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CULTURA

Bi Ribeiro te leva por uma viagem pelos bastidores dos discos do Paralamas

Baixista conta tudo sobre os 12 discos de estúdio produzidos ao longo das três décadas de carreira da banda.

Publicado em 22/03/2015 às 8:44

Às vésperas de embarcar na turnê de 30 anos, que começou em abril de 2013 (e passou por João Pessoa duas vezes), Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone enfileiraram os discos que Os Paralamas do Sucesso produziram ao longo de três décadas.

Não é pouca coisa: são 12 álbuns de estúdio (além de um EP) que comportam exatamente 145 canções, muitas delas hits que atravessam gerações desde os anos 1980, quando o trio carioca explodiu para ganhar o país com uma bem cozinhada mistura de rock, ska, reggae, dub, calipso e uma série de ritmos latinos e africanos.
Esses 12 discos, mais seis álbuns ao vivo (entre eles, um em parceria com os Titãs) e duas coletâneas inéditas, uma em espanhol e outra de covers, compõem a caixa com 20 CDs Os Paralamas do Sucesso - 1983-2015 (Universal Music, R$ 360,00) que sai para celebrar a carreira de um dos mais importantes grupos brasileiros.
"Impressiona quando você ouve a sequência inteira", reconhece Bi Ribeiro, o baixista que era vizinho do paraibano Herbert Vianna em Brasília e que, ao se reencontrarem no Rio, resolveram montar Os Paralamas do Sucesso.
"A gente, frequentemente, se surpreende quando ouve os discos antigos. A maneira como a gente estava pensando naquele momento, as faixas bem gravadas, as letras de determinado tipo... é muito prazeroso ouvir as coisas que a gente fez e se surpreender positivamente", comenta o músico em um longo papo com o JORNAL DA PARAÍBA, por telefone.
Nessa conta entram O Passo do Lui (1984), segundo álbum da banda, e o disco seguinte, Selvagem? (1986), além de Longo Caminho (2002), primeiro disco que o grupo gravou depois do acidente com Herbert Vianna. “Foi um disco que nos deu muito orgulho”, sentencia Bi.
De acordo com o baixista, não há um disco que a banda se arrependa de ter feito. Ou quase. Cinema Mudo que, lançado em 1983 pela extinta EMI, dava início à discografia dos Paralamas do Sucesso foi, nas palavras do baixista, “frustrante”.
Ansiosos por gravar o primeiro álbum, os jovens Herbert, Bi e Barone - com pouco mais que 20 anos na época - eram muito inexperientes no assunto ‘showbusiness’ quando entraram no estúdio para gravar as dez faixas do disco de estreia.
Lá, esperava pelo trio uma gravadora sedenta por sucessos. À frente dessa missão, Miguel Plopschi, dos Fevers, que tinha pouco a ver com a banda, na opinião de Bi, e Marcelo Sussekind, escalado para a produção musical depois da negativa de Lulu Santos para o posto. Mas Sussekind parecia mais interessado em tocar com a banda dele, o Herva Doce, que botar a mão na massa. “Ele era o produtor, mas quase não apareceu lá”, confirma o baixista.
Sob o chicote de Plopschi, os garotos que vinham impressionando nas rádios e nos shows gravaram Cinema Mudo. “Os caras (a gravadora) vieram com umas propostas que a gente não gostou, mas que tinha que engolir, tipo colocar uns backing vocals, uns refrões que não existia”, desabafa o baixista, mais de 30 anos depois. “Até chamaram o cara da Rádio Cidade pra saber se estava bom pra tocar no rádio”.
O episódio seria tão marcante na vida dos três que, ao sair das sessões daquele primeiro álbum, o triu mergulhou em livros e revistas importadas para entender como funcionavam os estúdios de gravação.
Com um pouco mais de experiência, o boa praça Jorge Davison da direção artística e Mayrton Bahia na produção, os Paralamas embarcaram na gravação de O Passo do Lui, que traria a consagração que a banda tanto almejara. Todas as dez faixas do repertório tocaram tanto nas rádios que, hoje, o disco soa como uma coletânea de grandes sucessos.
O disco seguinte, Selvagem?, seria um estouro de vendas e inauguraria a parceria do grupo carioca com o produtor Liminha. Espécie de Revolver dos Paralamas, o álbum de 1986 trouxe, pela primeira vez, os metais que a banda faria ótimo uso ao longo da carreira.
“As músicas que a gente ouvia, todas elas, tinham metais: o reggae, as músicas da África, Tim Maia, Jorge Ben Jor, UB40… a gente achava que seria uma coisa que complementaria (nosso som) e depois que eles entraram, a gente não conseguiu mais tira-los”, comenta.
