CULTURA
A vida e obra de Matisse
Publicado em 07/10/2012 às 8:00
"Se minha história fosse contada em detalhes, deixaria espantados todos que a lessem", escreveu Henri Matisse.
"Quando fui arrastado pela lama, nunca protestei. À medida que passa o tempo, cada vez mais me convenço de quanto fui injustiçado."
Um dos artistas mais revolucionários da história da arte, o francês conhecido por suas telas berrantes, carregadas de cor, passou a vida sendo alvo de ataques de seus contemporâneos, que não entendiam aonde ele queria chegar com sua obsessão.
Da fama de louco à consagração como líder da vanguarda parisiense no começo do século 20, a trajetória de Matisse está agora esmiuçada numa extensa biografia.
Hilary Spurling, a autora de Matisse, Uma Vida (Cosac Naify, 592 págs., R$ 109,00), passou 12 anos fazendo entrevistas e visitando todos os pontos por onde o artista passou em busca da luz de suas obras, compondo um retrato minucioso de seu trabalho.
Embora tenha quase 600 páginas, a versão brasileira do livro é a junção condensada de dois tomos originais escritos por Spurling, que considera essa a edição definitiva da obra, livre de excessos.
"Uma biografia é um retrato da pessoa, como uma pintura", diz Spurling, em entrevista. "Mas, se estiver muito carregada de detalhes, é impossível chegar à essência do personagem."
Matisse concordaria. "Quando fecho os olhos, consigo ver melhor do que com eles abertos", escreveu. "Vejo o tema despojado de detalhes incidentais -é isso o que pinto."
Mas o artista manteve os olhos bem abertos para a luz radiante do sul da França, do Marrocos e até das ilhas do Pacífico para criar suas telas.
Nascido numa zona industrial do norte da França em 1869, Matisse morreu em 1954 aclamado como o pintor do sul, que extraiu do sol do Mediterrâneo a luminosidade de seus trabalhos mais célebres, como 'Dança' e 'Música'.
Mas não foi uma rota sem percalços. Ele encarou a ira do pai, que discordava de sua decisão de ser artista, fugiu para Paris e acabou se decepcionando com um meio artístico incapaz de digerir a vanguarda dos impressionistas então em voga e muito menos de aceitar suas obras.
"Era como chegar a um país onde se fala outra língua", escreveu Matisse. "Achava que seria incapaz de pintar."
Essa dúvida prevaleceu ao longo de toda a carreira. Matisse se questionava o tempo todo e foi atacado por críticos da época pela "confusão deliberada" e "selvageria gratuita" de suas composições.
Em crise, chegou a pensar em se matar. "Seu corpo reagia com violência a tudo que se interpunha entre ele e sua pintura", escreveu Spurling. "E isso ocorreu desde as misteriosas dores nas costas que o afligiam na adolescência."
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