Amazônia de Socorro Lira

Física e subjetiva, a maior floresta do planeta ganha uma homenagem na voz da paraibana Socorro Lira, com nordestinos que cantam o Norte no seu repertório.

Amazônia - Entre Águas e Desertos traz 14 faixas sobre o tema, sendo seis de autoria da própria cantora e oito de outros compositores, dentre eles os conterrâneos Vital Farias (‘Saga da Amazônia’), Cátia de França e Abel Silva (‘Porque é da Natureza’) e dos pernambucanos Oliveira de Panelas (‘Amor cósmico’) e Luiz Gonzaga (‘Tacacá’, em parceria com o mineiro Lourival Passos).

De acordo com Socorro Lira, tudo começou há exato um ano, o escritor e educador empresarial Roberto Trajan incentivou-a para fazer um disco dedicado à Amazônia. A cantora e compositora baseou algumas das músicas em um livro de Trajan, O Devir, onde o protagonista vai se desertar no Norte.

“O disco tem que ser verdadeiro e natural como a floresta”, conta Socorro em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA. “Por isso fui captar direto da fonte. Queria efeitos naturais, um disco muito fluído e o mais natural possível”.

A artista passou três dias em um hotel a 150 km de Manaus para captar sons das florestas e, de quebra, compor duas canções do repertório: ‘Deixa viver’ e ‘Gema’, esta última em parceria com Roberto Trajan.

“O carro da Amazônia é a canoinha motorizada”, afirma Socorro Lira, que “saia sempre no contrafluxo” sonoro dos turistas, às 5h e às 21h.

Ela aponta que o ‘Deixa viver’, que abre o novo trabalho, também teve a participação especial do guia local, chamado Kennedy Williams, filho de uma índia da Guiana Inglesa com um brasileiro que fala a língua nativa macuxi.

“Eu era a única hóspede brasileira no hotel. Kennedy falava perfeitamente inglês e macuxi, mas pouco português”, conta. “Ele era tímido para assumir sua identidade indígena, mas acabei arrancando várias coisas dele, como os versos da música em macuxi, que ele traduziu”.

Sobre a canção de Gonzagão (1912-1989) e Passos (1914-1967), ‘Tacacá’, a recordação mais antiga que Socorro Lira tem vem da voz de sua mãe. Antes, a rara composição do “nordestino cantando o Norte” foi resgatada por ela e Oswaldinho do Acordeon no álbum O Samba do Rei do Baião, lançado em 2012.

Já as músicas de Vital Farias, Cátia de França com Abel Silva e do pernambucano que “está mais para paraibano” Oliveira de Panelas, a paraibana estava querendo muito gravar e não perdeu a oportunidade. “Eu namorava com elas faz um bom tempo”, salienta.

Gravado por Elba Ramalho, ‘Saga da Amazônia’ ganha um arranjo “que dialogasse mais com os jovens, que tivesse mais ritmo”.

Com arte do CD produzida por Elifas Andreato – que também assina as capas das obras de Roberto Trajan – Amazônia - Entre Águas e Desertos tem arranjos e direção musical do pernambucano Jorge Ribbas, que também cuidou do primeiro disco de Socorro, Cantigas (2001). “Ele é criativo e inventivo demais. Chega e desenrola”, analisa.

SHOW APENAS EM SP

Além do disco, Socorro Lira está preparando o show homônimo, que terá sua estreia no próximo dia 18, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo.

“Adoraria fazer no Norte e Nordeste do país, mas teria que ter o apoio de uma grande empresa”, lamenta a cantora e compositora paraibana.

Para ‘compensar’ o público dessas regiões, mas sem previsão, Socorro revela que a apresentação do seu novo trabalho poderá ganhar uma gravação em DVD.