CULTURA
Contador de brasilidades
Quadrinista carioca André Diniz participa de noite de autógrafos na gibiteria Comic House, em Tambaú.
Publicado em 24/11/2012 às 6:00
Dono de um traço extremamente estilizado e ao mesmo tempo personalizado como uma impressão digital, o quadrinista carioca André Diniz rabiscará suas obras neste sábado, em noite de autógrafos na gibiteria Comic House, localizada no bairro de Tambaú, em João Pessoa.
'Obras' porque Diniz atualmente é o quadrinista mais prolífero do país. Em pouco mais de três anos, lançou no mercado álbuns como O Quilombo Orum Aiê, Morro da Favela, A Cachoeira de Paulo Afonso, Ato 5 e Mwindo. A qualidade – tanto gráfica quanto textual – não decai perante a quantidade produzida pelo roteirista e desenhista.
"Sou inquieto. Faço sempre mais de um projeto ao mesmo tempo", afirma o autor ao JORNAL DA PARAÍBA, que revela sofrer de uma tendinite devido ao esforço criativo. "Quando estou trabalhando em cima de uma HQ, esboço a ideia de outra, tomo notas e continuo".
Entre seus trabalhos, um dos mais recentes é O Negrinho do Pastoreio (Ygarapé), adaptação que conta com a colorização de sua esposa, Marcela Mannheimer, e nasceu de forma curiosa e às avessas do convencional. "Geralmente a gente faz as coisas que gosta, mas eu peguei a lenda porque não gostei dela", confessa. "Aos olhos de hoje acho muito preconceituoso, relativizando as coisas da época. Ele não tinha nome, era submisso e sempre apanhava e apanhava".
Assim como outros de seus protagonistas em outras releituras ou criações, o personagem principal de O Negrinho do Pastoreio despe as vestes de 'coitado' e calça personalidade e iniciativa. "Com um protagonista ativo, conduzir a história é mais interessante", reflete. "É um exercício. Indo para outro caminho, a história ganha personalidade".
'O IDIOTA' CALADO
Tão personalizado quanto o traço estilizado do conterrâneo Flavio Colin (1930-2002), a arte de André Diniz está começando a ganhar o mundo, invadindo o Velho Continente.
O álbum Morro da Favela foi lançado em junho deste ano na França e na Inglaterra. A HQ relata a história da 1ª favela brasileira, nascida em 1897, no Rio de Janeiro, pela perspectiva do renomado fotógrafo (e morador) Maurício Hora.
De acordo com o quadrinista, essa foi uma oportunidade de realizar o sonho de conhecer a Europa e estreitar contatos com artistas e editoras.
O projeto que está tomando seu tempo atualmente é grandioso: adaptar para os quadrinhos, sem o uso do texto, O Idiota, clássico da literatura mundial de Dostoiévski (1821-1881). “Eu fiquei apaixonado, mas não é uma adaptação convencional", alerta. "O livro é muito verborrágico, mas decidi fazer o caminho oposto".
Com previsão de ter 300 páginas (das quais já fez 80), André Diniz contorna a releitura com o desafio de ser independente, não tendo a 'muleta' da obra original, e, ao mesmo tempo, não substituir o livro.
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