CULTURA
Dedo na polêmica: artistas defendem performance que causou rebuliço
Espetáculo que aborda a exploração do corpo participou da 17ª edição da Mostra Sesc Cariri de Culturas.
Publicado em 24/11/2015 às 9:00
Apesar de ter sido criada há quatro anos – a partir de leituras do livro O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro (1922-1997) – a performance Macaquinhos virou assunto e alvo de polêmicas nas redes sociais no final de semana.
O espetáculo que aborda a exploração do corpo, mais especificamente o ânus dos atores, participou da 17ª edição da Mostra Sesc Cariri de Culturas, realizada na semana passada, no Ceará. O resultado foi uma onda de comentários surfados na internet que vão desde acusações da montagem ser uma “ofensa travestida de arte”, até o questionamento do uso de dinheiro público para viabilizar o espetáculo - a apresentação foi financiada através do Sistema S.
“Ora, para a criação artística não se deve impor limites moralistas. No caso do espetáculo em questão, vai quem quer. Assiste quem paga para isso. Qual o problema?”, postou no seu perfil pessoal no Facebook o Secretário de Cultura da Paraíba, Lau Siqueira.
O próprio Sesc chegou a divulgar uma nota de esclarecimento, apontando que “cumpre o seu dever de incentivar o fazer artístico respeitando a pluralidade e a formação crítica e autônoma do ser”. O texto ainda explica que todas as informações foram oferecidas ao público, inclusive a classificação de 18 anos.
Com a concepção dos artistas Caio Cesar, Mavi Veloso e Yang Dallas, Macaquinhos tem a performance e criação de Ana Carolina Pires, Andrez Ghizze, Fernanda Vinhas, Luiz Gustavo Fernandes Lopes, Rafael Amambahy, Teresa Moura Neves e Yuri Tripodi, além de Cesar e Veloso.
“Propomos o c* como metáfora do sul do corpo, a ideia de 'sul' trazida pelo sociólogo Boaventura de Sousa Santos”, comenta o grupo, em resposta coletiva ao JORNAL DA PARAÍBA. “O sul que é deslegitimado, renegado e segregado da sociedade que segue os padrões do 'norte', pautado pelo capitalismo, o colonialismo e o patriarcado. Nosso desafio nesse trabalho é investigar as possibilidades da epistemologia do sul, ou seja, outros tipos de conhecimentos que não sejam os normatizantes”.
O ator paraibano Everaldo Pontes confessa que não chegou a ver a performance, mas tomou conhecimento da polêmica. “Nós estamos diante de um preconceito e ditadura religiosa que vivemos hoje no Brasil”, aponta. “As grandes peças do grande Zé Celso Martinez Corrêa tem c*, r***, b*****, peitos e até convida a plateia a ficar nua. Se a pessoa bate tambor no quintal de casa, vira macumbeiro! É uma hipocrisia!”, completa.
DESPEDAÇADA NA REDE
Os artistas falam que o objetivo não é chocar o público, algo que aconteceu em virtude de terem sido colocadas imagens descontextualizadas do espetáculo na internet.
“Acreditamos na urgência dos temas que abordamos e que isso pode afetar radicalmente algumas pessoas”, comentam os integrantes. “O material que circula na internet são fragmentos do trabalho que não exprimem a apresentação em si e, desprendidos do seu contexto real, acabam incitando outras interpretações. Durante a performance, percebemos um ambiente de generosidade e cuidado que não acontece quando a informação vem despedaçada pela rede”.
O coletivo de artistas afirma que reconhece a nudez e o próprio corpo humano, de um modo geral, como tabus na sociedade em que todos nós fazemos e vivemos. “Como Macaquinhos aborda uma parte subestimada do corpo humano – e para isso lida necessariamente com a nudez – é de se esperar reações de cunho mais conservador”.
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