um bom espetáculo de teatro e de música; que jamais lê, sequer, um livreto de literatura de cordel, nada... E digo mais: não é justo esperar dessa geração alguma coisa melhor do que essa meninada está vendo e ouvindo".