CULTURA
Caixas com nove filmes de Orson Welles são lançadas no Brasil
Obras abrem o panorama do que foi a obra do genial cineasta norte-americano, responsável pelo clássico Cidadão Kane.
Publicado em 20/01/2016 às 9:00
É impossível não atestar a importância de Cidadão Kane (1941) para a Sétima Arte, seja no ponto de vista da inovação técnica quanto no dinamismo narrativo e coragem do seu diretor (e acumulador de funções), o então jovem Orson Welles (1915-1985). Ocupando os primeiros lugares de listas sobre os melhores de todos os tempos, por vezes o longa ofusca uma filmografia cheia de produções dignas da qualidade do seu realizador.
Duas caixas com nove delas abrem um panorama do que foi a sua trajetória (mesmo com os estúdios dificultando a sua vida nos sets) além do Cidadão Kane: O Cinema de Orson Welles (pack com seis filmes) e Shakespeare por Welles (box com três longas), ambas lançadas pela Versátil com versões restauradas.
No primeiro, são três DVDs: Soberba (1942), um melodrama onde Welles já havia adaptado para o rádio e subverte tal estrutura tradicional do gênero; É Tudo Verdade, documentário incompleto para 'promover' a relação de amizade entre os EUA e o Brasil em virtude da Segunda Guerra Mundial; A Dama de Shangai (1948), um dos filmes mais noir do cineasta; Grilhões do Passado (1955), um dos mais rebuscados tecnicamente e adorado por Truffaut; O Processo (1962), com toda sua estética kafkiana; e Verdades e Mentiras (1973), um falso documentário sobre um falsário biógrafo de outro falsário.
Dentre as mais de duas horas de extras, entrevistas, comentários em áudio, sobras de filmagem de Grilhões do Passado, making of de A Dama de Shangai, introdução de Peter Bogdanovich para Verdades e Mentiras, trailers e cena excluída de O Processo.
Já Shakespeare por Welles revela sua paixão pelo Bardo inglês. São três filmes restaurados em dois DVDs: Macbeth (1948), cinematográfica adaptação aproveitando cenários de faroeste; Othello (1952), obra mutilada e perdida ao longo dos anos, apenas reconstituída nos anos 1990; e Falstaff (1965), que reúne trechos de três peças shakespearianas.
Nas quase duas horas de extras, documentários e o curta O Retorno a Glennascaul (1951), de Hilton Edwards.
O CINEMA DE ORSON WELLES
O PROCESSO (1962)
Josef K. acorda um dia e se vê com a polícia em seu quarto. Após ser preso e responder a um processo, passa a investigar o motivo de estar sendo investigado. Adaptação de Welles para o romance absurdo de Franz Kafka com Anthony Perkins no papel principal.
A DAMA DE SHANGAI (1948)
Fascinado pela beleza da Sra. Bannister, o marujo Michael vai trabalhar num iate e acaba envolvido numa complexa trama de assassinato. Filme 'noir' de Welles com uma das cenas mais famosas do cinema, usando espelhos. No elenco, Rita Hayworth e Everett Sloane.
VERDADES E MENTIRAS (1973)
Um possível falso documentário sobre um falsário biógrafo de outro falsário. Mesclando ficção e realidade numa reflexão complexa sobre a natureza da arte e da ilusão, Welles realiza uma obra-prima atemporal e impressionante.
GRILHÕES DO PASSADO (1955)
Sofrendo de amnésia, o milionário Sr. Arkadin contrata um detetive para investigar seu passado. Quando a investigação revela a sórdida origem de sua fortuna, testemunhas começam a morrer. Uma das obras mais ousadas e subestimadas de Welles.
SOBERBA (1942)
Na Indianápolis do final do século 19, a família Amberson tem dificuldades para lidar com as mudanças a seu redor. Apesar de mutilada pela RKO contra a vontade de Welles, o filme é uma monumental obra-prima e mais uma prova do gênio de seu diretor.
É TUDO VERDADE (1942/1993)
Em 1942, Welles veio ao Brasil fazer um filme sobre a cultura local, porém o projeto ficou inacabado. Este documentário conta porque o filme não foi concluído, além de mostrar as lendárias cenas gravadas pelo realizador norte-americano em nosso país.
SHAKESPEARE POR WELLES
OTHELLO (1952)
A tragédia do mouro Othello, que se casa com a bela Desdemona, sendo influenciado pelo nefasto Iago a duvidar da fidelidade de sua inocente esposa. Adaptação da obra de Shakespeare filmada por Welles em Veneza e no Marrocos, entre os anos de 1949 e 1952. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes.
FALSTAFF: TOQUE DA MEIA-NOITE (1965)
O cavaleiro bêbado e glutão Sir John Falstaff é um grande amigo do herdeiro do trono da Inglaterra. Juntos os dois se divertem, correm riscos, bebem e desenvolvem uma intensa relação. Quando o príncipe assume o trono e se torna Henrique V, Falstaff vislumbra mudanças. E elas acontecem. Grande Prêmio Técnico em Cannes.
MACBETH: REINADO DE SANGUE (1948)
Escócia, século 11. Instigado por uma profecia e por sua pérfida esposa, o nobre Macbeth comete atos traiçoeiros para começar um reinado de sangue. Sem modernizar a linguagem do texto, mas reorganizando inteligentemente a ordem das cenas, Welles realiza uma versão fugindo da armadilha do 'teatro filmado'.
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