CULTURA
Aracu de Almeida: o samba em pessoa
Mais do que jurada de cara amarrada, Aracy de Almeida, que hoje faria 100 anos, foi uma das maiores intérpretes do samba.
Publicado em 19/08/2014 às 6:00
“Aracy de Almeida é, na minha opinião, a pessoa que interpreta com exatidão o que eu produzo”, chegou a declarar Noel Rosa (1910-1937).
A 'Araca' – como era carinhosamente apelidada pelo 'Poeta da Vila' – é lembrada nesta terça-feira pelo seu centenário de nascimento. Pelos mais jovens, a recordação vem dos tempos que oferecia, de cara amarrada, “dez paus” para o calouro na TV.
“Aracy de Almeida não era aquela jurada de TV que transformava programas de calouros em palco de suas graças nem sempre engraçadas”, frisou o jornalista e escritor João Máximo, biógrafo do Noel Rosa, no especial para a web da Rádio Batuta (do Instituto Moreira Salles). “A alma da artista não convivia com a jurada de TV porque a verdadeira Aracy – a que é, sempre foi e há de ser sempre na Música Popular Brasileira – é a cantora”.
Apesar de ser a favorita de Noel, ela não era apenas a sua intérprete definitiva. “É necessário fazer justiça à voz de Aracy e suas qualidades de intérprete, sobretudo nos sambas tristes. Só assim se entende que muitos outros compositores brasileiros se orgulhavam de ter suas músicas cantadas e gravadas por ela”, explicou João Máximo.
Nomes como Ary Barroso ('Camisa amarela'), Assis Valente ('Fez bobagem'), Adoniran Barbosa e Vinícius de Moraes ('Quando tu passas por mim'), e Caetano Veloso ('A voz do morto') ganharam vida na voz de Aracy de Almeida.
Descoberta por Custódio Mesquita (1910-1945), depois de ouvi-la em casa de amigos, Aracy estreou nas ondas do rádio não com um samba, mas com a marchinha de Carnaval 'Golpe errado' (composta por Jaci), em 1934.
Ela só iria interpretar as composições de Mesquita após sua morte, em 1945, a exemplo de 'Saia do caminho' (com letra de Edvaldo Ruy).
Elis Regina (1945-1982) definiu Aracy como uma pessoa que não se preocupava com estrela na porta do camarim, nem carro com chofer. Ela falava gírias, palavrões e tinha um figurino que passava longe da elegância.
Em contrapartida, ouvia Mozart, interessava-se por psicanálise e colecionava quadros de Di Cavalcanti e Aldemir Martins.
Mesmo sendo conhecida como 'O samba em pessoa', a cantora carioca também tinha outras denominações: 'Dama da Central' (do Brasil), 'Dama do Encantado' (em referência ao bairro em que morou no Rio de Janeiro) e 'Rainha dos Parangolés'.
“Como se sua atitude diante da arte e da cultura precisasse ser adjetivada como coisa das regiões mais pobres e menos educadas da cidade”, apontou João Máximo. “O escritor João Antonio chegou a identificar certa fidalguia em Aracy de Almeida: uma fidalguia carioca, sestrosa, picaresca, mas digna”.
De acordo com Máximo, Aracy era uma unanimidade na virada dos anos 1940 para os 50, mas não tinha a popularidade das 'Rainhas dos auditórios da Nacional' como Marlene, Emilinha Borba e Dalva de Oliveira. “(Aracy) era tida pelos intelectuais que frequentavam as boates da Zona Sul (do Rio) como a mais autêntica e eloquente voz do samba”.
Aracy de Almeida morreu no dia 20 de junho de 1988, aos 74 anos, em consequência de um edema pulmonar.
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