CULTURA
Aconchego nos retalhos da vida
Documentário 'Dominguinhos' estreia em João Pessoa em única sessão diária a partir desta quinta- feira (5) no CinEspaço.
Publicado em 05/06/2014 às 6:00 | Atualizado em 29/01/2024 às 17:33
“Imitava ele mesmo porque não tinha outro caminho. O caminho mesmo do sanfoneiro nordestino era Luiz Gonzaga. E era o meu”, sentenciava o próprio Dominguinhos (1941-2013) no documentário que leva seu nome e estreia no CinEspaço (MAG Shopping), em João Pessoa, em uma única sessão diária a partir desta quinta-feira, sempre às 20h20.
“Eu digo que é o encontro da música com o cinema”, atesta em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA o realizador Joaquim Castro, que divide a direção com dois músicos: Mariana Aydar e Eduardo Nazarian. “Parto de um caminho de cinema cinestésico, sensorial, onde 50% do filme é som e 50% do filme é imagem. Essa organicidade é muito grande”.
Dominguinhos (Brasil, 2014) parte de vários recortes audiovisuais desde a época de infância do pernambucano (com imagens raríssimas de Garanhuns dos anos 1950), até recortes ilustrativos de arquivos como imagens cedidas pela Cinemateca Brasileira, registro de Lampião pelo turco Benjamin Abrahão, sequências de Garrincha - A Alegria do Povo (1962), de Joaquim Pedro de Andrade, e Sem Essa Aranha (1970), de Rogério Sganzerla, além de imagens ficcionais que o próprio Joaquim Castro produziu munido de uma câmera super-8 para remeter à memória.
“A viagem de arquivo é muito impressionante. O filme é todo costurado com a própria história do cinema. A narrativa não é só em 1ª pessoa. O Brasil conta a história de Dominguinhos também”, explica.
O documentário resgata vários encontros de Dominguinhos com seus eternos parceiros musicais. Dentre eles estão o ‘Rei do Baião’ Luiz Gonzaga (1912-1989), que o desafia na peleja musical do ‘Xaxado’ (composição do Velho Lua e Hervé Cordovil) e ‘Assum preto’ (de Gonzagão e Humberto Teixeira), o duo com Hermeto Pascoal com ‘Tico-tico no fubá’ (de Zequinha de Abreu), ao lado de Gil interpretando a clássica ‘Eu só quero um xodó’, composição do personagem principal com a então companheira Anastácia, parceira de mais de 210 músicas, “fora as que ela queimou com raiva de mim”, segundo depoimento do próprio Dominguinhos.
Para ilustrar essas desavenças, também é mostrado a canção ‘Matando na unha’ com Anastácia e um dos grandes momentos do filme: Nana Caymmi embargando a voz na gravação de ‘Contrato de separação’, mais uma composição da dupla. “A montagem tem uma grande liberdade. Ela se dá pelo assunto e não em ordem cronológica”, avisa Castro, que também editou obras como o filme-ensaio sobre Ney Matogrosso, Olho Nu (2012), de Joel Pizzini.
A época dos ‘Anos de chumbo’ é retratado com trilha sonora de ‘João e Maria’ (de Chico Buarque e Sivuca) na voz de Nara Leão (1942 -1989) e no fole do pernambucano. A paraibana Elba Ramalho aparece no filme com ‘De volta pro aconchego’ (Dominguinhos e Nando Cordel).
O longa-metragem também mostra seu lado de “sanfoneiro pop” quando participou da banda de Gal Costa, que canta no filme ‘Sebastiana’ (de Rosil Cavalcanti) e ‘Índia’ (versão de José Fortuna para canção de Asunción Flores e Ortiz Guerrero).
“Sempre amei o Dominguinhos”, revela a cantora e diretora Mariana Aydar. “Nunca tive a ambição de fazer um documentário.
O filme é uma homenagem com todo o nosso amor para grandiosa música desse homem que, quando mais vai pra regionalidade, mais universal ela representa. Assim era Dominguinhos. Grande, muito grande”.
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