CULTURA
Best-seller sul-coreano
Com mais de 1,5 milhão de livros vendidos, best-seller sul coreano, chega ao Brasil .
Publicado em 28/02/2012 às 6:30
Aos 16 anos, quando ainda morava no campo, a sul-coreana Kyung-sook Shin, 49, teve de ir à capital Seul com a mãe. Uma longa e exaustiva viagem de trem.
"Aquilo era um sacrifício e a expressão de cansaço dela me tocou profundamente. Naquele momento, soube que um dia faria algo dedicado a ela", contou Shin em entrevista à reportagem, de Nova York, onde vive atualmente.
As tais referências autobiográficas deram vida a um dos maiores sucessos editoriais dos últimos anos. Por Favor, Cuide da Mamãe (Intrínseca, 240 págs., R$ 29,90), lançado no Brasil nesta semana, vendeu 1,5 milhão de livros só na Coreia do Sul, quando foi publicado em 2009.
O livro narra, em três capítulos e um epílogo, a história de uma mãe idosa e camponesa que se perde no metrô quando vai à cidade grande visitar os filhos.
Família universal
Em 2010, quando o livro chegou aos Estados Unidos, entrou na lista dos mais vendidos do jornal "New York Times" e teve sete reimpressões feitas em apenas um mês.
Muito disso foi produto da recomendação feita pela apresentadora Oprah Winfrey a seu clube de leitura.
Ter vencido a barreira do mercado americano, quase hostil à entrada de autores estrangeiros, se deveu principalmente "ao padrão universal da família como microcélula da sociedade", diz Shin.
Para ela, os dramas, as perdas e os danos inerentes às relações familiares interessam aos leitores independentemente da língua em que seja escrito e do cenário em que se desenrolem.
No caso do seu romance de estreia, pai e filhos se põem a remoer o sumiço da mãe enquanto fazem o que está ao alcance para reencontrá-la. A reflexão mais dolorosa parte da filha.
A caçula, uma escritora consagrada que, de tão atarefada, adia indeterminadamente um simples telefonema para os pais, agora já não sabe como existir, imersa em culpa e remorso.
Chegou o progresso
Narrado por três vozes, o livro tem intervenções inquisitórias em primeira pessoa.
Isso lhe confere ainda mais gravidade em relação ao modo como cada um dos personagens se martiriza após o incidente.
É nessas pontuações que detalhes da vida da mãe vão brotando na narrativa.
A abnegação com que criou os filhos, para tê-los definitivamente longe anos depois; a resignação com as traições do marido e o trabalho de sol a sol na lavoura, que lhe tomou os últimos traços de juventude e o vigor.
Há nisso também uma reflexão sobre o processo de desenvolvimento que a Coreia do Sul atravessou nos últimos 60 anos.
"Existe uma tensão intermitente entre os que viveram o período de autoritarismo e da guerra com a Coreia do Norte, e os jovens, que vivem em democracia e têm outros referenciais", conta Shin.
Shin viveu todas as transformações a que se refere, inclusive educacional.
O país, que tem um dos sistemas escolares mais eficientes e disciplinados do mundo, formou gerações de profissionais capacitados e novos leitores.
Política e literatura
Na entrevista, Shin não deixou de se pronunciar sobre a tensão entre as Coreias do Norte e Sul.
"Nós vivemos reconhecidamente em melhores condições. É preciso que se abra diálogo com o norte e que nunca deixemos de receber os que fogem da fome e da ditadura", declarou.
Quando indagada sobre literatura brasileira, ela citou o escritor Jorge Amado (1912-2001) com entusiasmo, além de mencionar o onipresente Paulo Coelho, autor de O Diário de um Mago. "Ele é um dos mais lidos no meu país".
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