CULTURA
Artes que imitam a arte; veja filmes em cartaz
Dirigido pelo cineasta Ang Lee e baseado no best-seller de Yann Martel 'As Aventuras de Pi' estreia nesta sexta-feira (21) nos cinemas paraibanos.
Publicado em 21/12/2012 às 6:00
Sem o escritor gaúcho Moacyr Scliar (1937-2011) provavelmente não haveria a estreia de As Aventuras de Pi (Life of Pi, EUA, 2012), filme do cineasta chinês Ang Lee (O Tigre e o Dragão) e possível concorrente ao Oscar que entra em cartaz nesta sexta-feira nos cinemas paraibanos, baseado no best-seller A Vida de Pi (2001), do canadense Yann Martel.
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O motivo foi Max e os Felinos, livro escrito no começo dos anos 1980, quando Scliar “matraqueava animado” a máquina de escrever em um fim de semana na serra gaúcha. O romance mostra um alemão que cruza o Atlântico rumo ao Brasil por causa de um envolvimento com a esposa de um militar nazista. Depois de um naufrágio, o jovem tem que conviver inusitadamente em um pequeno bote salva-vidas com um jaguar, um felino que sempre lhe aterrorizou.
Já o filme de Lee e livro de Martel mostram um adolescente indiano chamado Pi Patel (vivido pelo novato Suraj Sharma na telona), cuja família administrava um zoológico e que resolve emigrar para o Canadá para vender os animais e iniciar uma nova vida. Entretanto, o cargueiro onde todos viajam acaba naufragando devido a uma grande tempestade. Pi consegue sobreviver em um bote, mas precisa dividir o pouco espaço disponível com outros animais, entre eles um tigre de bengala.
Há 10 anos, o canadense recebeu US$ 75 mil do Booker Prize pelo seu romance. Foi o bastante para acender o pavio da polêmica, principalmente pelo artigo do próprio Scliar no site Digestivo Cultural.
Inicialmente envaidecido por “um escritor, e do chamado Primeiro Mundo, copiando um autor brasileiro”, logo se tornou melindrado por outra notícia desagradável: “Yann Martel não tinha, segundo suas declarações, lido a novela. Tomara conhecimento dela através de uma resenha do escritor John Updike para o New York Times, resenha desfavorável, segundo ele”, constatou Scliar no texto.
O pior veio a seguir, quando o canadense afirmara ser uma pena que “uma ideia boa tivesse sido estragada por um escritor menor”. Scliar, um dos escritores mais prolíferos do Brasil, dono de mais de 70 obras criadas em sua vida, rebateu com as hipóteses: “E se eu não fosse um escritor menor? E se Updike tivesse se enganado?”
Como um cavalheiro das letras que sempre foi, Moacyr procurou afastar a embaraçosa acusação de plágio sensatamente das barricadas judiciais, reconhecendo que as ideias não são protegidas por direitos autorais. O que é protegido, na verdade, é a determinada forma de exteriorização da ideia.
“Nada se cria, tudo se copia, é um dito frequente nos meios acadêmicos”, sentenciou. “Escrevendo a respeito do incidente (prefiro este termo), Luis Fernando Veríssimo observou que Shakespeare baseou numerosas obras em trabalhos de contemporâneos menores”.
IMERSÃO EM 3D
As Aventuras de Pi conquistou três indicações ao Globo de Ouro, premiação que é considerada uma prévia do Oscar, nas categorias Melhor Filme (Drama), Melhor Diretor e Trilha Sonora. O filme já ganhou outros 11 prêmios.
Feito em 3D (a ideia é proporcionar sensação de imersão e não de objetos pulando em cena), o longa teve o maior tanque de água construído no cinema, com 70 metros de comprimento por 25 metros de largura e capacidade para mais de 2 milhões de litros de água.
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