Tanto que os metais são o grande destaque do álbum seguinte, Bora Bora (1988), disco quente como o sol do Caribe, malemolente como o reggae jamaicano e alegre como o povo brasileiro. “‘O beco’ (faixa que abre o CD) foi a primeira composição que a gente fez incluindo arranjos para metais”, revela Bi Ribeiro.
Quando, no ano seguinte, Os Paralamas entraram em estúdio para gravar Big Bang (1989), tinham na mão um punhado de canções expansivas (‘Pólvora’) e outras mais intimistas (‘Esqueça o que te disseram sobre o amor’, ‘Lanterna dos afogados’).
“Era o que a gente tinha na mão”, comenta o baixista, informando que o processo de criação dos Paralamas é muito prático: durante as turnês, eles compõem o repertório para o próximo trabalho. Quando chega a um bom número de canções, escolhem o produtor, preparam o estúdio, vão lá e gravam. “É por isso que os discos da gente não tem sobras de estúdio”, comenta.
Retrato em preto e branco
A fotografia em preto e branco de gansos na capa de Os Grãos (1991) não está ali por acaso. No começo dos anos 90, os Paralamas viam uma nova turma chegar e sentiam que eram de uma geração ultrapassada. O resultado é um disco sem o fôlego dos anteriores, mais pra baixo, com arranjos orquestrais e músicas como ‘Trinta anos’, uma reflexão sobre a chegada à maturidade. “Esse disco acabou por afundar a geração 80, a justificar as coisas que falaram dela naquele período”, avalia Bi Ribeiro.
Numa fase em que a banda fazia mais sucesso no mercado latino-americano que no Brasil, os Paralamas buscavam se reinventar e lançaram mão de uma cartada ambiciosa: gravar um disco em Londres, com a luxuosa produção de Phil Manzanera, do Roxy Music.
Mas Severino (1994) não seria o disco dos sonhos do grupo. “A ideia era fazer um disco experimental”, atesta Bi, lembrando que a gestação do álbum demorou três meses, uma eternidade para a praticidade que era o grupo em estúdio.
“A gente teve um problema com o técnico de som (o americano Kevin Lamb). Ele dominava muito as sessões e era muito lento. E tinha uma influência muito grande até mesmo sobre o Manzanera. Foi difícil pra caramba!”, recorda. Para piorar, as bases que o grupo havia preparado em um computador no Brasil não eram compatíveis com a tecnologia do estúdio inglês.
Severino foi um fracasso de vendas, ao menos aqui no Brasil, onde não passou de 50 mil cópias. Mas os “hermanos” adoraram. Lançado em outros países da América Latina com o nome de Dos Margaritas, foi um estouro! Por outro lado, o registro em disco da turnê de Severino - lançado sob o título Vamo Batê Lata em 1995 - detém o recorde de maior número de discos vendidos dos Paralamas: mais de 900 mil cópias.
O sucesso de Vamo Batê Lata levou a banda a fazer as pazes com o Brasil e a voltar a compor um repertório mais ensolarado, quente como Bora Bora: 9 Luas (1996). “Não sei se tem essa explicação lógica, mas é bem possível”, pondera Bi. “Essa coisa tá na gente. Uma parte da nossa música é isso aí”.
O baixista também nega que 9 Luas seja um retorno à fórmula aplicada antes da sonoridade dos Paralamas sair dos trilhos em Os Grãos. “Nenhum disco dos Paralamas foi arquitetado assim. Vai muito de como as composições vão surgindo, nunca é premeditado. Mas como as coisas estavam dando certo, talvez ele tenha saído assim”.
De volta aos eixos, com quase duas décadas de carreira e os fãs se renovando ao invés de se afastarem, a banda produziu seu melhor disco no período: Hey Na Na (1998). Agora sob a batuta do mineiro Chico Neves (Skank, O Rappa), os cariocas poderiam enveredar por outros caminhos seguindo a mesma trilha. “Pela primeira vez a gente usou umas coisas eletrônicas”, lembra o baixista.
O 9º álbum de estúdio também se aproximava da sonoridade acústica que o grupo trabalharia no disco seguinte, Acústico (1999). Naquele momento, a banda não pensava em aderir ao formato implementado pela MTV, que consagrara os Titãs em 1997 e traria o Capital Inicial novamente às paradas em 2000. Mas graças ao disco de Chico Neves, o Paralamas chegaria lá.
“Hey Na Na foi o trampolim para o Acústico”, confirma Bi, lembrando que o Paralamas nunca tinha trabalhado tantos instrumentos acústicos, ainda mais sobre uma base eletrônica. “Apesar de ter muita percussão eletrônica, a gente fez muita coisa com o violão”, acrescenta.
Leia matéria completa na edição impressa do JORNAL DA PARAÍBA deste domingo (22).
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Jornal da Paraíba

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