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CULTURA

Caetano, 70: a trajetória de um revolucionário

Vencedor de oito prêmios Grammy Latino, cantor baiano Caetano Veloso será o grande homenageado da edição deste ano, em Los Angeles. 

Publicado em 07/08/2012 às 6:00


Na época de A Foreign Sound (2004), Caetano Veloso desembarcou em Nova York e pegou um táxi. O motorista, americano, perguntou se era dele a versão de ‘Come as You Are’, do Nirvana. Caetano disse que sim. “Outro dia ouvi você cantando no rádio”, comentou o motorista. “Foi a primeira vez que entendi aquela música e disse para mim mesmo: Ela é linda!”.

O comentário do taxista – que Caetano cita no filme Coração Vagabundo (2008) – dá a dimensão do alcance do brasileiro, que hoje é festejado por todo país por ocasião de seus 70 anos de vida. Caetano foi - e é - uma das figuras fundamentais para a construção do que chamamos de Música Popular Brasileira e sua produção ecoa nos quatro cantos do mundo, dos Estados Unidos ao Japão, passando pela América Latina e países de língua espanhola.

O presente de aniversário de Caetano veio com o anúncio, mês passado, de que o baiano de Santo Amaro da Purificação será o grande homenageado do Grammy Latino deste ano, prêmio que já venceu oito vezes. No dia 14 de novembro, em Los Angeles, o músico receberá o título de Personalidade do Ano da Academia Latina de Gravação

"Caetano Veloso tornou-se o embaixador de destaque da música e cultura brasileira", declarou o presidente da Academia Latina de Gravação, Gabriel Abaroa Jr. “É difícil encontrar alguém capaz de empenhar talento, paixão e dedicação tão imensos aos seus projetos criativos, seja na música, na poesia de suas composições ou em sua postura ativista”

O prêmio não é gratuito. Caetano é, sem dúvida, um dos brasileiros mais influentes de todos os tempos. Como músico (ele também é escritor, cineasta e ativista político), promoveu revoluções estéticas na música brasileira, tal qual Miles Davis fez no jazz e David Bowie, no rock.

Ao lado de Gilberto Gil, inaugurou um movimento que traria profunda revolução sonora, cultural e comportamental no Brasil dos anos 1960. Afinal, o Tropicalismo era o grito de dois artistas visionários que, ao ultrapassarem a ingenuidade iê-iê-iê da Jovem Guarda, a caretice da bossa nova e a falta de rebeldia do samba, estabeleceram que a música popular poderia ter guitarras altas e respingar psicodelia, incorporar o grotesco, o cinema, a literatura e as artes plásticas.

Mais que isso, o Tropicalismo de Caetano – que dividiu a opinião pública e foi alvo de protestos por parte dos conservadores – aplicava a máxima antropofágica do escritor modernista Oswald de Andrade: criar uma arte brasileira e original a partir do reprocessamento de informações estrangeiras.

Caetano, assim como Gil, pagaram caro pela postura, mas o exílio em Londres, imposto pelo Regime Militar, só fez brotar a inquietude dos dois baianos, sobretudo do baiano filho de Dona Canô, irmão de Bethânea e pai de Moreno. E mesmo longe, comporia dois álbuns formidáveis: Caetano Veloso (1971), que traria 'London London' e a versão pungente de 'Asa Branca', e o disco considerado a obra-prima do músico: Transa (1972).

De volta ao país, Caetano teria muito a dizer e muitos caminhos a abrir. Assim, nasceu Araçá Azul, disco de ruptura estética que mostrava ao Brasil de 1973 que a gente não precisava dos campos de morango dos Beatles, se a gente tinha plantação de cana-de-açúcar.

Com Qualquer Coisa e Jóia, discos que seriam lançados em 1975, Caetano inaugurou sua fase de ouro, um cancioneiro de dezenas de composições só dele – além de “covers” de Tom Jobim, Gilberto Gil, Jorge Ben Jor, Beatles, etc. - que entrariam no imaginário cultural popular brasileiro para nunca mais sair.

Até os anos 1980, Caetano seguiria reinventando seu som das mais variadas maneiras (incluindo o uso de sintetizadores, tão em voga no rock brasileiros daquela época) e emplacando clássicos como ‘Sampa’, ‘Estrangeiro’ e ‘Odara’ e ‘Podres poderes’.

Já devidamente um gigante da MPB, a carreira de Caetano ganharia novo fôlego com um de seus discos mais elogiados, Circuladô (1991), álbum que entraria na relação dos 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer (Editora Sextante).

Já na era do CD, Circuladô foi sucedido por um tremendo álbum, o duplo Circuladô Ao Vivo (1992), fruto de uma turnê de sucesso.

A partir daí, os discos de estúdio de Caetano ganhariam registros ao vivo, inicialmente em CD e, mais para frente, em DVD (caso do obrigatório Prenda Minha, de 1998).

De Circuladô para cá, Caetano concebeu mais um disco esteticamente revolucionário: Cê (2006), um disco de rock, básico, de urgência primitiva e arranjos rebuscados. Nessa linha, também surpreendeu ao compor e produzir o mais novo disco da conterrânea Gal, Recanto (2011), talvez o disco mais “estranho” da cantora.

Nesses últimos 20 anos, Caetano também emplacou alguns projetos de parceria. Em 1993, celebrou 30 anos de amizade com Gil voltando ao estúdio para gravar Tropicália 2. Em 2002 gravou com Jorge Mautner Eu Não Peço Desculpas e com Maria Gadú fez o Multishow ao Vivo (2011). Seu ultimo registro fonográfico é o especial da Globo que o une à Gil e Ivete Sangalo (2012).

Recentemente, como parte das comemorações de seus 70 anos, Caetano liberou toda sua obra para audição gratuita através do site oficial,www.caetanoveloso.com.br. Também é possível comprar a versão digital de cada faixa, via iTunes. Enquanto isso, às bancas já exibem uma coleção de fascículos que traz alguns dos CDs mais emblemáticos do músico de brinde.

Seu ultimo álbum de estúdio, Zii e Zie (2009), também trouxe uma maneira diferente de compor. Caetano amadureceu o disco no palco, e levou a discussão do trabalho para o blog ‘Obra em Progresso’, que ele mesmo escrevia. Em pauta, a música, mas também o pensamento político e social de um músico que nunca se furtou a expressar o que sente e o que pensa, da vida, da música e do país que o admira.

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Jornal da Paraíba

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