CULTURA
Chovendo canções novas
Músico paraibano Washington Espínola lança 'RainyMonday'; álbum equilibra canções e faixas instrumentais.
Publicado em 03/07/2014 às 6:00 | Atualizado em 05/02/2024 às 11:07
Da ensolarada João Pessoa, no Brasil, para a fria Genebra, na Suíça, onde mora há quase 20 anos, o músico Washington Espínola tira de uma manhã chuvosa de segunda-feira o hit de seu novo álbum, RainyMonday (independente), mais um disco do paraibano gravado na Europa.
A faixa que dá nome ao disco – o 15º de uma carreira iniciada ainda por aqui, com o lançamento de Manaíra, em 1992 - é quente como um bom hit. Se revezando entre a guitarra e os teclados, Washington encontra no espanhol Miguel Gregory (baixo) e no suíço Jean-Pierre Lehmann (bateria) a "cozinha" firme para sustentar os solos jazzísticos e a letra com sabor de crônica.
“Escrevi a letra como uma crônica mesmo, muito parecido com o que eu fiz em ‘Feelin' allright’ (faixa que dá nome ao disco de 2008). Isso até inspirou a capa, que é como uma história em quadrinhos”, comenta Washington, de sua casa, em Genebra, na Suíça, sobre o trabalho do amigo Roman Hranitzky, que usou uma técnica chamada rotoscopia em cima de fotos do músico.
Isso de soltar as amarras e abraçar a música pop sem preconceito tem sido um exercício constante desde que WE – como costuma assinar – resolveu soltar a voz e arriscar algumas letras em 2006, quando lançou G.R.U.E.. Mas em Rainy Monday encontra-se não só um músico mais firme, como mais diversificado. Aqui, o paraibano vai do rock ao jazz, passando por Beatles, Frank Zappa, música folk e acid jazz em repertório que equilibra canções e faixas instrumentais.
Fã de carteirinha dos Beatles, Washington nunca escondeu, em sua música, a sonoridade dos Fab Four – e aqui, o guitarrista George Harrison se faz bastante presente na bela ‘Dreamin’’. O mestre Frank Zappa (1940-1993), um ás da fusão do rock com jazz, funk, rock e experimentalismo, inspirou diretamente ‘Zappin’’. “Eu fiz essa música pensando em ShutUp 'n Play YerGuitar (1981)”, admite.
Mas a grande surpresa mesmo é a instrumental ‘Hippye&hoppe’, primeira incursão do músico nos samplers e teclados eletrônicos. “Era uma ideia que eu tinha faz tempo, desde os tempos de Le Saleve (2009), de usar essas bases programadas. Lá na escola onde eu dou aula, tem um teclado desses com samplers e tal e daí um dia, brincando com esse teclado, eu fui criando essa música”, explica. Dessa brincadeira, WE saiu com um bem azeitado acid-funk-jazz, com muito solo de guitarra.
Aqui também ele experimenta, pela primeira vez, cantar em italiano. Trata-se de ‘Petit pleur’, cuja letra foi extraída do poema de um aluno seu na Escola Internacional de Música de Genebra, onde ele dá aulas. “Foi a primeira vez que eu cantei em italiano sim”, confirma. “Já cantei em grego, uns versos em russo e francês, e agora em italiano”, acrescenta Washington, cujas canções, em sua maioria, são em inglês.
Mas vez ou outra, surge uma canção em português. ‘Tapete’ não só tem letra na língua materna do paraibano, como é inspirada em João Pessoa. “O tapete cor de rosa, de que fala a letra, são as flores do jambeiro que caem no chão”, explica.
“Tatuí cavando areia, algodão doce, tudo aquilo fala de João Pessoa, da minha saudade pela cidade”.
A canção é bela. Voz e violão são pontuados pelo acordeom do holandês Kees Engelbarts. “Eu sabia que queria um arranjo delicado, só voz e violão e, no máximo, um violino ou acordeom.
Daí optei pelo acordeom, por ser mais delicado”, explica, lembrando que ele já mostrou ‘Tapete’ aqui em João Pessoa, quando passou pela cidade em 2012 e fez um show no Chopp Time. “Eu tinha acabado de compor ‘Tapete’ e acabamos por gravar aquele show, então a primeira gravação dela foi, na verdade, ao vivo”, revela.
Com 16 faixas, o disco lançado originalmente em 2013 segue em ritmo de lançamento. O músico, inclusive, faz planos de lançá-lo por aqui em agosto, quando pensa em dar um pulo até João Pessoa para promover alguns shows com o novo repertório.
Washington Espínola também pensa em passar uma temporada em Londres, na Inglaterra, com vistas a deslanchar sua carreira na Europa.
“Mesmo com as facilidades da internet, se você quer realmente acontecer, tem que ir para Nova York, Los Angeles ou Londres”, comenta. “Vou chegar lá com o Greatest Hits (coletânea dupla lançada em 2012) e esse novo trabalho, que considero um trabalho mais abrangente. Então eu vou lá com esses dois discos tentar chegar às mãos de um produtor. Quem sabe?!”, torce o músico paraibano.
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