CULTURA
Cientista social lança livro sobre poder político familiar
José Marciano diz que , na Paraíba, o poder político e econômico se aglutina em menos de 20 famílias.
Publicado em 28/08/2018 às 9:53 | Atualizado em 28/08/2018 às 14:02
Nesta terça-feira, às 19h, o Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, sediará o lançamento do livro “A Política como Negócio de Família – para uma sociologia das elites e do poder político familiar”, de autoria do professor José Marciano Monteiro. A obra decorre de uma pesquisa do docente, que resultou na defesa da tese junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). A entrada é gratuita. Ele sustenta que , na Paraíba, o poder político e econômico se aglutina historicamente em pouco menos de 20 famílias.
Para José Marciano, o Estado brasileiro, em sua configuração histórica, está longe de se constituir em um Estado Democrático de Direito. “No mundo prático, trata-se de um Estado Oligárquico de Direito. Digo oligárquico porque o poder político, midiático e econômico se concentra nas mãos de poucas famílias. A título de exemplo, em um país de dimensões continentais como o nosso, apenas seis famílias controlam os principais meios de comunicação. Essa lógica se perpetua nos estados e municípios. Trazendo para a nossa realidade, na Paraíba o poder político e econômico se aglutina historicamente em pouco menos de 20 famílias”, revelou.
Recorte da história
Publicado pela Editora LiberArs, o livro faz um recorte na história da Paraíba no período de 1985 a 2015, a partir do entrelaçamento da política e do poder familiar, evidenciando os efeitos provocados por esse vínculo. “É um fenômeno que coloca em xeque o próprio sentido e significado da palavra república, tendo em vista que os recursos do Estado são, em grande medida, drenados para poucos e privilegiados grupos que passam a se constituir e operacionalizar em configurações de castas, formando verdadeiras dinastias no poder, algo que é pouco republicano e menos ainda democrático", explica Marciano.
O autor acrescenta que "são famílias que controlam partidos políticos, mídias, atuam em tribunais de contas, tribunais de justiça, cartórios, e, por consequência, em instituições no mercado, operando em setores produtivos como a construção civil, através das construtoras, bem como em setores improdutivos, atuando e investindo em bolsas de valores e movimentando vultosos recursos em capital financeiro. Nesse sentido, constatamos que estas famílias do poder se reproduzem em todos os estados da federação, sem exceção. Em alguns, claro, isso ocorre de maneira mais expressiva que em outros”, aponta.
Sobrenome
José Marciano ressaltou que o nome da família e o sobrenome funcionam como distintivo, ou seja, elementos diferenciadores dos grupos sociais. “A depender do uso e da conjuntura política, fazer parte de uma destas famílias é estratégico para a criação de novos tipos de capitais. Uma coisa é alguém ser candidato e não pertencer a uma destas famílias, se não possuir um capital social amplo, as chamadas redes de relações duráveis, muito dificilmente será reconhecido pelo eleitor. Quem pertence a estas famílias, nas disputas, passa a ter um capital de notoriedade maior. Estas famílias do poder possuem um capital que também é simbólico, um capital específico, que é o capital político familiar. Este capital se traduz num acúmulo histórico de relações sociais que se materializam no nome, no sobrenome (o que permite a especificidade capital de notoriedade – ser conhecido, tornar-se conhecido) e nos mais variados espaços e instituições”, disse.
O contribuinte paga
Conforme o autor, para se ter uma ideia sobre a centralização de poder e riqueza, bem como acerca da formação destas “elites do privilégio”, basta observarmos que se uma destas famílias, com 10 parentes apenas, ocupando cargos eletivos e de comando no aparelho de Estado, ultrapassarem o teto constitucional, sendo que muitos ultrapassam, segundo acrescentou, através dos auxílios e das benesses que recebem, teremos R$340 mil saindo do bolso do contribuinte para custear as regalias desta elite.
“Isto se tomarmos como parâmetro o teto constitucional, ou seja, aproximadamente R$34 mil em termos de pagamento de salários. Muitos afirmarão não receberem este valor. Mas, se incluirmos todas as vantagens que ganham, verificaremos que são contemplados com muito mais. Seguindo o raciocínio, em apenas um ano, incluindo décimo terceiro, o referido círculo de 10 parentes terá dos cofres públicos aproximadamente R$4,5 milhões. Em quatro anos, serão cerca de R$18 milhões para o pagamento deste pequeno núcleo familiar”, explicou.
Para José Marciano, esse formato de Estado composto pela formação de castas, nepotismos e privilégios que desaguam em práticas as mais diversas e pouco louváveis, como clientelismo, patronagem e empreguismo, deve ser abolido. “O problema é que estas castas, por controlarem partidos e várias outras instituições, mantêm uma rede de relações e de dominação histórica com as camadas mais necessitadas da população e, assim, instauram e perpetuam lógicas de dominação simbólica e material. A concentração nepótica de poder compõe redes de dominação que se expandem por uma pluralidade de instituições, que, por sua vez, alimentam e sustentam os modos contemporâneos de dependência, estabelecidos a partir da estrutura desigual existente na sociedade brasileira”, finalizou.
Mais sobre o autor
José Marciano Monteiro nasceu em Queimadas (PB). É doutor em Ciências Sociais, graduado em Filosofia (UEPB), Ciências Sociais (UFCG) e bacharelando em Direito (UEPB). Atualmente, é professor Adjunto II da Universidade Federal de Campina Grande. Também é coordenador do Núcleo de Estudos sobre Elites, Famílias e Desigualdades (Nefade), membro do Núcleo de Estudo Paranaense (NEP) e do Laboratório de Estudos Culturais, Mídia e Política (Lecmipo).
Serviço
O quê: Lançamento do livro “A Política como Negócio de Família – para uma sociologia das elites e do poder político familiar”, de José Marciano Monteiro
Quando: Terça-feira (28/08/18)
Hora: 19h
Onde: Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), às margens do Açude Velho, em Campina
Grande.
Entrada: Gratuita
Outras informações: (83) 3310-9738
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