CULTURA
De corpo e alma
Atriz Clarice Niskier, apresenta o monólogo 'A Alma Imoral' nesta quarta (26) e quinta-feira (27) no Teatro Santa Roza.
Publicado em 26/09/2012 às 6:00
Muita coisa se passou na carreira de Clarice Niskier desde que A Alma Imoral estreou no Rio de Janeiro, em 2006. A caminho de João Pessoa, onde interpreta o monólogo hoje e amanhã, às 20h, no Teatro Santa Roza, a atriz reflete, porém, que nada parece ter mudado: "A peça não se esgota, está sempre viva.
Estou indo agora pegar um avião para apresentá-la e é como se estivesse fazendo isso pela primeira vez".
Shell de melhor atriz em 2007, vencedora de outros quatro prêmios por um desempenho visto em dez estados brasileiros, por 140 mil pessoas, Niskier atribui o sucesso do espetáculo, dirigido por ela com a supervisão de Amir Haddad, a uma conjunção de fatores que começaram a atuar quando ela se trancou por dois anos em um apartamento, debruçada na adaptação do livro homônimo do rabino Nilton Bonder.
"O sucesso se deve não só à maneira como a gente produz (ela e José Maria Braga, autor também da música original) como ao reconhecimento do público do conteúdo da peça: um conteúdo com muita substância para reflexão e que vem de um conhecimento que eu posso dizer que é eterno, de uma fonte de sabedoria atemporal", avalia a atriz.
Segundo ela, a versão do texto que estreou nos palcos e que agora chega à Paraíba é o 16º tratamento do original, fruto de sessões de trabalhos que costumavam durar de 12 a 14 horas por dia: "Não diria que tive dificuldade em adaptar a obra, mas tive que estudar muito e fazer várias leituras, para diferentes públicos, até chegar à síntese do texto. Fiz tudo com muita paixão e certeza do que fazer".
Para Niskier, a "generosidade" de Nilton Bonder, que lhe deixou "muito à vontade" no processo de criação, foi fundamental para que a adaptação alcançasse os resultados desejados: "Ele admitiu o status autônomo do teatro diante da literatura e deixou que eu colocasse toda a minha intuição feminina no texto. Eu tive que deixar aflorar toda esta intuição para que a voz de uma mulher fizesse mais sentido dentro das reflexões feitas por um homem e, mais além: um rabino".
A opção pelo monólogo surgiu por uma demanda do próprio livro ou, nas palavras de Niskier, por uma "vocação" que ela tem para este tipo de disciplina: "Para mim, é uma coisa natural trabalhar tanto sozinha quanto em grupo. Durante esta peça, eu conduzi alguns projetos paralelos e cheguei a contracenar com um elenco de até 15 atores".
Clarice Niskier refere-se a Maria Stuart (2009), peça de três horas de duração que encarou duelando com Julia Lemmertz no papel-título. Sem contar as telenovelas de que participou neste ínterim, Niskier ainda se incursionou na adaptação de seu livro O Lugar Escuro (Objetiva, 2007) para o tablado. A leitura dramática do texto, feita em São Paulo no ano passado, contou com a presença das atrizes Fernanda Montenegro e Laila Zaid.
Esteve em cartaz também com Bonitinha Mas Ordinária, que fez parte da programação carioca em homenagem ao centenário de Nelson Rodrigues no mês passado.
O monólogo, entretanto, parece ter realmente fisgado a atriz. Ela avisa que está trabalhando em outros dois textos do gênero: uma peça da autoria da canadense Jennifer Tremblay e outra do francês Georges Perec.
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