CULTURA
Clarice Lispector inspira ‘Fantástico’
Publicado em 20/10/2013 às 6:00 | Atualizado em 18/04/2023 às 17:19
Em 1950, é inaugurada a primeira emissora de televisão brasileira e também a primeira da América Latina, a TV Tupi (canal 4), em São Paulo. É um momento de pós-Guerra, e uma nova forma de consumo começa a se revelar. No começo dos anos 60, aflora a segunda onda do movimento feminista, que se preocupa, principalmente, com questões de igualdade e o fim da discriminação. É nesse contexto histórico, entre o final da década de 50 e o início da década de 60, que Clarice Lispector, morando no Leme, Rio de Janeiro, e criando seus dois filhos, escreve para uma página feminina do Correio da Manhã, sob o pseudônimo de Helen Palmer.
“Sabemos que existia um contexto específico daquela época, e a Clarice tinha que seguir a encomenda, dentro de certos limites. Ela constrói um personagem, tanto que nem assina com o nome dela, o que dava mais liberdade para escrever algo diferente de seu trabalho autoral. Eu li outros consultórios sentimentais e colunas femininas e têm muitas coisas em comum, mas a Clarice traz algumas ironias e brinca com as situações porque ela é a Clarice, né? Eu procurei pensar nesses almanaques e priorizei o reflexo fiel da época e valorizei o que tem de particular e pessoal no olhar da Clarice. Se você mira na Helen, pode acabar na Clarice e vice-versa”, explica Maria Camargo.
Em ‘Correio Feminino’, série que estreia no próximo domingo no ‘Fantástico’, Maria Fernanda Cândido é Helen Palmer, pseudônimo de Clarice Lispector, e é ela quem narra todos os episódios – nunca aparece de frente, apenas em pedaços. Na adaptação, ela é apresentadora de um programa de rádio e TV e sua voz representa uma figura afetuosa, sempre pronta a socorrer leitoras aflitas. Helen Palmer, ao contrário da própria Clarice, se expressava de forma coloquial e direta, cúmplice. Mas quando a máscara escorrega pelo rosto de Helen, é possível avistar Clarice.
Na série, Helen se relaciona com uma representação de três gerações de mulheres: a top model Cintia Dicker é a “adolescente”; a ex-modelo Luiza Brunet, a “mulher madura”; e a atriz Alessandra Maestrini, a “mulher jovem”. Elas simbolizam as várias facetas do feminino e vão dialogar com a narrativa em off de Helen Palmer, sem se encontrarem.
“Quando eu imaginei a série, não sabia exatamente que formato teria. Foi uma ideia que girou na minha cabeça por alguns anos e, só depois de muito tempo, chamei a Maria Camargo para escrever. Era interessante pensar a partir de uma máscara da Clarice: Helen Palmer, que, no meu modo de sentir, é em si mais que um pseudônimo. Na máscara, percebemos a própria Clarice escoando pelas frestas, nas entrelinhas. E esse desenho a Maria Fernanda Cândido descreveu, percorrendo o trajeto entre Clarice e Helen Palmer com cumplicidade. Não fez simplesmente uma voz, uma narração, muito ao contrário, ela encarnou um jogo duplo, essa coisa híbrida que é a Helen Palmer”, descreve Carvalho.
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