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CULTURA

As reinações de Lobato voltam ao tribunal

Conto "Negrinha", de Monteiro Lobato, suscita mais uma polêmica radical em torno do patrono da literatura infantil.

Publicado em 14/10/2012 às 8:00


Em pleno mês das crianças, Monteiro Lobato, patrono da literatura infantil no Brasil, está novamente na berlinda mexendo com a cabeça dos adultos.

Depois da audiência de conciliação realizada mês passado no Supremo Tribunal Federal (STF), na qual Ministério da Educação (MEC), Advocacia-Geral da União e Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial não chegaram a um consenso em torno da polêmica sobre racismo na obra Caçadas de Pedrinho (que chegou a ser vetada pelo Conselho Nacional de Educação, em 2011), outro livro do escritor é agora questionado por sua adoção nas escolas brasileiras.

O alvo das críticas, já encaminhadas à Controladoria Geral da União (CGU) pelo mesmo autor da ação contra Caçadas de Pedrinho (1933) no ano passado, é Negrinha (1920), livro que reúne 22 contos do escritor paulista acolhido pelo Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE).

Na interpretação, Antonio Gomes da Costa Neto, mestrando em relações raciais na Universidade de Brasília (UnB) e representante do Instituto de Advocacia Racial (Iara), conotações raciais estariam presentes em trechos como este: "Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados".

"O jargão do 'politicamente correto' é modificado periodicamente pelos movimentos sociais, o que chega a dar uma canseira", ataca a escritora Maria Valéria Rezende. Segundo ela, a atenção exagerada a este jargão, no caso de Negrinha, resultou na "miopia" dos detratores da obra, que não enxergaram sua verdadeira essência: "Negrinha é um conto pungente que, longe de ser racista, faz o leitor na verdade indignar-se com o racismo".

No conto, a protagonista, nascida em uma senzala, sofre de fome, frio e maus tratos na casa de Dona Inácia, que a faz escrava mesmo após a Abolição. "A literatura espelha o mundo real, não há como dissociar o olhar do escritor do contexto histórico no qual ele está situado. Cabe aos professores a inteligência de levantar este contexto histórico para os alunos. O argumento puro e simples de que leituras como estas vão levar o leitor a atitudes racistas não faz absolutamente o menor sentido", arremata Maria Valéria Rezende.

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Jornal da Paraíba

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