CULTURA
Augusto ao gosto de todas as artes
Centenário do 'EU' será celebrado em mais um evento que contará com mostras, debates e palestras em espaços culturais da cidade.
Publicado em 24/08/2012 às 6:00
"Em um mês em que comemoramos o centenário de tantos nascimentos, é excepcional comemorarmos também o centenário de uma obra literária", diz Braulio Tavares sobre os 100 anos do livro Eu, de Augusto dos Anjos.
A data, celebrada em todo o Estado em junho, volta a ser lembrada em João Pessoa no Augusto das Letras, evento que ocorre de hoje até a próxima sexta-feira em espaços culturais da cidade.
O escritor e colunista do JORNAL DA PARAÍBA é a grande atração da abertura, esta noite, às 20h, na Usina Cultural Energisa. Braulio Tavares debate com Ângela Bezerra Castro e Rinaldo Gama (que volta à programação amanhã, às 10h30), após a recepção da mostra Eu e Augusto, individual com dez obras do artista plástico Eulâmpio Neto, às 19h.
Fechando a grade de hoje, às 21h30, Oliveira de Panelas apresenta um canto de viola baseado na famosa passagem de 'Versos Íntimos': 'A mão que afaga é a mesma que apedreja'.
Segundo Carlos Aranha, chefe da divisão de Literatura, Biblioteca e Editoração da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), a tônica do Augusto das Letras (edição especial do tradicional Agosto das Letras, em homenagem ao Eu) será ressaltar o caráter multimídia e popular da obra do paraibano do século.
"O Eu não pode ficar preso aos seus poemas. O que está escrito pode ser levado a outras formas de arte, da poesia popular ao audiovisual", observa Aranha, em sua primeira ação à frente da pasta de literatura da Funjope. "Augusto dos Anjos é um poeta que pertence ao público. Até quem não compreende a sua poesia consegue enxergar a beleza que há nela".
Aranha confirma que o esquema de integração artística será aplicado a todo o calendário futuro da Funjope, inclusive à Virada Cultural, que tem previsão de ser realizada ao término das Eleições, no fim do ano, com um segmento especialmente dedicado à literatura.
AUGUSTO SCI-FI
A palestra de Braulio Tavares, marco inicial de um evento que se encerra na próxima sexta-feira, com Carlos Heitor Cony, privilegia uma abordagem inusitada das páginas do filho do carbono e do amoníaco: seu flerte com a ficção científica.
"Esta é uma faceta à qual a crítica não se interessa muito exatamente porque a crítica não manifesta muito interesse pela ficção científica", afirma Braulio Tavares. "Geralmente, a interpretação que se faz da poesia de Augusto dos Anjos centra-se em temas como a morte, visão que eu considero muito legítima, mas que não deve obstruir ângulos novos como o que pretendo enfocar".
Especialista na área, Braulio Tavares garante que Augusto tem uma ótica profunda acerca da origem do ser humano, do universo e sua perspectiva de futuro.
Atualmente, o escritor está com dois livros no gatilho, ambos dando continuidade ao seu projeto de compilar parte dos textos que desde 2003 publica no JORNAL DA PARAÍBA.
Depois de A Nuvem de Hoje (Latus, 2011), o cronista aguarda para os próximos meses o lançamento de A Arte de Olhar Diferente (pela editora carioca Hedra), e Histórias para Lembrar Dormindo (pela paulista Casa da Palavra).
AUGUSTO VIOLADO
Já Oliveira de Panelas prefere relacionar sua participação ao que de melhor sabe fazer: improvisar. "Eu só tenho as linhas mestras do show. Quero saudar o gênio, seu pensamento, sua verdade.
Para isso tenho os meus bordões e meus desvios, para não enfadar a plateia. Se bem que é impossível enfadar alguém com Augusto", conta o Pavarotti dos Sertões.
O poeta popular também está trabalhando no lançamento de um livro: é o Nós, inspirado "solidariamente", nas palavras do cantador, no Eu.
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