CULTURA
Ariano é o "Senhor do Castelo" no cinema de Marcos Vilar
Com locações na Paraíba, Pernambuco e Rio de Janeiro, o documentário aborda o universo imaginário do escritor e dramaturgo.
Publicado em 24/07/2014 às 8:29 | Atualizado em 07/02/2024 às 11:05
Ariano Suassuna cantarola, repousado em uma cadeira de pano. “É a primeira vez que Ariano é filmado cantando”, contava o cineasta paraibano Marcus Vilar, diretor do que viria a ser seu primeiro longa-metragem, O Senhor do Castelo (2007).
O filme demorou 15 anos para ser “decantado”. As gravações tiveram início em 1992, durante a aula magna do Reitorado do Professor Neroaldo Pontes, uma das primeiras aulas-espetáculo ministradas por Ariano Suassuna.
Com locações na Paraíba, Pernambuco e Rio de Janeiro, o documentário aborda o universo imaginário do escritor e dramaturgo a partir dos momentos-chaves da sua vida, a exemplo do envolvimento de sua família na revolução de 1930, a infância em Taperoá, no Cariri paraibano, com a lembrança da revoada de borboletas no jardim da sua mãe, e a militância em defesa da legítima cultura brasileira e da língua portuguesa, como um verdadeiro Dom Quixote Armorial.
“Eu vim pro mundo para fazer uma literatura que se identificasse com meu país e com meu povo”, declarava Ariano para a câmera de Vilar.
Dentre seus depoimentos ao longo do filme, o escritor fala de aspectos da classificação de sua obra como regionalismo. “Eu não sou um escritor regionalista”, apontava. “O regionalismo é um neonaturalismo e o naturalismo é um movimento com o qual eu não me simpatizo”.
Uma das imagens que reforçam a qualidade don-quixotesca do personagem foi no registro da Cavalgada em São José de Belmonte (PE), onde Ariano mostrava seus dotes de cavaleiro até a Pedra do Reino com representantes dos personagens do livro homônimo.
O Senhor do Castelo arrebatou o Prêmio do Júri Popular na 11ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes (MG).
Popularidade na TV
Foi na telinha que as obras de Ariano Suassuna ganharam maior popularidade além dos palcos teatrais. Em 1994, Luiz Fernando Carvalho comandou a atriz Tereza Seiblitz na versão televisiva da peça Uma Mulher Vestida de Sol, exibida como um episódio do Caso Especial da Rede Globo.
Quatro anos depois foi a vez do pernambucano Guel Arraes produzir uma minissérie em quatro partes de O Auto da Compadecida, que sofreria cortes e viraria um longa-metragem em 2000, devido ao grande sucesso de audiência na grade global. Também obteve êxito de bilheteria, levando aos cinemas mais de 2 milhões de espectadores.
Protagonizada por Matheus Nachtergaele (como João Grilo) e Selton Mello (como Chicó), as filmagens tiveram locações em Cabaceiras, no Cariri paraibano, que é tida como a “Roliúde nordestina”, e nos estúdios do Projac e da Cinédia, no Rio de Janeiro.
Em 2007, em comemoração aos 80 anos de Ariano Suassuna, Luiz Fernando Carvalho produziu A Pedra do Reino, microssérie em cinco capítulos passada em Taperoá. Adaptada pelo próprio diretor junto com Luís Alberto de Abreu e Braulio Tavares, a produção televisiva teve no elenco Irandhir Santos, Nill de Pádua e Mayana Neiva.
Outro destaque na telona foi uma versão mais livre de O Auto da Compadecida, contando com a participação de Didi (João Grilo), Dedé (Chicó), Mussum (sacristão) e Zacarias (padeiro), além do paraibano José Dumont. Intitulado Os Trapalhões no Auto da Compadecida (1987), o longa de Roberto Farias (de Assalto ao Trem pagador) foi um dos raros filmes do quarteto que chegou a ser comercializado no exterior, entrando em cartaz nos cinemas de Portugal.
Bem antes dos Trapalhões, em 1969, a peça de 1955 ganhava as telas em um filme de George Jonas. A comédia A Compadecida tinha roteiro do próprio Ariano e era estrelada por Regina Duarte, Armando Bógus e Antônio Fagundes.
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