Adeus, rainha da televisão

O corpo da apresentadora Hebe Camargo, morta no dia 29, aos 83 anos, foi enterrado no domingo, no cemitério Gethsemani, em São Paulo, sob aplausos de cerca de 600 pessoas no local, entre amigos, familiares e admiradores, além de centenas de coroas de flores. Hebe foi vítima de uma parada cardíaca enquanto dormia em sua casa.

Pela manhã, no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo, houve uma missa de corpo presente rezada pelo padre Marcelo Rossi, que cantou músicas de Roberto Carlos como ‘Jesus Cristo’ e ‘Como é grande o meu amor por você’. A assessoria do local divulgou que cerca de 8.000 pessoas passaram pelo velório.

Famosos e figuras políticas lamentaram através das redes sociais a morte da 'Rainha da TV': "Minha vida sem a gargalhada da Hebe sempre por perto não vai ter graça", postava a cantora Rita Lee.

"Como todo brasileiro sabe, a Hebe sempre foi como uma irmã minha", declarou Pelé direto dos Estados Unidos.

"Milhares de fãs em todo o Brasil perdem hoje a alegria de Hebe, uma grande artista", elogiava a presidenta da República, Dilma Rousseff, em nota oficial.

Problemas de saúde surgiram no ano de 2010, quando a ‘primeira dama da televisão brasileira’ passou por cirurgia e quimioterapia após ser diagnosticada com um raro câncer no peritônio, membrana que envolve os órgãos do aparelho digestivo. Este ano, a apresentadora ainda passou por outra intervenção cirúrgica devido a um tumor alojado no intestino e a retirada da vesícula.

Dois dias antes de morrer, o SBT – ‘casa’ que acolheu o programa da apresentadora por 25 anos – havia anunciado a volta da artista, afastada desde o final de 2010, quando Hebe assinou contrato com a Rede TV!.

Uma das últimas homenagens a Hebe Camargo foi o prêmio Mário Lago, que recebeu há dois anos, no programa Domingão do Faustão, na Rede Globo.

'GRACINHA'
Cantora de rádio em ascensão, Hebe tinha 21 anos de idade quando esperava ao lado do magnata das comunicações, o paraibano Assis Chateaubriand, a chegada dos primeiros aparelhos de televisão ao porto de Santos.

Uma das pioneiras da TV, a paulista nascida em Taubaté não chegou a ser uma testemunha ocular quando Chateaubriand quebrou uma câmera RCA batendo com uma champagne quando inaugurou a Tupi de São Paulo, primeira emissora de televisão do Brasil e da América Latina, no dia 18 de setembro de 1950.

Ela viria a cantar no pioneiro programa TV na Taba o ‘Hino da televisão’, mas faltou ao evento para acompanhar seu namorado na época em uma cerimônia na qual seria promovido. Na ocasião, Hebe foi substituída por Lolita Rodrigues, sua grande amiga, ao lado da atriz Nair Belo (1931-2007).

Chegou a fazer cover de Carmem Miranda (1909-1945), formar dupla com o conterrâneo Mazzaropi (1912-1981) no rádio e entrevistou o norte-americano Neil Armstrong, um mês depois do astronauta ter pisado na Lua.

Em 1955, estreou como apresentadora à frente do programa O Mundo É das Mulheres, na rede Paulista. Sempre conduzindo as entrevistas com bom humor e com o elogio ‘gracinha’, que virou uma espécie de bordão, Hebe também participou de teleteatros, principalmente ao lado do amigo Ronald Golias (1929-2005), no auge da fama devido ao sitcom Família Trapo.

Depois de passar por várias emissoras, a apresentadora se estabeleceu no SBT desde 1986. Além de chamar de ‘gracinha’, Hebe costumava dar selinhos nos famosos que passavam pelo sofá de seu programa. O ‘patrão’ Sílvio Santos fugia da brincadeira, mas no velório cedeu um beijo nos lábios da artista como um último adeus.