CULTURA
Carioca com sangue da PB, Luís Kiari estreia em CD mostrando versatilidade
Disco refinado de MPB, 'Três' conta com a participação especial do cantor e compositor Ivan Lins.
Publicado em 06/05/2015 às 6:00 | Atualizado em 09/02/2024 às 17:35
Cantor e compositor paraibano, Luís Kiari não é místico, nem adepto da numerologia. Mas batizou seu disco de estreia de Três (independente, R$ 30,00). “Três é um número que acontece na minha vida com muita frequência”, explica o músico, por telefone, do Rio de Janeiro, onde mora desde 2001.
“2001, por exemplo, é 2+1, que dá três. O cara que foi fazer meu primeiro site tinha três dedos em cada mão. Eu tive três namoradas que aniversariavam no dia 3… depois eu fui ver minha data de aniversário e a soma também dá três”, ilustra.
Nascido em Campina Grande, Kiari se mudou para o Rio com 19 anos, se uniu à “Turma da Varanda”, teve músicas gravadas pela varandista mais famosa da turma, Maria Gadú, e reúne, em seu primeiro CD, 13 das mais de 200 composições que escreveu até aqui.
O álbum foi financiado com a ajuda dos fãs através de uma campanha no Catarse e produzido com a colaboração de solícitos parceiros - do Daniel Gazolla, que fez a arte gráfica do CD, ao premiado Álvaro Alencar (vencedor de 13 Grammys), que mixou o disco em Nova York, passando pelo timaço de músicos que entraram no estúdio, nomes que vão de Marcos Suzano a Léo Gandelman, desaguando em ninguém menos que Ivan Lins, sob a produção de Léo Brandão.
A MPB contemporânea - gênero que abraça com afinco neste seu primeiro disco -, Kiari conheceu através dos irmãos (três, por sinal), todos cegos, que estudando em João Pessoa, não só levaram aos ouvidos do pequeno Luís, em Campina, a música de Djavan, Gilberto Gil, Marisa Monte, Geraldo Azevedo etc., como compartilharam com ele os ensinamentos no violão e outros instrumentos.
“Na música nordestina, um dos artistas que mais me inspira é o Geraldo Azevedo”, admite o músico.
Em Três, é possível ouvir a veia nordestina do paraibano no xote ‘A passarinha’ e no baião ‘Nosso carnaval’, mas ele diz que procurou fugir dessa linha.
“A gente (Kiari e o produtor Léo Brandão) não queria que o disco seguisse uma linha muito nordestina, afinal eu não sou um compositor de músicas nordestinas apenas, sou um compositor! Tenho de tudo, do baião ao samba”, comenta, explicando que a peneira começou com 50 músicas e terminou em 12.
O disco fecharia em duas dúzias se Álvaro Alencar não tivesse questionado Luís Kiari sobre a ausência da canção ‘Peço’. “Eu respondi pra ele que o arranjo não tinha ficado tão bom, por isso a gente acabou não gravando. Mas ele rebateu dizendo: uma música com mais de 100 mil acessos em menos de um ano não pode ser deixada de lado”, recorda o cantor.
E foi assim que uma nova gravação de ‘Peço’, tal qual está no YouTube, com as vozes de Luís Kiari e sua colega varandista Taís Alvarenga, acústica como se vê no vídeo, entrou como faixa bônus e derradeira do disco. Três dá pistas da versatilidade do rapaz que cresceu na roça, ouvindo repente, coco e embolada através do rádio AM do avô, mas chegou ao Estadual da Prata farejando MPB e disposto a seguir carreira no gênero.
Além do xote e do baião, o repertório de Luís Kiari viaja pela herança do Clube da Esquina (‘Ainda é cedo’), por uma pegada mais pop (‘Quando fui chuva’), por um rock com cara de Lenine (‘Rio que leva a tristeza'), pelo samba-choro 'Dentro de mim' e até o lamento sertanejo 'Sempre que eu canto, chove’, tudo gravado com muito requinte.
O disco também traz a famosa 'Linda rosa', que Gadú lançou em seu disco de estreia, Maria Gadú (2009). Parceria de Kiari com outro varandista, Gugu Peixoto, a canção ganhou andamento mais lento, conservando a presença do acordeom, marcante na gravação anterior.
PAPÉIS TROCADOS
‘Ainda é cedo’ é a cereja do bolo. Parceria inédita entre Kiari e Ivan Lins, a canção teve inspiração no episódio em que um jovem foi preso a um poste, no Rio de Janeiro, com uma trava de bicicleta e deixado lá completamente nu.
Tudo começou com um e-mail do paraibano convidando o músico carioca para participar do disco de estreia. “Ele me respondeu dizendo que ficou bastante emocionado com meu e-mail, que o fez lembrar da própria trajetória”, relembra Luís Kiari. “E essa emoção se juntou ao sentimento daquele episódio do garoto amarrado no poste, que mexeu muito com Ivan Lins e o levou a escrever a letra, que ofereceu pra mim e, claro, eu aceitei”.
O curioso nessa história é que os papéis acabaram invertidos: Ivan, que costuma musicar letras de parceiros, agora fornecia uma letra para Luís Kiari criar a melodia e os arranjos. Além disso, topou entrar em estúdio para gravar, com o anfitrião, a música feita pelos dois.
O álbum sai em CD com três formatos: o box especial (à venda em breve no site www.luiskiari.com.br), onde cada letra é impressa no verso de uma foto, escolhida através das redes sociais a partir da colaboração dos fãs (na primeira etapa foram mais de 300 imagens); o CD normal, e uma versão popular, com a capinha de papelão, sem encarte.
A equipe de produção do músico já trabalha para disponibilizar Três nos serviços de streaming (Spotify, Rdio, Deezer etc) e o paraibano é o artista do ‘Primeira Audição’ na Cabo Branco FM com ‘Quando fui chuva’, música que está sendo trabalhada esta semana na programação da rádio.
Em julho, Luís Kiari negocia o lançamento do seu primeiro disco na Paraíba. Quer confirmar shows em João Pessoa e Campina Grande, com a mesma banda que o acompanhou no Festival de Inverno, no ano passado.
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