CULTURA
Cem anos de Rosil Cavalcanti, compositor de 'Sebastiana' e outros clássicos
Relembrando o nascimento do compositor neste domingo, sobrinho fala sobre como era o autor de clássico da música nordestina.
Publicado em 20/12/2015 às 9:30
“Nós saíamos para pescar e as pessoas o reconheciam no meio do caminho. Davam milho, fava e até bode vivo. Ele agradecia, gentil, e dizia que não podia levar um bicho vivo pra casa”. O causo narrado por Paulo Afonso tem como protagonista seu tio Rosil Cavalcanti, um dos personagens mais importantes na história da música nordestina e ícone no entretenimento paraibano entre as décadas de 1940 e 60.
Os costumes do povo sertanejo eram bem conhecidos por Rosil, nascido há exatos cem anos numa pequena fazenda em Macaparana, Pernambuco. Cercado de açudes e engenhos, todo sentimento nordestino foi traduzido em sucessos do forró e baião como 'Sebastiana', 'Tropeiros da Borborema' e 'Forró na gafieira' e levados ao público por grandes intérpretes como Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga e Genival Lacerda.
Existem mais de 80 composições feitas por Rosil, mas nenhuma na sua voz. Microfone – para ele – só no rádio ou na televisão. Foi convidado por Jackson do Pandeiro nos anos 1940 para fazer parte da dupla de caipiras Café com Leite. Com o programa policial Radar, na Rádio Borborema, ganhou a fama de carrancudo por causa dos esculachos que dava em qualquer pessoa que fosse – do vizinho ao prefeito da cidade.
“Mas em casa era diferente. Uma coisa que me impressionava era a convivência dele com Nevinha, a esposa”, disse o sobrinho. “Era 'nego' pra um lado, 'nega' pra outro. Viviam grudados. Lembro que eu olhava e falava que, quando me casasse, queria que fosse assim, tudo com um amor e carinho muito grande”.
O 'pernambucano de Campina Grande' – como se autointitulava – morreu prematuramente, aos 52 anos, na 'Rainha da Borborema' e não teve filhos. Durante algum tempo, adotou o sobrinho e afilhado nesse posto. “Convivi com ele diariamente quando eu tinha 13 anos, até mais ou menos os 16. Ele me chamava para pescar e íamos para Baía da Traição, Carapibus... Pesco até hoje por influência dele”.
A paixão pela caça fez parte da identidade de Rosil, que se apelidava Zé da Lagoa quando assumia a persona de comediante em programas de entretenimento. “O programa de rádio era transmitido às sextas-feiras, então ele gravava no meio da semana para poder viajar na quinta ou sexta-feira e passar o final de semana pescando”, relembrou Afonso.
A vida de Rosil não era resumida aos ares bucólicos. “Ele ia para muitas festas e me levava para quase todas. Conheci muita gente nessa época. Nas reuniões que fazia no Clube Médico Campestre ou no Clube do Caçador, conheci artistas como Elba Ramalho e Genival Lacerda. Foi a época mais rica da minha vida”.
TUDO SOBRE O 'PERNAMBUCANO DE CG'
Em setembro deste ano, o paraibano Rômulo Nóbrega lançou, em conjunto com o pernambucano José Batista Alves, a biografia 'Andanças de Rosil Cavalvanti'. A falta de documentação de uma figura tão icônica foi o que levou o autor a ir em frente com essa pesquisa que durou 20 anos. “Rosil era uma pessoa de enorme importância no cenário nacional. Os maiores intérpretes do forró cantaram suas músicas: Zé Calixto, Gonzagão, Marinês... Entretanto, não existiam informações sobre o compositor nem no meio acadêmico”. A robusta biografia conta com mais de 450 páginas, preenchidas por 250 fotos, depoimentos de quase 100 entrevistados e minuciosos detalhes sobre a vida de Rosil, seja no lado profissional ou pessoal.
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